Mais de uma semana após o resultado das eleições, em que mais de 60 milhões de brasileiros elegeram, pela terceira vez, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República, o mundo político já começa a calcular as perdas e os ganhos, de olho na articulação de 2023. Enquanto isso, os agentes econômicos seguem atentos às movimentações no Planalto, mesmo que as projeções para o próximo ano permaneçam uma incógnita.
“A vitória do ex-presidente Lula encerra, pelo menos do ponto de vista político, um ciclo que o Brasil viveu, que começa no governo Temer e vai até agora no fim do governo Bolsonaro, que é um modelo econômico baseado em reformas. Reformas que tendam a aumentar o dinamismo do ambiente de negócios, reduzir a burocratização, reduzir a presença do Estado na economia, buscando investimento privado para os serviços públicos. Então, esse modelo de desenvolvimento que o Brasil vive desde 2016, com o governo Temer, me parece que, sim, possa estar encerrado, e nós temos o início de um novo modelo de desenvolvimento”, explica o economista Leonardo Neves, professor-doutor da UFJF-GV.
A expectativa para de fato saber como Lula irá se posicionar frente à questão econômica tem gerado incertezas por parte dos investidores no país, que ainda não viram no futuro presidente um sinal de continuação de políticas econômicas menos intervencionistas. Por outro lado, a vitória do petista, no último domingo (31), foi encarada com otimismo pelo mercado exterior, que vê em Lula uma postura mais aberta às questões do meio ambiente.
“Não sabemos ainda qual será [o modelo econômico], porque, por enquanto, o presidente eleito não apresentou nenhum sinal. Esse modelo pode ser como ele mesmo fizera no passado, quando assumiu em 2003 e durante três anos, sob a gestão [Antônio] Palocci, manteve as mesmas diretrizes básicas macroeconômicas que o governo Fernando Henrique deixara. Porém, depois tivemos o início da chamada nova matriz macroeconômica, um modelo de crescimento baseado na absorção de capital externo e com forte presença do Estado no impulso à economia”, avalia Neves.
A situação fica ainda mais complexa quando se leva em consideração as promessas que Lula fez durante a campanha eleitoral, com impactos bastante expressivos no orçamento da União em 2023: manter o atual valor do Auxílio Brasil em R$ 600 (mais um acréscimo de R$ 150), reajustar o salário mínimo acima da inflação, alterar a regra do Imposto de Renda e renegociar as dívidas dos inadimplentes. Esses são apenas alguns dos desafios que aguardam o futuro governo Lula, que também terá que lidar com a dívida pública e um Congresso Nacional mais inclinado para o conservadorismo. Missão difícil para qualquer que seja o perfil a ser escolhido para se sentar na cadeira de Ministro da Fazenda.















