LEONARDO VIECELI (FOLHAPRESS) – Carnes, alimentos diversos, combustíveis e passagem aérea. Esses são alguns exemplos de itens que ilustram a disparada de preços sentida pelos brasileiros durante a pandemia de covid-19.
O cenário é retratado por um levantamento do economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a pedido da Folha de S.Paulo.
Para analisar a escalada da inflação, o pesquisador utilizou resultados do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) verificados ao longo da crise sanitária, entre fevereiro de 2020 e setembro de 2021.
A pesquisa, realizada pelo FGV Ibre, contempla sete capitais: São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre. De fevereiro de 2020 a setembro de 2021, o IPC teve variação de 11,59% em termos gerais.
No recorte por grupos, chama atenção o aumento maior e disseminado por alimentos frequentemente usados em churrascos e festas.
Carnes bovinas (35,31%), frango em pedaços (32,62%), frango inteiro (28,21%) e carnes suínas (25,26%), por exemplo, dispararam com a demanda aquecida no mercado internacional.
Além disso, insumos usados na criação de animais, como o milho (base para rações), também ficaram mais caros. Assim, acabam gerando uma pressão adicional para os preços finais da proteína animal.
“As carnes estão entre os vilões na pandemia. Muitos brasileiros cortaram o consumo, outros infelizmente passaram a buscar ossos para alimentação. Isso sinaliza o quão difícil está o acesso a esses produtos”, analisa Braz. Como muitos ossos têm restos de carne, eles são fervidos e utilizados para complementar a refeição.
Os preços de outros alimentos frequentemente relacionados a festas e confraternizações, como salsicha e salsichão (30,65%), milho em conserva (23,66%), milho de pipoca (21,1%) e bolo pronto (14,61%), também ficaram mais altos na pandemia.
Braz ainda chama atenção para a disparada nos valores de itens necessários para passeios e viagens.
Nesse grupo, o destaque é a passagem aérea nacional, que acumulou alta de 65% pelo IPC entre fevereiro de 2020 e setembro de 2021. O avanço, diz o pesquisador, ganhou força nos últimos meses.
“A passagem aérea subiu muito com a pressão do querosene de aviação mais caro. Além disso, a demanda por voos está aumentando. Quem tem condições de viajar está interessado.”
Dentro do grupo de passeios e viagens, outros destaques são os combustíveis. O etanol subiu 41,43%, e a gasolina, 32,19%.
Os avanços estão relacionados ao dólar mais alto e à recuperação do petróleo no mercado internacional. Os dois fatores servem como parâmetro para a Petrobras definir o valor dos combustíveis em suas refinarias.
A estatal, aliás, anunciou nesta sexta-feira (8) aumentos de 7,2% nos preços da gasolina e do gás de cozinha.
No levantamento de Braz, o grupo que registra altas menores nos preços do que o IPC, em termos gerais, é o de refeição fora de casa. No segmento, o avanço foi de 7,43% em bares e lanchonetes e de 7,07% em restaurantes.
Com a chegada da pandemia, essas atividades sofreram bastante e registraram forte queda na demanda. Agora, tentam reação no embalo da vacinação contra a covid-19 e das restrições menores.