Por fora feliz, por dentro socorro – Uma análise psicológica

FOTO:Divulgação

Como proposto no artigo anterior (Por fora feliz, por dentro socorro – Uma construção social), publicado nesta coluna no mês passado, no artigo de hoje continuaremos com essa mesma temática, contudo, apontando uma abordagem psicológica do indivíduo que se mostra muito feliz, mas por dentro está um desastre.

Um ponto muito importante que precisamos salientar é que não significa que as pessoas que estão muito tristes ou depressivas têm de ficar expondo suas dores e queixas durante todo o tempo com qualquer pessoa. Além de ser algo desnecessário, demonstra uma falta de cuidado, através da exposição pessoal, e transmite uma ideia de pessimismo e vitimização.

A este fenômeno de pessoas que não estão nada bem, mas ficam o tempo todo se mostrando totalmente felizes, dá-se o nome de “depressão sorridente”. Estudos apontam que 71% das pessoas que têm depressão decidem ocultá-la por vários motivos; têm vergonha de expor a sua doença, não querem que o familiar ou amigo mais próximo sofra por elas, têm resistência em admitir que têm depressão, têm uma preocupação excessiva com sua imagem, entre outras questões.

Não podemos deixar de analisar que a depressão pode se manifestar com sintomas variados e nem sempre eles são tão evidentes; há alguns que podem ser confundidos por profissionais muito experientes quando aliados a outros. Sintomas como cansaço, indiferença ao afeto alheio, alimentação fora do padrão usual, perda do prazer nas atividades que antes gostava, oscilação de humor e constante sensação de estar sendo pressionado, quando somados a outros sintomas, podem ter diagnóstico de outras doenças. Isso tudo dificulta a autopercepção de uma possível depressão.

Existem três comportamentos muito comuns entre os depressivos sorridentes. Há casos em que o indivíduo costuma apresentar os três ao mesmo tempo.

Vícios – O indivíduo busca as drogas como forma de alterar a realidade percebida que, por alguma razão, tornou-se muito pesada. O primeiro impacto causado pelo uso das drogas é muito aliviador, sem contar que há drogas específicas, para trazer sensações de felicidade. O que muitos não percebem é que este é um comportamento altamente destrutivo. Mesmo sendo uma droga sintética e aparentemente inofensiva, ela é a porta de entrada para um comportamento de dependência e, no mínimo, traz resultados nada agradáveis após seu uso. A sensação inicial, que era de alívio, torna-se mais um problema para a vida do depressivo, que é a dependência química.

Excesso de trabalho – Moralmente, a devoção ao trabalho como forma alívio de dor é muito mais aceita do que as drogas, e isso é compreensível, de certo modo, quando pensamos no impacto das drogas na vida da pessoa e do não financiamento do narcotráfico. Contudo, isso não deixa de ser um grande problema. Por ser um comportamento de fuga socialmente aceito, é muito difícil de ser percebido, pois no dia a dia as pessoas vão elogiar, estimulando este padrão de comportamento: “fulano” é muito trabalhador, aprenda com ele, por isso tem o que tem. Isso só reforça a continuidade desta autossabotagem através da fuga da dor, e, quando for perceber, já está no mais alto quadro de depressão, além de ter desestruturado sua família, amigos e vida social, que foram todos para o ar, afinal, não houve quase nada de dedicação a esses vínculos, por ter se dedicado em excesso ao trabalho como única forma de alívio da depressão, trabalhou tanto que não percebeu que já estava doente há tempos.

Internet – A internet, aliada às redes sociais, é muito sedutora a essas pessoas que tendem a negar seu estado depressivo. Vários são os fatores que facilitam essa situação, como: acessibilidade muito fácil, aliada a inúmeros recursos digitais que estimulam a fantasia (vão de jogos, redes sociais à pornografia). Observe que todos esses recursos trazem a possibilidade de viver num mundo diferente, construindo uma autoimagem elevada, e isso é um prato cheio para quem precisa fugir da sua dor. Essa mistura pode ser terrível. Já atendi vários jovens e adultos que estiveram na ponta de verdadeiros surtos. Ficaram vários dias trancados no quarto, vivendo um mundo digital paralelo, contudo, sentindo um grande vazio existencial. E o resultado dessa mistura pode ser devastador.

Nós precisamos compreender que a vida é cheia de altos e baixos. Decidir ser feliz com as dificuldades da vida é uma das decisões mais difíceis que podemos tomar; e não necessariamente decidir ser feliz significa estar feliz em todos momentos, isso realmente é negação da dor. Decidir ser feliz é aceitar a dor e compreender o papel que ela tem em nossas vidas na promoção do aprendizado e da felicidade. As pessoas que vivem a depressão sorridente vivem um estado total de negação da sua dor, ela só não sabe que a aceitação desta dor é o primeiro passo para cura. Somente aceitando sua condição terá possibilidade de buscar uma ajuda e mudar sua condição de vida para viver melhor. Pense nisto!

Espero que a leitura deste artigo tenha lhe ajudado. Aproveite e mostre a um amigo que necessita de uma leitura mais apropriada ao problema que esteja passando. Caso queira contribuir com críticas ou sugestões a esta coluna de comportamento escrita por Leonardo Sandro Vieira, é só contactar pelo 33-98818-6858 ou 3203-8784 ou pelo e-mail: leosavieira@gmail.com.

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