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Pandemia e dólar alto fazem brasileiros desistirem de viver na Flórida

Com a pandemia de coronavírus e a desvalorização do real, o sonho de viver nos Estados Unidos pesou no bolso de empresários brasileiros que haviam se mudado para passar temporadas prolongadas na Flórida.

Na contramão do que acontecia até 2019, firmas de mudanças internacionais, como a IMT Logistics, observaram aumento de 60% no fluxo de retorno ao Brasil. Tiago Moreira, presidente da empresa, lembra que “era moda passar um sabático nos EUA com renda em real e visto de estudante”. “Hoje já não ocorre mais.”

Segundo Moreira, esse movimento, iniciado no primeiro semestre de 2020, é liderado por empresários na faixa etária de 45 a 55 anos que foram aos EUA com a família para “realizar o sonho de viver na América”.

Com as restrições impostas devido ao vírus e a alta do dólar, que valorizou quase 30% em relação ao real em 2020 –de R$ 4,014 ao fim de 2019 para R$ 5,189 no mesmo período no ano passado–, ficou caro manter o padrão de vida em regiões nobres de Miami, como Brickell e a ilha de Key Biscayne.

Jacob Abdala, dono da imobiliária Legacy Plus Realty, confirma o movimento. “São pequenos empresários que calcularam um gasto de cerca de US$ 20 mil por mês, o que iria custar entre R$ 80 mil e R$ 90 mil. Só que isso passou para R$ 120 mil ou até mais, e a conta deixou de fechar.”

O orçamento ficou tão pesado para essa parcela que até a mudança de volta ao Brasil sofreu alterações.

Moreira conta que, em tempos normais, clientes costumavam optar pela mudança exclusiva, com custo entre US$ 12 mil (R$ 65 mil, na cotação desta sexta, 30) e US$ 20 mil (R$ 108 mil), mas, agora, a modalidade compartilhada, de US$ 6.000 (R$ 32 mil) a US$ 10 mil (R$ 54 mil), tornou-se a favorita.

Há também outro movimento em ascensão entre os empresários brasileiros: o de se desfazer dos imóveis nos EUA, principalmente na Flórida. Em 2019, apenas 20% dos clientes brasileiros da imobiliária de Abdala manifestavam esse desejo. Em 2020, o índice subiu para 50% e, hoje, 70% dos proprietários querem vender.

Até então, os brasileiros eram, em sua grande maioria, conhecidos pelo interesse na aquisição, ocupando o segundo lugar no ranking dos compradores de imóveis no estado, de acordo com relatório da Florida Realtors, associação de empresas do ramo imobiliário, publicado em fevereiro de 2021.

Na Elite Internacional Realty, que também atua na Flórida, o cenário é o mesmo: durante o ano de 2020, 60% dos brasileiros venderam suas propriedades. O súbito interesse é movido por uma série de fatores: a falta de uso dos imóveis devido às restrições de viagens impostas pela pandemia, a repatriação do dinheiro para aproveitar a alta do dólar e o mercado local, aquecido por migrações do norte para o sul do país, que tornou o momento de obter lucro ainda mais oportuno.

“Metade levou o dinheiro, e a outra metade deixou o dinheiro nos EUA”, afirma Daniel Ickowicz, diretor da Elite. Abdala diz que a parcela interessada em repatriar o lucro entre os seus clientes é ainda maior: 70%.

A venda dos imóveis aqueceu os negócios da IMT, que no segundo semestre de 2020 aumentou em cinco vezes o número de galpões de armazenamento para conseguir guardar os pertences da clientela que se desfez de casas e apartamentos no sul da Flórida.

“No primeiro semestre de 2020, o trabalho foi tirar e despachar, no segundo, a principal demanda era armazenar”, diz Moreira, que viu o faturamento da empresa crescer em quase 50% em relação a 2019, mesmo que o número de mudanças do Brasil para os EUA tenha despencado em 70% no ano passado.

Um dos brasileiros que contrataram os serviços de mudança para o Brasil, um administrador de empresas que pediu para não ser identificado, diz ter aproveitado o capital da venda do imóvel para investir nos dois países e, devido ao fato de o Brasil estar muito mais barato que os EUA, optou por voltar a São Paulo.

Ele, que morou por oito anos na região de Miami, investe no ramo imobiliário e planeja transformar o lucro obtido em real para dólar na esperança de que a moeda americana volte a baixar “em um ou dois anos”.

Essa esperança também é alimentada por outros brasileiros que cultivam o sonho de viver nos EUA, embora por enquanto o plano se mantenha no campo das ideias. A procura pela compra de imóveis na Flórida por brasileiros caiu 70% desde o início da pandemia, de acordo com Abdala, da Legacy.

O relatório da Florida Realtors confirma a queda: a participação de brasileiros no mercado imobiliário no estado americano encolheu de US$ 3 bilhões em 2018 para US$ 1,4 bilhão em 2020.

Desde abril de 2020, o fluxo de turistas nos Estados Unidos caiu de 5 milhões por mês para menos de 500 mil, segundo o Escritório Nacional de Viagens e Turismo (NTTO).

Entre os brasileiros, a redução em 2020 foi de 41% em relação ao ano anterior. O índice, no entanto, deve voltar a crescer, impulsionado principalmente pelo plano de vacinação em massa liderado pelo governo Biden.

Na Flórida, o total de pessoas vacinadas está próximo da marca de 9 milhões, o que representa cerca de 40% da população do estado, segundo relatório publicado no domingo (25) pelo departamento de saúde local.

O montante, no entanto, não discrimina o número de estrangeiros vacinados, que têm visitado o estado em busca do imunizante. Apesar de a vacinação estar liberada para residentes a partir de 16 anos, a falta de documentos não é impedimento, principalmente para não excluir a porcentagem de imigrantes ilegais que residem na Flórida.

Aproveitando a fiscalização afrouxada, com passaporte e endereço (emprestado) em mãos, muitos brasileiros têm encarado uma quarentena luxuosa em Cancún ou na Costa Rica para entrarem com visto de turismo nos Estados Unidos e garantirem a dose da vacina.

O caso mais recente entre celebridades é o da cantora Anitta, que tem residência temporária em Miami e afirmou já ter se imunizado.

NATASHA BIN – MIAMI, EUA (FOLHAPRESS)

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