O 13º salário de mais de três quartos (77%) dos consumidores inadimplentes tem destino certo: pagamento de dívidas. Destes, 35% disseram que a verba extra seria usada para pagar o cartão de crédito ou de lojas. Os dados integram levantamento feito eletronicamente em novembro pela empresa de recuperação de crédito Intervalor, com 383 inadimplentes em todo o país.
Menos da metade dos entrevistados (45%) têm direito ao 13º, que é pago a trabalhadores com carteira assinada. A maioria dos inadimplentes ouvidos na pesquisa (55%) é formada por autônomos, donos de pequenos negócios ou desempregados. Ainda assim, três quartos da amostra (75%) se declaram como o principal responsável financeiro pelo seu núcleo familiar.
“O percentual de entrevistados que receberão o benefício é inferior a 50% e esse número deixa evidente a crise pela qual o Brasil está passando”, diz Felipe Santos, diretor de operações da Intervalor.
A segunda parcela do 13º será paga aos trabalhadores com carteira assinada até o dia 20 de dezembro. A primeira parte já foi depositada -por lei, o dinheiro tem que cair na conta do trabalhador até o dia 30 de novembro. Na segunda parcela o dinheiro chega com descontos da contribuição ao INSS e do Imposto de Renda, se o trabalhador não for isento. O governo federal antecipou as parcelas do 13º do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e, pelo segundo ano seguido, os aposentados não contarão com o dinheiro extra no segundo semestre.
Entre os participantes que recebem o 13º e têm contas em atraso, 23% disseram querer usar o dinheiro para acertar contas de consumo pendentes, como água e luz, 19% pretendem quitar outras dívidas, 7% vão pagar empréstimos bancários, 5% vão pagar o financiamento do veículo, 5% vão quitar o aluguel, 3% pretendem devolver o dinheiro emprestado de parentes ou amigos, enquanto 3% vão pagar a mensalidade da escola ou da universidade.
O 13º salário sempre foi aguardado com ansiedade para gastos extras típicos de fim de ano, como festas, presentes e viagens, ou mesmo a reforma da casa ou a troca de carro. Mas em tempos de inflação alta e recessão técnica, como a apontada pela queda de 0,1% no PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, chama a atenção o uso da renda para quitar contas recorrentes em atraso -como aluguel, financiamento do veículo e mensalidade escolar.
Na opinião de Felipe Santos, preocupa o fato de o consumidor incorporar o cartão como parte da renda. “Além de arcar com os altos juros do rotativo, uma das taxas mais caras do mundo, quem eventualmente não conseguir pagar esta dívida perde acesso à linha de crédito”, afirma.
“É uma grande armadilha”, diz ele, lembrando que, mesmo quando é acionado o parcelamento automático (depois de duas faturas pagas parcialmente), há a cobrança de juros. Ele diz que não se trata de abandonar o cartão de crédito, mas é preciso usá-lo dentro do limite da renda de cada um.
O levantamento identificou que para 11% o dinheiro será reservado para possíveis emergências, enquanto 7% pretendem investir. Outros 4% pretendem usar a renda extra para compras de Natal e 1% para viajar.
As previsões para a economia em 2022 estão pouco animadoras, lembra Santos. Além da recessão técnica, o Brasil (e o mundo) ainda enfrentam a pandemia e suas variantes, parte das empresas freiam investimentos em ano eleitoral e o aumento da taxa Selic, como o anunciado nesta quarta-feira (8) pelo Banco Central, torna os futuros empréstimos mais caros.
“A possibilidade de aumento do desemprego é real e as pessoas precisam ser cada vez mais conscientes no seu planejamento financeiro”, diz. DANIELE MADUREIRA/FOLHAPRESS