Ricardo Dias Muniz (*)
Está posto na massa do impeachment mais um ingrediente, desta vez é o leite condensado. Agora vai… Antigamente essa palavra impeachment era rara. Agora já está virando tradicional no calendário político. Trata-se do processo constitucional para impedir um presidente, por incapacidade ou por crime de responsabilidade. Os presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff não souberam desandar o bolo do impedimento e caíram. Mas, afinal, qual é a receita desse troço?
Fazer um impedimento é fácil. Funciona mais ou menos da seguinte forma: convença o povo, mas não de forma ácida, seja doce como uma lata de leite condensado; acrescente a cobertura de manifestações populares, mas populares mesmo, só bandeiras não servem; mostre isso nas maiores vitrines de horário nobre, preferencialmente globalmente. O resultado esperado é que a massa de deputados em favor do impeachment aumentará até o volume de 342 votos. Somente se o fermento do povo realmente crescer. Senão, o resultado será o travamento de pautas importantes, até que a pendenga seja resolvida. De qualquer forma, uns ganham, seja avacalhando um governo adversário ou desgastando ao máximo a imagem dele. É uma pirraça, mas faz parte do jogo político.
A questão interessante é: o que motiva um grupo a perder tanto tempo e energia forçando um impeachment? É certo que, se eles tivessem propostas relevantes para a sociedade, não teriam problemas para competir em eleições ordinárias e ganhariam o espaço político naturalmente, não é mesmo? Os motivos, pelo jeito, são outros… Quando se quer revolucionar uma sociedade, sem revelar esse intento, sem a aprovação dela, algumas ações propostas por esses revolucionários são impopulares, como no caso do aborto. Uma pesquisa recente do Instituto Paraná revelou que 79% da população brasileira é contra o assassinato de bebês no ventre das mães¹. Aprovação disso é uma meta insistentemente defendida por grupos que agora querem o impeachment do presidente, que é abertamente contrário à pauta do aborto.
Veja que absurdo criminoso… Um político querendo fazer o que o povo quer… Não merece o cargo… Deve ser “impichado” mesmo… O quanto antes…
Aí, o que vemos é um festival de ingredientes tentando viabilizar o bolo do impeachment; precisam que “umzinho”, apenas um ingrediente, cole. O problema (pra eles) é que usaram tantas razões ruins que acabaram azedando o impeachment. Nem leite condensado deu jeito.
Fonte:
¹ Pesquisa de opinião aborto, disponível em https://www.paranapesquisas.com.br/wp-content/uploads/2021/01/M%C3%ADdia_Aborto_Jan21.pdf
(*) Ricardo Dias Muniz
Especialista em Gestão Estratégica, Engenheiro de Produção, estuda Direito e Ciências Políticas
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