Entretanto esta participação ainda não é suficiente. Pelo menos não mediante os desafios que, diariamente, as mulheres enfrentam neste país. Desafios estes que vão desde relações afetivas à ocupação de espaços no mercado de trabalho e no poder público. No âmbito afetivo, vemos os casos de violência física e psicológica. Já no mercado de trabalho e na política, a desvalorização e o desrespeito por parte de alguns colegas.
Teodolina Vitório é professora de direito e traduz essas falhas como “condicionamento, preconceito e discriminação”. Ela ainda explica que, na política, o número de candidatas é sempre muito desproporcional ao de mulheres eleitas:
“A sociedade condicionou que existe o lugar do homem e existe o lugar da mulher. Então, quando alguma mulher ousa não estar no seu espaço, ela incomoda e, infelizmente, ela é calada ou quem sabe torturada psicologicamente para que ela possa, no caso, desistir”, comenta.
A profissional da Justiça destaca, ainda, que o direito ao posicionamento e a lugares importantes de fala não retiram da mulher o seu papel de zelo com a família, como muitas pessoas acreditam: “O homem está condicionado a entender que a esfera pública foi feita para o homem e a esfera privada feita para a mulher (diga-se a cozinha, fogão, cuidar da família), o que é tão prazeroso para nós mulheres”, acrescenta.
“Não tem nada mais lindo do que nós [mulheres] podermos realmente cuidar das conquistas afetivas que nós fizemos. Entretanto, é importante nós sabermos que para além das conquistas afetivas, além do espaço privado que nós ocupamos, o espaço público também é nosso, assim como o espaço privado também é dos homens. Isso para ele [homem] não deve ser tido como um desafio ou afronta, mas como uma oportunidade. Isso não retira dele a dignidade, não tira dele o valor de homem. Muito pelo contrário. Só o torna protagonista”, ressalta.
“O empoderamento feminino é no sentido de fazer com que ela [mulher] possa sentir a confiança necessária de saber que ela é capaz. O que tem que nos definir é a nossa condição de gente, de pessoa, de seres humanos. Não há qualquer tipo de reservas ou de acepção. Na verdade, essa acepção é feita ao longo de uma história milenar. Inclusive, nós mesmas, mulheres, somos conduzidas a entender que o homem pode e a gente não pode.”
Muito além de um corpo – tantas vezes objetificado – as mulheres são fontes ricas em conhecimento e sabedoria, capazes de solucionar questões importantes na sociedade. Para Teodolina Vitório, elas na política são como porta-vozes:
“Se nós não estivermos nos espaços de decisão, nos espaços de poder, seguramente os direitos que nos são cabíveis para que a nossa dignidade, igualdade e liberdade sejam preservadas, não serão lembrados. Não estaremos lá para fazer com que, de alguma forma, o Direito possa nos proteger, se nós, enquanto mulheres, não emprestamos o nosso coração, a nossa mente, a nossa vida e todos os nossos sentidos para que eles efetivamente se tornem reais”.
A professora finaliza incentivando as mulheres a permanecerem ousadas e corajosas na busca por seus direitos.
“Marielle Franco dizia que nós somos como rosas que florescem no asfalto. Nosso nome é resistência. Resistamos. Que nada e ninguém nos diminua”, conclui.