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Negócios fechados no começo da pandemia reabrem renovados

Depois de fechar no início da pandemia, empresários usaram a pausa de meses para reestruturar negócios e reabrir com novas estratégias e produtos. Para engatar a retomada, dizem especialistas, é preciso ser claro na comunicação e atender a um novo momento do consumidor.

É o caso do Jacaré Grill, tradicional bar na Vila Madalena, em São Paulo, que após 21 meses fechado reabriu no mês passado, depois de reestruturar o ambiente e o cardápio.

Conhecida pelas carnes, a casa agora aposta também em opções preparadas na brasa para atender vegetarianos e veganos, e destaca o aproveitamento integral de alimentos e uso de orgânicos.

“A gente aproveitou para reformar e construir uma proposta nova. Adaptamos o projeto para tendências que as pessoas estão buscando, como a de áreas abertas”, diz Cairê Aoas, 38, sócio da Fábrica de Bares, que faz a operação e gestão da empresa.

O processo de obras do Jacaré Grill, diz ele, não aconteceu em ritmo acelerado porque não havia uma ideia clara de quando a reabertura deveria acontecer, por causa das diferentes ondas da Covid-19.

Além disso, como a casa passou por uma reformulação de conceito, contemplado demandas de um público mais jovem, a reinauguração demandou esforço de comunicação e treinamento. “Em outubro, quando percebemos as pessoas mais seguras por causa da vacina, decidimos cravar uma data”, diz Cairê.

A pandemia mudou o comportamento do consumidor, que, além de estar atento a medidas de segurança, busca ainda mais valores como sustentabilidade e diversidade, diz César Rissete, gerente de competitividade do Sebrae.

“Essa é uma boa oportunidade para o empresário se reapresentar ao público. Não apenas de dizer ‘estou de volta’, mas também ‘estou voltando com um novo olhar’.”

Para Rissete, canais de comunicação se tornam ferramentas indispensáveis porque são usados para dar suporte às escolhas do cliente.

“O consumidor vai olhar o Instagram daquela cafeteria para ver se ela está seguindo procedimentos sanitários ou se usa produtos locais e sustentáveis. O cliente tem valorizado e pago por isso.”

No novo momento de um negócio, o empreendedor deve ser transparente ao comunicar as alterações na sua atividade. “Não precisa entrar em detalhes. É só dizer de forma clara o que foi mantido e o que não, porque se você não dá informação suficiente, o cliente se frustra”, diz Soraia Lima, especialista em marketing digital.

Aberta em 2018, a Lich Kombucha teve de paralisar sua produção por causa das medidas de restrição e fechamento do comércio no início da pandemia. A empresa produz bebida fermentada, o kombucha, e vende principalmente para lojas, mercados e restaurantes.

Preocupada ao ver suas reservas financeiras diminuírem, a fundadora da marca, Tania Lichtenfels, 44, decidiu apostar em uma reestruturação e foi estudar o mercado.

Tania tinha um espaço alugado em Macaé, cidade litorânea do Rio de Janeiro, e mudou suas operações para Nova Friburgo, região serrana do estado que tem colonização alemã e tradição cervejeira.

Mas o processo de mudança não foi fácil. Na nova cidade, Lichtenfels foi surpreendida com a dificuldade de adaptação da cultura de bactérias e leveduras responsáveis pela fermentação na bebida.

Apesar das dificuldades, a mudança foi determinante para a sobrevivência do negócio. A Lich Kombucha retomou suas atividades em fevereiro de 2021, depois de quase sete meses sem produzir. Hoje, embora ainda sem lucro, as receitas pagam todos os custos da operação.

A empreendedora mudou a comercialização, usando chopeiras em eventos gastronômicos para degustação do kombucha, que, por ser fermentado, pode ter resistência inicial. A ideia tem dado resultados, mas, com o avanço da ômicron, as vendas recuaram novamente.

Nos períodos mais duros da pandemia, a Lich Kombucha continuou usando as redes sociais para não perder o contato com o consumidor. Mesmo nos meses em que a empresa não pôde produzir, os perfis da marca publicaram reportagens sobre a bebida. A mudança de cidade também foi anunciada pela internet.

No caso da 8GSF, que comercializa produtos químicos, o cronograma foi paralisado no início da pandemia, quando a empresa estava prestes a iniciar suas operações. Com a explosão da demanda por itens de limpeza, os insumos sumiram do mercado e a companhia teve de interromper as atividades.

“Quem já estava estabelecido viu as vendas aumentarem. Os distribuidores priorizaram os consumidores de larga escala e que já eram seus clientes. Como não tínhamos histórico, ficamos no meio do caminho”, afirma Marcelo Ferreira, 55, fundador.

O empreendedor manteve os investimentos no estudo mercadológico e desenvolvimento de novos produtos e, em outubro do ano passado, voltou a produzir. Agora, tenta financiamento via BNDES para alavancar a operação. Hoje, a 8GSF tem 25 representantes comerciais, mas espera chegar a 400 nos próximos meses.

“De certa forma, a pandemia serviu para ajustar a casa. Comercializamos produtos com selo de sustentabilidade e tecnologia embarcada. Talvez, se errássemos no início, comprometeríamos nossa credibilidade”, diz Ferreira.

No momento, o carro-chefe da 8GSF é um desengraxante multiuso (usado na limpeza de superfícies diversas, para remoção de óleos e gorduras), segundo a empresa, livre de petroquímicos e 100% biodegradável —que foi desenvolvido durante a pandemia. MARÍLIA MIRAGAIA E RENAN MARRA/FOLHAPRESS

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