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Martinho da Vila narra vidas de grandes sambistas como se estivesse em mesa de bar

Martinho da Vila é presença obrigatória em qualquer enciclopédia ou lista com os maiores nomes do samba. Mas, desta vez, ele é o encarregado de escolher os melhores do gênero. E contar suas vidas.

“Martinho Conta… Cartola” e “Martinho Conta… Noel” são os dois primeiros títulos que chegam em livro físico e em e-book para disparar uma coleção de biografias dos bambas. Apesar de endereçada ao público infantojuvenil, têm muita informação que pode ser degustada por leitores de todas as idades.

“Eu já escrevi dois livrinhos infantis que a editora Lazuli publicou”, diz Martinho, referindo-se a “A Rainha da Bateria” e “A Rosa Vermelha e o Cravo Branco”. A ideia dessa série de biografias foi do editor Miguel de Almeida. “Ele deu a sugestão, e eu embarquei. Pensei logo no Cartola, que é um compositor que eu gosto muito e que a meninada não conhece. A mesma coisa com o Noel Rosa. Preferi começar com eles.”

O cantor destaca os dois biografados como figuras importantes no Brasil, além da relevância musical, e procurou escrever de um modo que os jovens se interessassem. Ele conta que não sente a presença de muitos garotos em busca desses nomes. “Olha, eu encontro algumas crianças que conhecem a minha música e gostam, mas sem conhecer sambas mais antigos.”

Martinho amplia a discussão para outros gêneros, admitindo que o Brasil tem pouca literatura voltada para a música. Compara, por exemplo, com o jazz nos Estados Unidos. “Aqui tem muito pouco. É uma coisa que precisa ser feita.”

O terceiro livro da coleção, já em finalização, traz um nome que deve ser mais facilmente reconhecido pelas crianças, Paulinho da Viola. “Quis fazer sobre um sambista vivo. Pensei então no Paulinho, que é meu compadre e de quem eu sou muito fã.”

Os dois são contemporâneos. Martinho tem 83 anos, e Paulinho, 78. E desde muito jovens tiveram participação forte na cena do samba. “O processo foi diferente daquele que adotei com Cartola e Noel. Eu não precisei pesquisar nada sobre Paulinho, o livro vem da nossa convivência. Acho que pode até ser meio fantasia, meio realidade. Inventar uma história com ele.”

Notáveis pelo caráter gentil e pela fala tranquila, os dois transmitem simpatia. “Eu sou o Martinho devagar, não é? Devagar, devagarinho”, diz, citando um de seus maiores sucessos. E ele avança na brincadeira, rindo muito. “Mas o Paulinho é mais devagar do que eu!”

Com ilustrações de Werner Schulz, os dois livros trazem uma narrativa coloquial e agradável. É possível para o leitor imaginar o autor contando casos numa mesa de bar. Mas esse jeito descontraído não implica qualquer desleixo com o caráter informativo. Em poucas páginas, os textos satisfazem plenamente quem procura conhecer a vida dos sambistas, sem a sisudez de uma Wikipédia e com a adição de uma ou outra história deliciosa da vivência de Martinho.

Noel e Cartola foram parceiros, então as vidas deles se entrelaçam. “Cartola dizia que o maior compositor era o Noel, e Noel dizia que era o Cartola”, diz Martinho. Além de várias letras de músicas deles, o autor também recorre a versos de outros sambistas, escolhendo letras que se encaixam como comentário de episódios narrados.

“Escrever sobre sambistas é uma forma indireta de contar a história do samba, por isso passeio por outros compositores. Mas nunca escrevo de uma maneira didática, o jovem não gosta muito. Tenho que pensar em divertir esse leitor moleque. Quem vai escrever um livro normal, quer dizer, para adulto, não tem que pensar em quem vai ler. Para o público infantil, tem que usar uma linguagem que a criança entenda.”

Martinho tem esperança de que as atividades afetadas pela pandemia voltem logo ao normal. “Tenho muitos convites para fazer shows em novembro e dezembro. Estou gravando um disco, já gravei algumas músicas. Lancei uma, ‘Era de Aquarius’, com o rapper Djonga. Vou lançar uma música nova de dois em dois meses. Hoje não se lança mais um álbum, né? Disco já era! Mas depois vou fazer capa, lançar na internet como álbum.”

Sobre a pandemia, ele relativiza seus efeitos. “Ficar em casa eu já gosto. Antigamente saía muito, gostava mesmo, não parava em casa, Mas já andei demais. Nos últimos tempos eu gosto de ficar sossegado. Então a pandemia não me afetou muito nesse sentido. O problema é que gosto de encontrar amigos, abraçar. Encontrar alguém que você não vê há muito tempo e não poder abraçar, isso é muito chato.”

O isolamento fez o lado escritor de Martinho ganhar espaço. “Aproveitei para escrever. Tem um livro de contos que estou terminando. Era para ser um livrinho, agora já é um livrão. Tive tempo demais para inventar histórias, espero que seja lançado ainda neste ano.”

“MARTINHO CONTA… CARTOLA” E “MARTINHO CONTA… NOEL”
Preço R$ 30
Autor Martinho da Vila
Editora Lazuli
Páginas 32 págs.

THALES DE MENEZES/FOLHAPRESS

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