Mais conhecida como Ginga, médica prova através da capoeira que o lugar da mulher é onde ela quiser
GOVERNADOR VALADARES – O ritmo lento do berimbau dita um esporte que há anos encanta a médica e fisioterapeuta Marina Axer. O ritmo lento do berimbau começou a encantá-la com apenas 13 anos de idade e, desde então, dita os passos da sua vida e também da sua prática favorita. Na roda de capoeira, Ginga, como é conhecida no meio, se destaca não só pela habilidade de se movimentar unindo dança e luta, mas também por ser a primeira mulher a se tornar contramestra de capoeira da região Leste de Minas. Mais especificamente em Valadares.
A arte fisgou o coração de Ginga ainda no início da adolescência. Na época, o início da história com a luta foi possível através de um projeto social que funcionava no bairro Santa Rita. “Desde então, mesmo saindo da cidade, eu nunca parei de praticar capoeira. Por todo lugar que eu fui, eu sempre ia a algum lugar que tivesse capoeira para eu poder estar treinando, de acordo com as minhas folgas. Comecei a capoeira num projeto social do bairro Santa Rita, na época das obras sociais, e, desde então, nunca mais parei. Quando retornei para Valadares, já não existiam mais as obras; não tinha capoeira no bairro. Então eu decidi juntamente com o professor Will abrir um projeto social. Hoje atendemos cerca de 20 pessoas, de crianças a adultos, sem idade de faixa etária. As aulas são de segunda a sexta-feira, de 19h até 20h30”, revela Marina.
Atualmente no Brasil, estima-se que apenas pouco mais de 35% dos praticantes de capoeira são mulheres. Contudo, o número daquelas que chegam a conquistar o grau de mestras se reduz ainda mais. Todo território do estado mineiro abriga apenas 18 mestras e, na região Leste, apenas uma contramestra, título dado a quem está prestes a atingir o grau maior da prática. Marina foi a primeira a conquistar a nomeação, em 2023.
“Para você chegar a um nível de graduação alto na capoeira, você tem que ser aceita pela comunidade da capoeira, pela família da capoeira. E eu fiquei muito feliz porque no evento que nós proporcionamos estava presente o Mestre Gal, que é o pai da capoeira daqui de Governador Valadares. Ele que trouxe a capoeira para a cidade na década de 70. O mestre Tadeu, que é um dos mais antigos mestres em atividades em Governador Valadares. E o meu mestre Catatau, que vai completar esse ano 50 anos de capoeira. Então juntamente com outros mestres até de fora da cidade e outros graduados na capoeira, estiveram presentes no nosso evento. Então isso me deixou muito feliz e bem representada no mundo da capoeira do município”, explica a capoeirista.
A UNIÃO
Manifestação cultural afro-brasileira mais que tradicional, a capoeira desde o princípio se tornou uma prática para unir e acolher pessoas, um espaço de sociabilidade. Ao contrário da maioria dos esportes em que mulheres e homens disputam em categorias distintas, na capoeira homens e mulheres ocupam o mesmo espaço. Praticantes costumam dizer que é apenas um jogo ou duelo. Há lugar para cantadores, instrumentistas e historiadores, e as mulheres podem ocupar qualquer posição nessa arte.
“Hoje, além de mim, tem a instrutora Fabiana, que há dez anos dá aula no Centro de Convivência de São Tarcísio e faz também um belo trabalho com as crianças lá. Também tem bastantes meninas. A gente tenta divulgar cada vez mais que as mulheres podem sim ter espaço na capoeira”, defende Marina.
Segundo a contramestra, apesar do machismo velado que permeia a sociedade no geral, na comunidade capoeirista de Valadares, a união e apoio se fazem primordiais para que, além de homens, cada vez mais meninas e mulheres se sintam abraçadas pela luta cultuada pela história brasileira. “Hoje a capoeira de Valadares está bem unida. Nós temos a Liga Valadares de Capoeira, que gira em torno de 22 grupos, e em vários pontos da cidade está tendo aula. O mestre Catatau é presidente da Liga. No ano passado, ele conseguiu a aprovação da semana cultural da Capoeira, que termina no dia 20 de novembro. Ele conseguiu também uma cadeira na Secretaria Municipal de Cultura, onde ele é o representante e eu sou suplente. Então a gente vem tentando novamente reerguer e mostrar esse outro lado que a capoeira tem, de mostrar realmente o seu valor”.