Mandetta diz que não se deve politizar cloroquina, e Bolsonaro defende a droga

por PAULO SALDAÑA, RENATO MACHADO E TALITA FERNANDES
FOLHAPRESS

Após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), dizer na manhã desta quarta-feira (8) que o médico David Uip havia orientado o Ministério da Saúde sobre a distribuição de cloroquina na rede pública, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alfinetou os dois e disse que a recomendação para prescrição em casos graves e críticos já fora tomada por consenso em reunião com vários especialistas, incluindo Uip.

“Hoje esse medicamento não tem paternidade, governador não precisa politizar esse assunto, esse assunto já está devidamente colocado. Precisamos que todos tenham maturidade, tenham visão, foco e disciplina para que a gente possa atravessar esse momento”, afirmou Mandetta, em entrevista no fim da tarde desta quarta-feira.

Uip é coordenador do comitê de controle do coronavírus em São Paulo e tem sofrido ataques em redes sociais, inclusive do próprio presidente Jair Bolsonaro, por não ter dito se foi ou não tratado com cloroquina ou hidroxicloroquina para ser curado do coronavírus.

Doria abriu a entrevista dele em São Paulo defendendo o médico e falou sobre a recomendação de Uip a Mandetta.

A cloroquina está no centro de discussões porque o presidente Jair Bolsonaro defende um uso amplo da substância para casos de coronavírus. Mandetta, que tem apoio das sociedades médicas, diz que que ainda não há embasamento científico para um uso profilático da substância.

O medicamento é usado no tratamento da malária e há relatos preliminares de que ele possa combater a Covid-19, embora ainda não haja estudos científicos mais robustos sobre sua eficácia e segurança.

O protocolo do Ministério da Saúde já prevê o uso para casos considerados graves e críticos. O ministro ressaltou que não faz sentido prescrever cloroquina a partir dos primeiros sintomas da doença uma vez que, no Brasil, há outros vírus circulando, como H1N1 e disse que não é inteligente receitar medicação para quem que não precisa dela.

Em outra alfinetada a Uip, Mandetta afirmou que não virá da cabeça dele uma recomendação de uso da substância. “Não vai ser da cabeça do doutor Uip, não vai ser da minha cabeça. Não existe ninguém dono da verdade. Não existe nenhum estado melhor do que outro, somos todos iguais”, disse.

Após quase ser demitido, Mandetta negou que tenha sido enquadrado pelo presidente para flexibilizar o uso do mediamento.

“O presidente da República em nenhum momento fez qualquer colocação para mim diretamente de imposição”, disse. “Ele defende, como todos nós, que, se há chance melhor pra esse ou outro paciente, que se possa garantir o medicamento, mas também entende quando a gente coloca situações que podem ser complexas, ele também entende que os conselhos analisem”.

Na terça-feira, Mandetta ainda ressaltou que cabe aos médicos a decisão e a responsabilidade de prescrever o remédio caso julgue necessário.

Bolsonaro (sem partido) voltou a defender nesta quarta-feira (8) que a hidroxicloroquina seja aplicada em pacientes com a Covid-19 ainda em fase inicial, divergindo do Ministério da Saúde.

A afirmação do presidente foi feita durante entrevista para o programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, e também durante pronunciamento em rede nacional na noite de quarta.

“Agora tem uma outra coisa esse tratamento começou aqui no Brasil que tem que ser feito, com quem a gente tem conversado, até o quarto ou dia útil [sic] dos sintomas. Passando disso, como a evolução é muito rápida e ele ataca basicamente o pulmão, quando entrar no estado grave ou no estado gravíssimo, a possibilidade de você se curar é mínima, é quase zero”, afirmou ao Brasil Urgente, sem citar pesquisas científicas que comprovem sua afirmação.

Em pronunciamento, parabenizou o cardiologista Roberto Kalil Filho por ter dito que tomou a cloroquina para se tratar da Covid-19 e disse que fez um acordo com a Índia para receber matéria-prima para continuar produzindo o medicamento.

Ao menos 800 pessoas morreram pelo novo coronavírus no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Foram registradas 133 novas mortes nas últimas 24 horas, alta de 20%.

O país soma 15.927 casos confirmados da doença. No dia anterior, eram 13.717.

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