Queridos irmãos e irmãs, João Batista era uma lâmpada ardente e luminosa – “uma voz que clama no deserto”, dizia Jesus falando de João Batista, “e deu testemunho da verdade”. Esse ser de luz ardente e luminosa, uma voz que clama no deserto, deve ser o mesmo comportamento de cada cristão, pela fé viva, capaz de iluminar os outros, pelo amor ardente, capaz de aquecer os corações frios e apagados, sem vida e indiferentes. Devem sua fé e seu amor dar testemunho à verdade e ao amor de Deus não só com a oração e os atos estritamente religiosos, mas com toda a sua vida. Isso só é possível quando não cessa o fiel, cada um, de voltar-se para Deus, de procurá-lo em todas as suas ações, em todas as suas atividades.
Quando buscamos nos documentos da igreja recomendações e exortações para a compreensão da nossa vocação e da vocação de cada um que: “enquanto cumpre corretamente as funções mesmas do mundo, nas condições ordinárias da existência, não separa da sua vida a união com Cristo, mas cresce nela enquanto realiza o próprio trabalho, segundo a vontade de Deus” (AA4). Tem o cristão, cada batizado, homem e mulher, o dever de levar Cristo ao mundo, e o faz na medida em que se mantém unido a ele não só quando reza, mas também quando trabalha, no cumprimento de qualquer dever, de qualquer afazer. Essa união com Cristo nas atividades exige recolhimento interior e do domínio de si, e disponibilidade do coração, de tal modo que o coração continue orientado para Deus, desejando sempre agradar-lhe e procurando comportar-se em tudo segundo sua santa vontade.
Queridos irmãos e irmãs, na caminhada da vida, quando o homem se ativa totalmente à ação, de modo a deixar-se arrastar por ela, torna-se incapaz de dominar e regular a própria atividade seguindo a Deus. Então ele é chamado a verificar verdadeiras alterações: depois de ter protestado a Deus, na oração, que quer amá-lo acima de todas as coisas e fazer só sua vontade, nos atos o desmente, regulando-se não pelo evangelho, mas pelo espírito do mundo. Sendo assim, já não é “lâmpada ardente e luminosa” e não dá sua vida, testemunho da verdade”.
Queridos irmãos e irmãs, São João da Cruz escrevia a uma religioso: “que coma ou beba, que fale ou trate com seculares, ou faça qualquer outra coisa, deseje sempre a Deus, conservando nele o afeto do coração” (carta 9). Um conselho precioso para todo cristão, nos nossos dias, que quiser viver, que mesmo na atividade saiba recolher-se para despertar o pensamento e mais ainda o desejo de Deus, para tomar consciência da presença divina, para pôr-se em contato com Deus, hóspede de seu coração. “É necessário que em nossas obras exteriores, ainda que de obediência e caridade, procuremos sempre não nos distrair e nos retirar frequentemente no interior, com nosso Deus” (Santa Tereza de Jesus).
Quando regulada a atividade externa pelo dever, pela obediência, ou quando empreendemos qualquer obra por motivo de caridade, já temos a garantia de estar unidos com Deus, porque nos movemos dentro de sua vontade. Cumpre, todavia, estarmos atentos, e tornarmos o mais possível atual e consciente essa união, valendo-nos de industriazinhas para aumentá-las são rápidos, mas frequentes instantes em que se retira o cristão, no próprio interior, para se encontrar com Deus. Quem se mergulha na ação sem cautela perderá logo de vista a Deus e sua vontade: acabará por agir de modo puramente humano; até a calma perderá, e agitar-se-á, incapaz de recolher-se.
No evangelho, Jesus repreendeu a Maria não porque se entregava ao trabalho, mas porque o fazia com diligência: “Marta, Marta, preocupas-te e te inquietas com muitas coisas” (Luc 10,41). Quer Deus a ação, o serviço de generoso aos irmãos, mas não a inquietação, porque, acima de tudo, uma só coisa é necessária: a união com Deus. Quanto mais realiza o Cristão a vida de íntima união com o Senhor, tanto mais, pela conduta, testemunha Deus, encarna o espírito do evangelho e se torna para os irmãos “lâmpada ardente e luminosa” que os leva ao Senhor, mesmo quando passa por desafios e dificuldades, pois é o Senhor que faz resplandecer o seu amor e a sua graça.
Fraterno abraço