por Arthur Arock (*)

Poucos sabem, mas 1981 foi um ano marco para os videogames.
Tudo bem, antes de continuar, vou admitir, já ouço as reclamações de alguns por ter resolvido falar de videogame em uma coluna de cultura. Mas já adianto que não levo em consideração essa crítica: videogames, como qualquer outra forma de mídia, apresentam os mais diversos níveis de qualidade. E se você ainda não jogou um que tenha lhe dado incansáveis horas de entretenimento e/ou feito você viver uma história que nunca vá esquecer, eu sugiro de verdade que descubra (ou redescubra) um bom videogame.
Dito isso tudo, voltemos ao assunto principal.
Em 1981 tivemos vários jogos que mudariam para sempre a história dos videogames. Alguns, apesar de sua grande importância, são nomes que só os mais fãs da mídia (ou aqueles que já eram jogadores nessa época) vão lembrar: “Asteroids” (aquele que você está em uma nave espacial e precisa destruir os asteroides), “Galaga” (também um jogo de naves, mas dessa vez contra outras naves), “Castle Wolfenstein” (o avó do first-person shooter e que daria origem à franquia “Wolfenstein”) e “Frogger” (aquele joguinho infernalmente difícil, em que você tem que atravessar o sapo até o outro lado da rodovia movimentada). Mas, mesmo quem nunca jogou um único videogame nessa vida (se é que essa pessoa existe) consegue reconhecer um dos personagens que nasceu 1981. E eu nem preciso dizer o nome dele, só que é o encanador italiano bigodudo mais famoso do mundo.
Sim: It’s-a Me, Mario!
Mario Mario (e esse é o nome completo oficial dele), mais conhecido como Super Mario, nasceu em 9 de julho 1981. É claro que a maioria dos elementos que o fazem reconhecíveis hoje, 40 anos depois e dezenas (pra não dizer centenas) de jogos depois, ainda não existiam na época. E, com sua permissão, eu pretendo fazer uma pequena linha do tempo mostrando como foi construído esse que é possivelmente o mais famoso personagem do mundo dos videogames.
Quando surgiu, em 9 julho de 1981, Mario era conhecido apenas como Jumpman (isso nos Estados Unidos, porque no Japão, de onde é realmente originário, o personagem não recebeu nome até o ano seguinte), não era um encanador e sim carpinteiro. Além disso, apesar de ser o personagem controlado pelo jogador, não era o personagem-título do jogo, sendo esse seu inimigo “Donkey Kong” (sendo esse o nome do jogo e do gorila que você tinha que derrotar), que havia sequestrado sua namorada Pauline (sim, não a Princesa Peach, mas Pauline). O jogo é, obviamente, uma referência a King Kong, especialmente a cena em que o personagem-título escala um prédio com a mocinha nas mãos, só com a substituição dos aviões do filme por um improvável herói bigodudo. Inclusive, essa interação dos dois acabou tendo uma versão desenho animado (junto com muitos outros personagens de videogame da época) em um desenho de vida curta chamado “Saturday Supercade”, que durou entre 1983 e 1984.
Mas, voltando aos jogos: no ano seguinte ele receberia seu “nome de batismo”, Mario, no jogo “Donkey Kong Jr.”, em 1982. Um fato curioso é que é o único jogo na história da Nintendo em que o Mario é o antagonista. Nesse jogo você atua como o filho do vilão do jogo anterior (como o nome sugere) e tem que resgatar seu pai, que foi aprisionado por Mario ao final do jogo original.
Em 1983 nós já temos alguns elementos mais familiares. Com o advento do jogo “Mario Bros.” você passa a ter Mario não só como primeiro nome, mas como sobrenome também. Nesse jogo ele já é um encanador italiano que, junto com seu irmão caçula Luigi, tem que limpar o infestado esgoto de Nova York. Além de tudo que já citei, é aqui que surgem os icônicos canos verdes (apesar de com uma utilização diferente da mais famosa) e possivelmente os inimigos mais recorrentes da série (concorrendo com os Goombas), os Koopa Troopa (aquelas tartarugas com casco verde). Sempre noto a importância nesse jogo do nascimento de praticamente todos os elementos importantes da série que se baseiam em verde: os canos, os Koopas e, sobretudo, o Luigi (só não o Yoshi).
Em 1985 nós tivemos o advento do Nintendo como console. O NES (Nintendo Entertainment System), mas conhecido no Brasil como “Nitendinho”, trouxe Mario para dentro da casa das pessoas.
Foi nesse console que surgiu um dos jogos mais icônicos de todos os tempos: “Super Mario Bros.” Aqui surgiria o Musshuroom Kingdom, Goomba, Toad, Boswer, Princesa Peach, os cogumelos de fazer crescer, as flores de fogo, estrelas da invulnerabilidade e basicamente a maioria das coisas que as pessoas pensam quando se fala na franquia Mario. Esse é um jogo que, mesmo que não tenha jogado, você conhece, e conhece bem. Só para exemplificar o poder desse jogo, foi aqui que surgiu a música tema do Mario (só para escolher uma das muitas músicas clássicas que surgiram aqui), que eu tenho absoluta certeza que você sabe do que tô falando (e agora tá tocando na sua cabeça, com aquela parte vitoriosa de quando ele passa de fase e pula na bandeira). Sem falar no “Sua Princesa está em outro castelo!”
Já o “Super Mario Bros. 2”, de 1988, é um dos pontos mais fora da curva (e não positivamente) da série. O que pouca gente sabe é que o jogo que se tornou “Super Mario Bros. 2” e que chegou para gente (a versão norte-americana) não é o mesmo jogo que foi lançado no Japão. A Nintendo norte-americana achou o “Super Mario Bros. 2” japonês com um nível de dificuldade muito alto e que não ia dar para os jogadores ocidentais (aparentemente não tão bons quantos os orientais, na opinião da companhia). Por isso eles pegaram o protótipo de outro jogo (que no Japão seria conhecido como “Yume Kōjō: Doki Doki Panic”) e mudaram pra ser um Mario. A gente só teria acesso ao jogo original quando saiu a coletânea “Super Mario All-Stars”, já para Super Nintendo em 1993. Na coletânea, o jogo foi apresentado sob o título “Super Mario Bros.: The Lost Levels”.
Em 1989 a Nintendo lançaria seu primeiro console portátil, o GameBoy. E onde tem Nintendo tem Mario. Assim surgiu o “Super Mario Land”, um pouco atípico também, mas aqui surgiria a Princesa Dayse (que seria recorrente anos mais tarde). Porém, esse ano é mais marcado pelo lançamento do primeiro desenho animado dos Irmãos Mario.
E, seguindo essa linha, em 1990 saiu o “Super Mario Bros. 3”, aquele em que tudo parece uma peça de teatro (conceito que já foi confirmado pelos desenvolvedores: in universe, esse jogo é uma peça de teatro recontando os eventos do primeiro “Super Mario Bros.”). Com esse novo jogo de sucesso saiu o novo desenho do Mario.
Mas a grande jogada desse ano de 1990 foi o SNES (Super Nintendo Entertainment System), o lendário Super Nintendo. O Super Nintendo por si só é algo que merecia seu próprio texto. Eu não cheguei a ter um, mas, como toda criança da minha época, passei horas jogando nele. Ele tinha jogos maravilhosos que até hoje vale a pena pegar pra zerar de novo: “Chrono Trigger” (possivelmente meu preferido), “Super Bomberman”, “Donkey Kong Country”, “Zelda – Link To The Past” (outro que é preferência pessoal), “Super Metroid”, “Street Fighter 2”, “F-Zero”, “Star Fox”, “Final Fantasy”… A lista é gigantesca e só de jogos maravilhosos, mas nenhum tão universalmente amado quanto o “SUPER MARIO WORLD”, de 1991. Eu nem preciso falar dele, afinal, é nesse jogo que as pessoas pensam quando falam em Mario.
Eu vou pular aqui o desastre do filme live-action (faça-se um favor e não veja), a outra série de desenho animado e um mundo de mídia japonesa (inclusive um mangá, que, salvo engano, ainda sai até hoje). E a franquia só ganhava força: “Super Mario Land 2” em 1992 para GameBoy; ainda 1992 surgiu o hoje icônico “Mario Kart”; “Super Mario Land 3” em 1994 com a estreia do vilão Wario; Wario, assim como o Yoshi de “Super Mario World”, ficaria tão popular que ganharia sua própria franquia separada, o que nos leva a 1995 com o excelente jogo “Super Mario Wolrd 2 – Yoshi’s Island” (minha única crítica ao jogo é o choro insuportável do bebê Mario).
Em 1996 saiu um dos meus jogos preferidos da franquia, mas normalmente esquecido por ser completamente diferente de tudo mais: é um jogo de RPG bem nos moldes de “Final Fantasy” e que eu super-recomendo, tanto para os fãs do gênero quanto os fãs de Mario em geral, afinal, você pode jogar não só com ele como com Peach e até o Boswer.
Ainda em 1996 nós tivemos outra revolução: o lançamento do Nintendo 64 traria Mario para o mundo 3d no jogo intitulado “Super Mario 64”. Esse jogo pavimentou o caminho para a revolução dos jogos 3d e criou vários elementos ainda usados, sendo meu preferido as frases de efeito “It’s-a me, Mario!” e “Let’s-a Go!” (sendo o primeiro jogo onde ele tem uma voz, e ainda é o mesmo ator que o dubla até hoje: Charles Martinet). E essa tradição de “console + Mario” se manteria: o Game Cube surgiu em 2001 e em 2002 nós ganharíamos “Super Mario Shunshine”; Nitendo DS veio em 2004 e no mesmo ano saiu “Super Mario 64 DS”; em 2006, “New Super Mario Bros.”; em 2006 saiu ainda o Nitendo Wii e em 2007 o ambicioso “Super Mario Galaxy”; em 2009, o “New Super Mario Bros. Wii”; e em 2010, o “Super Mario Galaxy 2” (o primeiro Mario 3d a ter um sequência direta e oficial); em 2011 foi a vez do Nintendo 3DS trazer no seu ano de lançamento o “Super Mario 3D Land”; e em 2012 o “New Super Mario Bros. 2”…
Eu vou pular um monte de títulos famosos (como “Super Mario Maker”, “Paper Mario”, “Super Smash”, “Mario Party” e “Mario Kart”) para um dos meus preferidos: “Super Mario Odyssey” para o Nintendo Switch em 2017. Um jogo enorme, ambicioso e na linha do clássico Mario 64, mas com novas mecânicas. Esse jogo é excelente e é uma excelente comemoração de tudo Mario. Eu superindico quem conseguir a dar uma chance para esse jogo (mesmo sabendo que algumas pessoas da minha época reclamam que acham difícil lidar com jogos 3d; mas, vai por mim, é só uma questão de costume e boa vontade).
Eu sei, eu sei: eu fiz uma gigantesca simplificação da história do Mario, mas vocês hão de me perdoar, já que entre core-games, spin-off e cameos o encanador preferido de todo mundo esteve em mais de 200 jogos. E eu resolvi focar só nos que trazem os elementos mais marcantes desse personagem (e, ok, alguns dos meus preferidos).
Mas, de uma forma ou de outra, esse texto é só uma comemoração de tudo Mario. Essa é uma série que, via de regra, os jogos valem a pena pegar para curtir, porque quase sempre eles têm grande qualidade (além de não serem especialmente complicados de jogar). Eu tenho certeza de que muitos dos leitores têm lembranças de horas de diversão com um ou mais jogos de Mario (as pessoas da minha idade sempre falam com carinho merecido de “Super Mario Wolrd”). Esse personagem tem trazido 40 anos de grandes jogos, e sobre o que ele vai trazer no futuro, só posso citar o próprio Mario.“
(*) Nascido em Governador Valadares e atualmente residente em Belo Horizonte. Sua formação acadêmica se traduz numa ampla experiência no setor cultural. É escritor, crítico e comentarista cinematográfico e literário.
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