“Bom dia, amantes da sétima arte…”
Desculpa, mas eu não consegui resistir a começar essa coluna com essa citação. Como a maioria do vocês deve saber, essa é umas das frases de efeito do personagem Maurílio no popular “Choque de Cultura”. Eu duvido que seja completamente desconhecido para alguém, mas, para aqueles raros casos, “Choque de Cultura” é um web-programa de comédia produzido pela equipe do canal “TV Quase”. Eu não vou entrar em muitos detalhes para além de uma forte indicação, para que você dê uma conferida.
E o motivo pelo qual não vou entrar em muitos detalhes é que o foco desse pequeno artigo não é “Choque de Cultura”, mas, sim, outro grande sucesso produzido pela “TV Quase”. Esse conta com a coprodução da Copa Studio e Cartoon Network Brasil. Sim, estou falando de “Irmão do Jorel”.
Essa é a primeira animação original do Cartoon Network feita no Brasil e na América Latina e foi desenvolvida a partir das tirinhas de mesmo título, ambas feitas pelo criador Juliano Enrico. Isso por si só é motivo suficiente para escrever uma coluna sobre “Irmão do Jorel”… Sem falar, é claro, nas indicações e prêmios que ele ganhou.
Mas, verdade seja dita, esse não é o motivo que me levou a esse artigo.
Eu escrevo essa pequena dissertação pelo simples motivo de que “Irmão do Jorel” é muito bom!
Ele hoje figura entre os grandes nomes das animações do Cartoon Network, estando no mesmo nível de títulos como “Hora de Aventura” e “Steven Universo”. Na minha humilde opinião, “Irmão do Jorel” ocupa um lugar no panteão das grandes animações (salvo as devidas diferenças de temática e gênero), sem dever nada para séries impecáveis, como os supracitados “Steven Universo” e “Hora de Aventura”, ou “Gravity Falls”, o novo “DuckTales” e “Avatar: The Last Airbender”.
Na minha opinião, o que faz “Irmão do Jorel” tão bom (pelo menos para o espectador brasileiro) é que, apesar de tão excêntricos os personagens possam parecer à primeira vista, no fundo você conhece alguém que é exatamente daquele jeito. Quem não tem um amigo (ou é o amigo) que é sempre comparado com o irmão mais velho? Ou a avó que está sempre sentada na frente da TV e reclamando? A mãe (nem que seja a mãe de um amigo) que é geração saúde? Ou aquela avó que está sempre querendo fazer você comer um pouco mais? O pai de família que era um rebelde na juventude? O adolescente roqueiro que tem uma banda de garagem?
Tudo bem. Lendo as descrições que eu fiz, percebi como elas podem soar específicas. Mas até hoje eu não tive sequer um amigo que assistiu à série sem comentar: “eu conheço alguém que é igual [insira aqui um personagem]”. A vovó Gigi mesmo lembra muito uma das minhas avós, e um dos meus melhores amigos é o “irmão do Jorel” da família dele.
Talvez meus amigos e eu nos identifiquemos com a série por termos nascido/crescido nas décadas de 1980 e 1990. Só de ver a série você percebe que o criador, Juliano Enrico, baseia as histórias na vivência dessas épocas. E, por mais fantasiosas que as situações às vezes fiquem nos episódios, sempre tem uma parte que você pode fazer um paralelo bem próximo com a sua vida. Muito mais que com qualquer série norte-americana. De referências como os filmes de ação dublados que sempre passavam na Sessão da Tarde/Cinema Em Casa (que na série são personalizados pelo ator Steve Magal e seus filmes que têm sempre “Brutal” no título) até banalidades do dia a dia, como ir ao mercadinho comprar um refrigerante para sua avó e pegar todo o troco em bala. Mesmo o cenário ao fundo tem um algo mais brasileiro, quando, por exemplo, eles estão na cozinha e você vê um personagem pegando água em um filtro de barro (em quantos seriados norte-americanos você já viu isso?).
Um dos melhores pontos que a série traz nesse quesito é que toda vez que Seu Edson, o pai da família, vai falar do seu passado no teatro na década de 1970, ele ressalta que eram os sombrios tempos “quando os palhaços estavam no poder”, referindo-se à Ditadura Militar no Brasil (militares que na série são sempre representados por palhaços) e as muitas pessoas (no caso específico, os muitos artistas) que lutaram contra ela, apesar de toda a repressão e violência por parte do governo.
E esse é um ótimo momento para aqueles que querem começar a seguir “Irmão do Jorel”: neste mês de abril, a quarta e nova temporada está sendo lançada no Cartoon Network, e os episódios antigos estão sendo transmitidos pela TV Cultura.
Eu espero ter convencido você a dar uma chance para “Irmão do Jorel”, seja para valorizar o produto nacional, seja porque vai te lembrar da sua infância, seja porque a família dele seja parecida com a sua, seja porque a série é realmente muito engraçada.
Eu vou admitir que (como a maioria dos meus textos) não sabia como terminar esse. Então, vou deixar aqui uma das muitas sabedorias que aprendi em “Irmão do Jorel”, com o personagem Seu Edson: “As vezes, na vida, não acontece nenhuma lição… Acontece só um monte de doidera mesmo!”