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Imigrantes indocumentados e o medo do coronavírus em Massachusetts

“Estamos sem emprego e não teremos acesso a ajuda do governo”

Trabalhadores indocumentados há muito tempo ocupam milhares de empregos em Massachusetts, em canteiros de obras, cozinhas de restaurantes, equipes de limpeza etc. E, como seus colegas de trabalho, muitos foram demitidos, pois os esforços para conter a disseminação do Covid-19, o novo coronavírus, paralisou a vida cotidiana.

Mas há uma diferença crucial: imigrantes indocumentados não podem acessar benefícios de desemprego. Três pessoas que chamam a área de Boston de lar, mas não têm status legal, compartilharam com o WGBH News seus medos relacionados a como sobreviver sem um salário e, durante uma piora da crise de saúde pública, o medo de acessar ajuda médica.

Uma mulher de East Boston disse que veio de El Salvador com seus dois filhos depois que seu pai foi assassinado. Ela, que não quis ser identificada pelo nome, perdeu recentemente o emprego de cozinheira, quando o restaurante para o qual trabalhava fechou por causa do coronavírus. O marido, o irmão e a cunhada também perderam o trabalho no restaurante, segundo ela.

Por não serem documentados, nenhum deles pode coletar desemprego. “Não sabemos se os restaurantes ficarão fechados por duas ou três semanas”, disse ela em espanhol. “É isso que o proprietário está dizendo, mas na verdade não sabemos com certeza quando começaremos a trabalhar. É realmente preocupante, porque não sei como a família vai comer? E as contas ainda estão chegando, temos que pagar o aluguel”, continuou.

Ela destacou que isso está preocupando a todos, pois não sabem o que fazer para sobreviver. Sua voz embargou ao descrever as pessoas saindo de supermercados com estoques de comida. A imigrante pediu aos que tinham dinheiro que pensassem naqueles que não tinham. “Pense um pouco nas pessoas que vão aos supermercados e não têm os mesmos recursos que essas pessoas para comprar dois carrinhos de compras ao mesmo tempo”, disse.

Marion Davis, da Massachusetts Immigrant & Refugee Advocacy Coalition (MIRA), disse que a maior preocupação é que a maioria dos imigrantes sem documentos tenha dificuldade de comprar alimentos.

Não há recursos oficiais projetados para pessoas indocumentadas e os advogados estão lutando para coletar doações para fundos de caridade.

O guia de “Recursos Covid-19”, divulgado pela Prefeitura de Boston e destinado a imigrantes “independentemente do status da imigração”, indica o Project Bread, sem fins lucrativos, que possui uma linha direta da FoodSource e atende quem precisa de comida.

Em Revere, uma mulher que se indentificou apenas como Flor disse que estava recebendo comida de uma igreja local. Ela mora sozinha e trabalhava em uma padaria local durante o dia e como atendente em um clube à noite.

Há duas semanas, ela disse que perdeu os dois empregos em apenas um dia. Como muitos outros imigrantes, Flor também se preocupa com os membros de sua família que ainda vivem na Colômbia. “Não sei como vou pagar o aluguel, pagar pela comida e eu estou mais preocupada com minha família na Colômbia, porque ela também entrou em quarentena”, disse.

Alguns pessoas indocumentadas decidem tornar público seu status para ajudar seus colegas imigrantes. Nelson Hernandez, de Framingham, atua em um grupo chamado La Voz de la Comunidad. Ele disse que perdeu o emprego na área de construção quando seu chefe mandou todos para casa por causa do vírus. Agora, se preocupa em alimentar sua esposa e dois filhos. “Muitas pessoas têm medo e não conhecem seus direitos, estão em pânico sem saber o que fazer, o que farão para pagar aluguel, luz ou comida”, disse ele.

“Se eles pedirem um toque de recolher. O que nós vamos fazer? Ninguém sabe como enfrentar isso. Está uma bagunça, um momento histórico no mundo”, continuou.

Além disso, há outra preocupação que pode impactar os esforços de saúde pública para conter o Covid-19: medo de ir a um hospital.

“Não sabemos se todo mundo se sentirá seguro ao receber ajuda médica, fazer exames ou ser tratado, porque tivemos três anos de medo muito intenso em nossas comunidades”, disse Davis.

“Estamos ouvindo há muito tempo que os imigrantes estavam evitando clínicas e hospitais com medo de serem presos pelo Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, sigla em inglês).

Hernandez disse que iria a um hospital, se necessário, mas que conhece outras pessoas preocupadas com o ICE. Ele conhece pessoas que foram presas em hospitais ou clínicas. “Tenho muitos amigos que me disseram que têm medo, porque mesmo as pessoas estando em casa e o ICE chega, elas acreditam que serão presas e deportadas”, finalizou. (Fonte: Brazilian Times)

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