Depois de amarrar proteção contra cobras até os joelhos e inclinar a cabeça para invocar a proteção de Deus, Oscar Andrade marchou para um deserto remoto em uma madrugada de domingo para procurar um imigrante que estava desaparecido desde o final de julho.
O pastor pentecostal de Tucson, no Arizona, passou três horas sob um calor escaldante que subiu acima de 38 graus Celsius, fugiu de um leão da montanha, duas cascavéis e pelo menos um escorpião, antes de fazer uma pausa para ligar para a tia de outro imigrante desaparecido. Ele acreditava ter encontrado o crânio do jovem.
“Muita força, minha querida irmã”, disse-lhe Andrade. “Às vezes não entendemos, mas há uma razão pela qual Deus permitiu isso”, acrescentou.
Na quarta busca por aquele homem de 25 anos do estado mexicano, o pastor e seu grupo de resgate e recuperação chamado Capellanes del Desierto (Capelães do Deserto) encontraram o documento de identificação em uma carteira a 12 metros de um crânio e outros ossos que foram limpos pelos animais e pelo sol implacável.
Desde março, Andrade recebeu mais de 400 ligações de famílias cujos os parentes – doentes, feridos ou exaustos – foram deixados para trás por contrabandistas nas fronteiras.
Especialistas forenses estimam que 80% dos corpos no deserto nunca são encontrados, identificados ou recuperados. Mas aqueles que são, apontam para uma das temporadas mais mortais já registradas no sempre perigoso sudoeste da fronteira.
O grupo não encontrou todos os imigrantes que procurou, principalmente, porque a região é um dos corredores mais mortíferos, de acordo com as informações.
O local possui acampamentos guardados por batedores de cartéis de drogas em áreas onde a fronteira não tem cercas ou barreiras e os migrantes caminham para o norte por mais de uma semana para fugir da fiscalização. Eles têm que atravessar dezenas de quilômetros de montanhas desérticas e secas antes de chegar às principais rodovias, onde os veículos dos contrabandistas os levarão a destinos nos Estados Unidos.
A fé muitas vezes motiva organizações voluntárias que prestam ajuda ao longo da fronteira. Os capellanos, que procuram os desaparecidos pelo menos uma vez por semana, rezam com as famílias enlutadas e não cobram pelas buscas. Eles trabalham em estreita colaboração com a polícia, notificando a Patrulha da Fronteira dos Estados Unidos (CBP, sigla em inglês) de todas as buscas e, em seguida, as autoridades locais caso encontrem restos humanos, como aconteceu quase 50 vezes. Brazilian Times