Gestores públicos e profissionais da saúde discutem em Valadares soluções no combate à hanseníase

No final do século XX, a cidade de Governador Valadares foi cenário e símbolo de combate à hanseníase, doença que, até a década de 80, era considerada incurável. Foi necessário o esforço e o empenho do poder público, em parceria com profissionais da saúde que se dedicaram a estudar o assunto.

A alta incidência da hanseníase levou a cidade a ser uma das pioneiras no tratamento, iniciado em 1987, o qual contribuiu para as mudanças das ações de controle da doença. Agora, tendo se passado quase 40 anos, o combate à hanseníase possui outros aspectos e desafios a serem enfrentados pelos pacientes e pelos profissionais da saúde, como: a falta de conhecimento da doença por parte da população, o preconceito e a dificuldade no diagnóstico.

“Infelizmente, aqui em Governador Valadares e nossa região no Vale do Rio Doce tem muitos casos de hanseníase. E nossa preocupação maior é com o preconceito, porque o próprio paciente acha que é um leproso, e não é mais igual há tempos atrás. Hoje, a partir da primeira dose, a pessoa já deixa de transmitir. O nosso seminário é para combater o preconceito e a própria doença em si”, explicou Pedro Ferreira de Paula, organizador do 3º Seminário Municipal Hanseníase.

Pedro Ferreira de Paula, organizador do 3º Seminário Municipal Hanseníase – Crédito: DRD/ TV Leste

Em 2022, a doença ainda é um motivo de preocupação de saúde pública. Durante a realização do seminário, a secretária municipal de Saúde, Caroline Martins Sangali, destacou a importância do atendimento oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a necessidade de Governador Valadares capacitar os profissionais para atender a demanda municipal e também de pacientes de outras cidades da região. 

“A hanseníase é uma doença endêmica na região. Então a gente precisa prevenir, para que evite as consequências, principalmente a incapacidade física. Por isso é importante capacitar e conversar sobre essa doença com outras cidades e também para a nossa cidade […] Eles [os municípios da região] precisam se capacitar para saber quando mandar [esses pacientes] e diagnosticar precocemente. O conhecimento trocado entre os municípios é extremamente importante para a política pública e para a saúde como um todo”, disse Caroline Sangali.

Caroline Martins Sangali, secretária de Saúde de Governador Valadares – Crédito: DRD/ TV Leste

O avanço dos estudos acadêmicos sobre a doença nos últimos anos tem contribuído para a descoberta de novas abordagens e métodos de combate à hanseníase. O professor e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora Marcio Souza tem se dedicado a unir saúde e tecnologia para apresentar novas soluções de como abordar o procedimento do diagnóstico do paciente com a doença. A ideia, por exemplo, de utilizar inteligência artificial faz parte de um projeto desenvolvido dentro de uma startup.         

“A gente está desenvolvendo um termo teste, que é uma caneta tecnológica para fazer medição da perda de sensibilidade. Hoje o que temos para o diagnóstico é uma coisa muito rudimentar, que é um tubo de ensaio que você aquece e esfria, só que ele é muito calibroso às vezes. Então a gente precisa de algo mais fininho, mais pontual e também que a temperatura fosse mais regulável, para dar um pouco mais de precisão. Tem artigos científicos apontando que a perda de sensibilidade é uma das mais importantes variáveis para o diagnóstico dessa doença. Então a gente vem desenvolvendo soluções com o uso de inteligência artificial”, disse Márcio Souza, um dos palestrantes no seminário. 

Márcio Souza, um dos palestrantes no seminário – Crédito: DRD/ TV Leste

Sobre o seminário

Nesta quinta-feira (30) foi realizado o 3º Seminário Municipal de Hanseníase em Governador Valadares, com o tema ”Encarar de frente é a solução”. O evento contou com a participação de gestores municipais e profissionais da saúde, de Valadares e dos municípios da região, para debater soluções e apresentar iniciativas que auxiliem no combate à doença. 

3º Seminário Municipal Hanseníase – Crédito: DRD/ TV Leste

Atendimento a pacientes com hanseníase em Valadares 

As pessoas que precisam de atendimento relacionado à hanseníase podem procurar o Centro de Referência em Doenças Endêmicas e Programas Especiais Dr. Alexandre Castelo Branco (CREDEN-PES), que está localizado na rua Osvaldo Cruz, 21, Centro. O telefone de contato é o (33) 3275.4713. O atendimento acontece de segunda a sexta-feira, em horário integral, das 7 às 17h.

Sobre a doença

A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa, de evolução crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Atinge principalmente a pele, as mucosas e os nervos periféricos, com capacidade de ocasionar lesões neurais, podendo acarretar danos irreversíveis, inclusive exclusão social, caso o diagnóstico seja tardio ou o tratamento inadequado.

Crédito: Reprodução/ Arquivo Pessoal/ Márcio Souza

A imprecisão sobre a origem e datação da hanseníase não incide sobre a constatação histórica de que a hanseníase é uma das doenças mais antigas da humanidade. A discussão sobre a origem da hanseníase no continente asiático ou africano ainda se mantém entre os especialistas.

As lesões neurais decorrentes conferem à doença um alto poder incapacitante, principal responsável pelo estigma e discriminação às pessoas acometidas pela doença. Informações sobre a Hanseníase: Ministério da Saúde 

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