por MARCELO TOLEDO BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Uma formação vulcânica de mais de 80 milhões de anos é a base que produtores de 12 cidades de Minas Gerais e de São Paulo têm usado para plantar café e vender de forma coletiva.
Numa área de 800 quilômetros quadrados, que inclui cadeias de montanhas da serra da Mantiqueira e altitudes que chegam a 1.500 m, tendo como principal cidade Poços de Caldas (MG), os cafeicultores produzem um grão que se notabiliza por ter características cítricas mais presentes que em outras regiões, com tendência para frutas como abacaxi, maracujá e laranja.
O corpo é cremoso, denso e com finalização longa, segundo o agrônomo Leandro Paiva, docente do Instituto Federal Sul de Minas e que tem atuado no processo de desenvolvimento dos cafés da região vulcânica.
A área engloba oito cidades mineiras (além de Poços, Andradas, Bandeira do Sul, Botelhos, Ibitiúra de Minas, Cabo Verde, Caldas e Campestre) e quatro paulistas (São Sebastião da Grama, Divinolândia, Caconde e Águas da Prata), e a marca coletiva de café já abrange 400 produtores. A meta é terminar o próximo ano com mil associados, num universo de 12 mil cafeicultores -a maioria pertencente à agricultura familiar.
O embrião do projeto surgiu há dez anos. O café já estava lá, claro, mas a proposta de criar uma marca explorando as características da região começou em 2011 num curso do próprio Paiva.
“No curso surgiu a discussão sobre a riqueza do solo vulcânico. Era uma riqueza que tínhamos, mas não explorávamos. Além disso, no trabalho na região, vimos que tinha várias propriedades, fazendas, fazendo trabalho, buscando qualidade dos cafés, um diferencial no mercado, só que cada um isolado, cada um por si”, disse Ulisses Ferreira, diretor-executivo da Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica.
As discussões se aprofundaram e a marca foi lançada oficialmente há um ano, na SIC (Semana Internacional do Café), em Belo Horizonte, numa edição virtual devido à pandemia da Covid-19.
No evento deste ano, entre 10 e 12 de novembro, a produção de café num solo como o existente na divisa entre os estados foi tema de um painel no encerramento do evento.
“É uma caldeira de 80 milhões de anos, extinto, que o solo subiu, 800 quilômetros quadrados de área e atrás disso veio um solo muito fértil, muito rico, com altitude, temperaturas amenas à noite, radiação [solar] muito alta durante o dia”, disse Marco Sanches, presidente da associação.
Esse quadro faz com que o terroir seja diferente do existente em outras regiões produtoras de cafés especiais no país. Espalhadas por 12 estados, as principais regiões disputam um mercado que deve consumir 1,1 milhão de toneladas de café torrado neste ano, conforme dados da Euromonitor, empresa que realiza pesquisas de mercado.
“Poços não é grande, mas a região sim. O solo é muito fértil e os cafés conseguem retirar de tudo isso um terroir completamente diferente”, disse Sanches.
Rico em potássio e fósforo, embora o solo tenha em comum o terroir vulcânico em todas as cidades, foram encontrados quase 30 tipos de solos somente nas bordas da caldeira vulcânica, segundo Paiva.
“Achamos que encontraríamos um terroir vulcânico, mas encontramos vários […] Trabalhamos nessa questão para ver se chegaremos a uma característica única, para futuramente talvez buscarmos uma denominação de origem desse café”, disse.
A denominação de origem designa um produto cuja qualidade se deve ao meio em que está inserido. É diferente da chamada indicação de procedência, que se refere a um local ou região que se tornou conhecido como centro de produção de algo.
Paiva disse que, por enquanto, a criação da marca coletiva de café casa melhor com a proposta dos cafeicultores da região.