Evento do Projeto Conecta discute participação feminina na política

Maioria do eleitorado, mulheres têm pequena presença no Legislativo

Por Flávia Albuquerque – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

Um grupo de mulheres que participou de dois ciclos de mentorias em liderança política organizados pelo Projeto Conecta, que visa acelerar a participação feminina na área, reuniu-se sexta-feira (29), na capital paulista, para trocar experiências sobre a importância do engajamento no desenvolvimento do país. No grupo estavam mulheres de 24 estados, integrantes de 31 partidos diferentes, que, depois do curso, estão prontas para disputar cargos eletivos ou atuar em campanhas políticas nas eleições deste ano.

O objetivo das mentorias foi fornecer conhecimentos sobre liderança, marketing digital, política e gestão pública e sobre os obstáculos que atravessam a trajetória das mulheres no espaço público. Segundo a Conecta, atualmente, a taxa de representação feminina no Brasil é de apenas 15% na Câmara dos Deputados e de 14% no Senado Federal, embora as mulheres constituam 52,8% do eleitorado brasileiro.

De acordo com a especialista em políticas públicas Luana Tavares, fundadora da Conecta, o papel da mulher na política do país é essencial, as demandas da sociedade são complexas e, para atender essa complexidade e gerar políticas públicas que realmente consigam chegar mais perto do que é a realidade da sociedade, é preciso englobar o maior número de perspectivas possíveis.

“As mulheres representam 45% dos arrimos de família no Brasil. São quase metade da força empreendedora. É inadmissível só termos 15% de participação na política, que interfere na vida de todos os brasileiros, de todos os lares, comandados por mulheres, ou não, que estão atuando com importância social e econômica muito grande, mas que não estão participando das principais decisões do país”, afirmou Luana.

Segundo ela, em locais onde há mais participação feminina na política, há menor taxa de corrupção, maior prioridade para políticas específicas para mulheres, com mais atenção para questões como violência doméstica, empregabilidade feminina, diferença salarial, jornada de trabalho, creche. Luana reformou que, ao trazer mais mulheres para as mesas de decisão, todas as políticas públicas são impactadas.

“As políticas públicas precisam impactar de forma geral. As mulheres precisam estar em todas as áreas. Para a mulher atuar e se emancipar financeiramente e escolher seu caminho na vida, ela precisa saber que pode deixar o filho na creche, que tem o amparo de uma política pública, que é direito dela e de todas as crianças, bem estruturada”, ressaltou a especialista.

De acordo com Luana, é importante ver a participação da mulher na política não como algo que exclua o homem ou que crie segmentação, mas que busque a igualdade de gênero, colocando as discussões no centro do debate, com múltiplas visões para enriquecer. “Quem vai se beneficiar no final são as mulheres e meninas, e toda a sociedade. O impacto é direto. Mas não basta só termos mais mulheres, precisamos de mulheres que tenham as condições e a capacidade de exercer esse papel político, que é muito complexo, exige preparação.”

De acordo com ela, 75% dos candidatos que não receberam nenhum voto nas últimas eleições são mulheres que entraram para a política, não necessariamente para disputar cargos, mas para atender à política de equilíbrio de gênero, que é obrigatória no país.

Luana reforçou que, para aumentar essa participação, é necessário capacitar as mulheres para que disputem as eleições com o desejo de vitória, construindo as candidaturas de forma profissional, valorizando todo potencial político que elas têm. “Os partidos ainda têm dificuldade de formar mulheres de forma estruturada para competir nas eleições. A sociedade também tem que estar aberta a olhar a mulher como uma das opções que possam de alguma forma atender aos critérios.”

Para Luana, o número de mulheres na política ainda é baixo por existirem diversas barreiras como a histórica, já que a posição de poder na política ainda é muito atribuída ao homem e, por isso, no momento do voto a sociedade, prioriza o candidato masculino. “Isso resulta em uma série de obstáculos no dia a dia para aquela mulher que quer entrar nessa área. Essas que querem participar encontrarão um ambiente extremamente machista, não preparado para receber mulheres. Isso vai concentrando o poder de tomada de decisões.”

Postura colaborativa

A advogada Ludmilla Mota, de 28 anos, residente no Distrito Federal, tinha interesse em se candidatar a deputada distrital, mas não sabia por onde começar e, ao saber do ciclo de cursos oferecido pela Conecta, avaliou que este seria o melhor caminho para obter as informações necessárias para iniciar sua jornada.

“Infelizmente, muita gente ao meu redor ficou preocupada e me disse para não ir, porque olham a política como uma coisa ruim ainda. Então eu pensei, preciso de um grupo do qual eu possa me aproximar, conhecer as pessoas, para ter não só informação, suporte e mentoria, mas ter rede de apoio”, disse.

Segundo Ludmilla, o interesse veio por conta da importância da representatividade, por querer ver mais mulheres na política. “Eu sempre ficava esperando outras mulheres virem, até que chegou o momento em que me questionei sobre o motivo de eu não poder ser a candidata, porque sei que tenho formação, qualificação e contribuições para dar. Então, decidi.”

Ludmilla contou que, quando iniciou o processo, não sabia como formar uma equipe e organizar uma campanha. A principal dúvida era sobre quais pessoas deveria unir nesse time, como me conectar com os eleitores e como lidar com as dificuldades. “Eu, por ser advogada, conhecia a parte eleitoral, mas não sabia como dar o primeiro passo. Sabia que ia precisar de dinheiro, do apoio de um partido, mas não entendia a parte prática”, afirmou.

A advogada ressaltou que, depois da mentoria, sente-se segura para entrar no universo da política, mesmo tendo consciência de que enfrentará obstáculos, desde assédio físico até moral. “Hoje eu sei que tenho pessoas me apoiando e que, se eu precisar em algum momento da campanha, elas estarão ali para me dar esse suporte.”

As expectativas da futura candidata com sua própria postura perante todo o processo são as melhores possíveis. Ela disse acreditar que estará muito mais segura, firme e com pessoas fortes a seu lado. “E que não só eu saia eleita, mas que muitas outras outras mulheres consigam. Hoje eu vejo como as mulheres estão fortes e procurando instrução para atuar na política.”

Para Ludmilla, a presença de mulheres na política traz representatividade e olhar mais colaborativo, transformando o que, a seu ver, virou uma briga, oposição por oposição. “Eu vejo que a mulher, de modo geral, tem a tendência a cuidar das outras pessoas. Com mais mulheres no poder, vamos conseguir ter esse ambiente para encontrar soluções para os diversos problemas que temos”, finalizou.

Edição: Nádia Franco

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