GOVERNADOR VALADARES – Na última quinta, dia 23, o ator valadarense Ricardo Teodoro ganhou o prêmio de ator revelação no Festival de Cannes, na França. Ele é um dos protagonistas de Baby, filme brasileiro dirigido por Marcelo Caetano, que ficou entre os sete selecionados da mostra competitiva. O 77º Festival Anual de Cinema de Cannes aconteceu de 14 a 25 de maio. Ricardo Teodoro venceu o prêmio de Melhor Ator Revelação na 63ª Semana da Crítica do Festival de Cannes.
“Agora faço parte de um seleto grupo no cenário nacional que ganhou esse prêmio. Antes de mim apenas 3 atores ganharam, Veloni, Fernanda Torres e Rodrigo Santoro, e eu sou o quarto, então, de alguma forma, faço parte da história do cinema e em Cannes, o maior festival de cinema do mundo, então, ainda estou ‘’embasbacado’’ e muito feliz também”, disse Ricardo Teodoro em entrevista ao DRD.
De Valadares para o mundo
Ricardo nasceu em Governador Valadares e foi criado em São José da Safira – município no Leste de Minas com menos de 4 mil habitantes – e a aproximadamente 90 km de Valadares – e iniciou a jornada na carreira artística com a Cia de Artes Asas do Invento. Em seguida o ator alçou voos para outros lugares do Brasil participando de novelas, séries e outras produções no audiovisual. O DRD conversou com o ator para saber um pouco mais sobre a carreira dele e também da premiação em Cannes.
Igor França – Como e quando foi o início da sua carreira como ator e qual sua relação com a cidade de Governador Valadares?
Ricardo Teodoro – Então eu iniciei meu trabalho de ator em Governador Valadares. Eu sou nascido em Valadares e fui criado em São José da Safira. Acho importante frisar isso, né? Que eu sou nascido aí, fui criado em Safira. Depois eu fiz o ensino médio em Valadares no Estadual, né? Que é um colégio importante da cidade e tal. E eu iniciei com a Nazza Amaral, que é minha primeira professora, minha grande mestra, que eu amo muito. E comecei em 2008 com a Nazza. Fiz parte do Asas do Invento, que é o grupo mais antigo da cidade.
Dos palcos para as telas do cinema
Igor França – Como surgiu a oportunidade de participar do filme?
Ricardo Teodoro – Marcelo Caetano fez uma série chamada Notícias Populares, que está no Globoplay com o Canal Brasil. Ele fez um formulário nacional. Eu consegui entrar para fazer parte do elenco através desses testes, que iniciaram esse formulário nacional. Foram quatro testes para fazer um personagem nessa série chamado Faísca. Depois do Faísca, o Marcelo já estava há sete anos produzindo esse longa dele. Então a gente começou essa parceria aí. Ele visualizou em mim a possibilidade de fazer esse protagonista, junto com o João Mariano, de Baby. E foi assim. Então ele me chamou para fazer esse segundo longa dele chamado Baby.
Igor França – Fale mais um pouco sobre seu personagem…
Ricardo Teodoro – Eu acho que o Ronaldo é um personagem muito interessante no sentido de que ele representa muitos brasileiros que saem das suas casas em busca de oportunidades nos grandes centros. Então é um personagem que mora no centro de São Paulo e se adapta a aquelas circunstâncias ali. Fazer no centro de São Paulo a maior cidade do Brasil, que recebe gente do mundo inteiro, que recebe gente do país inteiro em busca de oportunidades. Então como é que você se adapta a isso? Acho que é um personagem que tem essa facilidade. Ao mesmo tempo ele tem esse senso de urgência, que é um dia mais um dia pelo outro com muita vontade de dar certo, de sagacidade. Não tem muito tempo da reflexão. É um cara que é o tempo da ação, do movimento, de atravessar as ruas, de atravessar as avenidas, de correr atrás da vida, de conseguir a sua existência dia a dia. Então é assim esse personagem. É um personagem muito gratificante de ter feito. Ele tem várias facetas.
Premiação em Cannes
Igor França – O que você acha que chamou atenção do júri na sua atuação dele no filme?
Ricardo Teodoro – Olha, pelo que o júri falou, eles gostaram bastante da interpretação, no sentido que é um personagem muito complexo, né? Então dar conta de personagens complexos faz com que vislumbrem você um grande ator, gostem do seu trabalho. Lógico que tem um roteiro que é muito bem escrito, muito bem feito. O João é um parceiro de cena maravilhoso. Então, assim, isso tudo engrandece o seu trabalho pra você conseguir esse prêmio. Como eu consegui, mas poderia ser o João a ter conseguido. O filme é grandíssimo. Então, assim, eu acho que o meu personagem proporciona essa empatia que fez com que os jurados gostassem, e, claro, gostar da minha forma de atuar. Eles falavam que, de alguma forma, eles entenderam a complexidade do personagem através da vivência que eu dei, porque, às vezes, o roteiro é complexo, mas a gente… Talvez o ator. Não consigo chegar àquelas emoções ali e aí eu sinto que foi isso, que deu certo por isso.
Na história do cinema nacional
Igor França – E o que essa premiação significa pra você?
Ricardo Teodoro – Essa premiação significa muito, pois o festival de Cannes é o maior festival de cinema do mundo. As pessoas precisam entender que o Oscar é a grande premiação americana e tem muitas particularidades. Cannes é um festival mais amplo no sentido de indústria e no sentido de filme de arte. Nosso filme chegar depois de 1.050 inscritos, ser selecionado entre apenas 7 e você sair como melhor ator/ator revelação desse festival, é muito importante. Agora faço parte de um seleto grupo no cenário nacional que ganhou esse prêmio. Antes de mim apenas 3 atores ganharam, Veloni, Fernanda Torres e Rodrigo Santoro, e eu sou o quarto, então, de alguma forma faço parte da história do cinema e em Cannes, o maior festival de cinema do mundo, então, ainda estou ‘’embasbacado’’ e muito feliz também.
Sobre o filme
Baby conta a história de Wellington, conhecido como Baby (João Pedro Mariano), que, ao deixar o centro de detenções, fica sem apoio familiar e é acolhido por um garoto de programa chamado Ronaldo (Ricardo Teodoro). O jovem também recebe o apoio de Priscila (Ana Flavia Cavalcanti) e sua companheira, Janaína (Bruna Linzmeyer), dando para Baby um novo lar e uma nova família.
Baby, o segundo longa-metragem do diretor Marcelo Caetano. Durante uma visita a um cinema, Baby conhece Ronaldo e está determinado a ensinar as malícias da vida e novas formas de sobreviver. A partir de então, os dois iniciam uma relação tumultuada, marcada por conflitos entre exploração e proteção, ciúme e cumplicidade. Ambientado em um cenário urbano vibrante, Baby explora as complexidades das conexões humanas e os desafios de se reintegrar na sociedade após o período de detenção.
A estreia mundial do longa aconteceu na última terça-feira, 21, e contou com a participação do diretor, Marcelo Caetano, do vencedor do prêmio, Ricardo Teodoro, e de outros artistas do elenco, como João Pedro Mariano, Ana Flavia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer e Cleo Coelho.