Empresária valadarense é vítima de golpe no whatsapp

Fernanda Rodrigues da Silva teve o whatsapp clonado e amigos começaram a receber mensagem de solicitação de transferências, depósitos e pagamentos de boletos

No fim tarde de ontem (15), a psicóloga e empresária Fernanda Rodrigues da Silva foi vítima de um golpe e teve o whatsapp clonado. Pessoas que constavam em sua agenda de contatos começaram a receber mensagens com solicitações de transferências, depósitos e até pagamentos de boletos. Golpes do tipo foram uma constância durante todo o ano em Valadares, segundo a Polícia Civil.

De acordo com Fernanda, no momento em que digitava um contrato de prestação de serviço, seu telefone tocou com a pessoa se identificando como representante de um programa de entrevistas, do qual a empresária havia participado há um mês e meio. Pelas informações passadas no telefonema, ela achou que fosse uma segunda solicitação de entrevista, e acabou passando o código do whatsapp.

“Estava no viva voz digitando um contrato. A pessoa falava que já tinham meu e-mail e que chegaria uma mensagem de confirmação do número. A pessoa passou vários conteúdos, como minha profissão, a entrevista que tinha já feito e outras informações que indicavam ser verdadeiras. Pediram para verificar no e-mail a mensagem com a numeração e acabei falando o número para a pessoa. Depois caiu a ficha, pois a ligação deu uma parada, e depois justificaram que as informações estavam sendo colocadas no banco de dados deles. Foi um vacilo de segundos, nem li a mensagem que chegava dizendo que não é para fornecer os números”, disse,

Após a orientação de um amigo, que até tentou resgatar a conta de outra forma, a empresária foi à operadora tentar cancelar o chip, mas precisava fazer um boletim de ocorrência. Nesse meio tempo, ela postou em suas redes sociais o alerta sobre a clonagem de seu whatsapp.

“Na operadora eu expliquei da minha necessidade, pois a conta era usada no trabalho também. Só que eles fizeram a troca do chip como uma venda normal, sem fazer nenhum acionamento para a operadora em relação ao whatsapp. Para me resgatar dessa situação, fui ao posto de polícia do GV Shopping, mas lá não fizeram o boletim de ocorrência. Os policiais que estavam lá alegaram que o estelionato tentado não é crime, o único crime seria se uma das pessoas que receberam as mensagens chegasse com a queixa dizendo que havia feito a transferência. Não me dei por satisfeita. Querendo me resguardar e também meus contatos, fui ao posto de polícia do Altinópolis. Quem me atendeu foi a cabo Gabriele, e expliquei a minha situação. Ela prontamente fez a ocorrência, colocando os dois nomes de conta que estavam pedindo a transferência nas mensagens aos amigos, mas em outras mensagens que chegavam tinha mais outros quatro nomes. Logo começaram a chegar as ligações de amigos, tanto no meu celular como no telefone da empresa, avisando sobre mensagens minhas solicitando transferências, depósitos e até pagamentos de boletos em valores que variavam de R$ 980 a R$ 5.000. Foram mais de cem ligações recebidas”, contou Fernanda.

Segundo a empresária, ela mandou um e-mail para o suporte do whatsapp pata tentar ver o que poderia ser feito, e a primeira resposta foi sobre procedimentos que ela já havia feito. Hoje de manhã (16/12) chegou um segundo e-mail, avisando que a conta seria suspensa daqui a 30 dias se não fizesse o requerimento de recuperação. Ela ressalta que recebeu um código e só poderá tentar daqui a 24 horas a recuperação, o que, segundo ela, não é garantido.

Fernanda destaca que até o momento nenhum dos seus contatos confirmou que fez depósitos. Apesar disso, lamenta muito esse momento vivido, pois é um misto de constrangimento e raiva. “Acredito que eles mandaram para toda a minha lista de contatos, e eu tenho mais de dois mil contatos na minha agenda. Até pessoas que tinham pouco contato comigo entraram em contato, achando estranhas as mensagens. Em minha agenda tem muitos contatos de pastores. Teve uma pastora do bairro São Paulo, por exemplo, que falou para uma amiga missionária que só estava esperando a neta chegar para me ajudar com o dinheiro que foi pedido. Tive que explicar que não era eu. Além das solicitações de dinheiro, as mensagens continham um emoji de beijinho. Essa situação trouxe outros constrangimentos, pois a esposa de um colaborador nosso da funerária achou estranha a mensagem que ele recebeu à noite em meu nome pedindo dinheiro e mandando beijo.”

Além da empresária, um caminhoneiro de Valadares quase caiu em um golpe parecido. Ele, que não quis ser identificado, relatou que conversava com um amigo em ligação pelo whatsapp. Após a finalização do contato, recebeu uma mensagem do suposto amigo que havia esquecido de avisar que também tinha trocado o número de celular e o número da conta, e que era para depositar o dinheiro de uma compra em comum que eles estariam realizando.

O caminhoneiro desconfiou e ignorou a mensagem, apesar de ficar preocupado, sem saber se era verdade. O valor pedido foi de 5 mil reais e seria uma solicitação de um amigo caminhoneiro e colega de estrada.

Delegada da Polícia Civil alerta para esse tipo de golpe

A delegada da Polícia Civil Juliana Fiúza destaca que golpes desse tipo têm acontecido com frequência na região de Valadares, mas com variações na execução. “Em nossa região esses tipos de golpes estão acontecendo diuturnamente, seja a clonagem de whatsapp, como também a montagem de um whatsapp, e nesse caso, especificamente, o golpista coloca a foto da vítima em uma conta criada. Os golpistas normalmente pegam as informações e fotos encontradas nas redes sociais, geralmente no Facebook e Instagram, e se fazem passar pela pessoa, mandando mensagem, solicitações de transferências e depósitos.”

Delegada da Polícia Civil Juliana Fiúza fez um panorama das ocorrências – FOTO: Fábio Velame

Juliana Fiúza ressalta que a Polícia Civil está atenta e faz os procedimentos necessários para apurar esses tipos de golpes. “A Polícia Civil já recebeu vários registros desse tipo de golpe. Registramos os boletins de ocorrências dessas pessoas e as vítimas são atendidas. A Polícia Civil tem um protocolo de identificação desse número utilizado, mas na maioria das vezes os golpistas cancelam os números após receber os valores, e aí ficamos sem a identificação mais precisa, porque há um cancelamento imediato da conta, além de eles usarem muitas vezes o CPF de outras pessoas, que também são vítimas.”

A delegada pede e orienta que as pessoas não deixem informações importantes nas redes sociais. Esse tipo de informação mais pessoal deve ficar mais restrita. Além disso, ressaltou a importância de quem utiliza o whatsapp fazer a verificação em duas etapas, para que a senha seja um dificultador para o golpista.

Segundo Juliana Fiúza, esse tipo de crime no whatsapp se encaixa como estelionato e falsidade ideológica, quando há o uso de foto e informações que não é da pessoa, e o golpista se faz passar por outra. As penas variam de 1 a 5 anos de prisão. No caso do estelionato, a vítima precisa comparecer à delegacia e fazer a representação. Já o crime de falsidade ideológica não, pois é um crime de ação pública incondicionada, mas orientou que a vítima procure a delegacia da mesma forma. “É importante que a vítima desse tipo de golpe registre a ocorrência para tomarmos as providências necessárias. Em Governador Valadares não temos uma delegacia específica de crimes virtuais, mas nem por isso deixamos de tratar o assunto. A gente consegue atender e orientar todas as vítimas desses casos.”

Sobre o panorama dos crimes em que os golpistas utilizam o whatsapp, a delegada revela que essa situação acontece desde o início de ano e teve um aumento com esse viés mais de falsidade ideológica no meio do ano. Ela ainda alerta que neste fim de ano vários outros tipos de golpes têm surgido e com muita frequência. “Além desses golpes de solicitações de transferências e depósitos de valores, outros aparecem, como os boletos falsos. A pessoa compra e recebe no e-mail boletos não verdadeiros e acaba pagando o valor para a conta de um golpista. Também tem o golpe do leilão, em que também são utilizadas as redes sociais de maneira fraudulenta para vender bens, móveis em site de leilão falso. Temos que ter muito cuidado, pois os valores nesses leilões aparecem muito abaixo do mercado, e as pessoas precisam ficar atentas, pois são características de que pode ter algo errado. O golpe do vendedor intermediário também tem ocorrido demais em Valadares. A pessoa vende produtos em sites, mas aí o golpista clona o anúncio do vendedor e faz o mesmo anúncio. A vítima não percebe e faz contato pelo anúncio falso e o golpista consegue uma intermediação da venda entre vendedor, e comprador e no fim da história a pessoa paga o valor para o golpista e não para o verdadeiro vendedor. Neste fim de ano não passo uma semana sem receber registro desse tipo de golpe. Quero alertar a população que não faça transações por telefone, que não faça a compra sem ver o produto e prestar atenção para quem está sendo feito o depósito.”

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