Doenças respiratórias e Covid-19: saiba os cuidados necessários

O DRD conversou com uma médica, especialista em pneumologia pediátrica, que dá orientações sobre os cuidados com doenças respiratórias no inverno

Dois mil e vinte tem sido um ano atípico. Estamos vivendo em meio a uma pandemia que atingiu proporções inimagináveis para o século XXI. A doença que causou tudo isso atinge o que temos de mais vital: nosso ar. A Covid-19 afeta, principalmente, o sistema respiratório, causando o que se chama de “síndrome respiratória aguda grave”. Justamente por isso, as pessoas que possuem doenças respiratórias crônicas ou que têm algum tipo de comprometimento relacionado ao sistema respiratório são consideradas como parte do grupo de risco para a Covid.

Paralelamente aos problemas provocados pela pandemia, temos o ciclo da natureza, que segue em curso relativamente normal. Chegamos a um período do ano em que a região de Governador Valadares tem um clima mais seco e frio. Com a entrada do inverno e a queda nas temperaturas, já é comum que a incidência de doenças respiratórias aumente. As orientações para o período são de cuidados redobrados, principalmente para quem lida com problemas crônicos.

Para saber mais sobre esses cuidados e sobre as melhores formas de se prevenir, seja para quem já faz parte do grupo de risco para Covid-19 ou quem não quer entrar nele, o DRD conversou com um a médica pediatra especialista em pneumologia. Confira abaixo as perguntas feitas à Drª Cláudia Ribeiro de Andrade, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

DRD — A incidência de doenças respiratórias normalmente aumenta no período mais frio. Estamos nos aproximando do inverno e as temperaturas este ano estão abaixo da média em boa parte do Sudeste. Além disso, aqui na região do Vale do Rio Doce temos tido uma quantidade de chuvas incomum para o período. Como tudo isso impacta nas doenças respiratórias?

Drª Cláudia Andrade — O aumento das doenças respiratórias no inverno ocorre devido a alguns fatores. Existem vírus que circulam mais nesta época do ano, ou seja, eles têm sazonalidade. Um dos exemplos é o vírus da gripe, o influenza. Além disso, devido ao frio, as pessoas tendem a ficar mais restritas em casa, em ambientes às vezes aglomerados e pouco ventilados, o que facilita a transmissão dos vírus respiratórios.

Por fim, o ar frio e mais seco pode ser mais agressivo ao sistema respiratório, pois pode prejudicar os mecanismos de defesa naturais que temos no revestimento interno das nossas vias aéreas. Esse ar frio e seco se torna ainda pior quando há poluição atmosférica. A umidade do ar em níveis adequados é benéfica à fisiologia respiratória. As chuvas em excesso podem favorecer o aparecimento de mofo e aumentar os ácaros dentro das casas, que, por sua vez, podem desencadear a piora dos sintomas de alergia respiratória, especialmente nas pessoas que têm rinite alérgica e asma.

DRD — O período frio só é ruim para quem já tem doenças respiratórias, ou quem não tem nenhuma doença crônica também precisa ter cuidado?

Drª Cláudia Andrade — Todos precisam ter cuidados para evitar as doenças respiratórias nesta época do ano, pois pessoas saudáveis também podem adoecer.

DRD — Falando em cuidados, que tipo de precauções nós podemos tomar para evitar o agravamento dessas doenças?

Drª Cláudia Andrade — É preciso ter alimentação saudável, com dieta rica em frutas, verduras, legumes. Recomenda-se hidratar-se de forma adequada, fazer atividades físicas, mesmo dentro de casa, e dormir bem.

É importante manter os ambientes da casa ventilados e limpos. Além disso, manter o calendário de vacinas em dia, com destaque para a vacina da influenza. É muito importante que as pessoas que têm asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou rinite alérgica mantenham o uso regular dos seus medicamentos de uso contínuo, de prevenção, para manterem-se controladas das suas doenças, evitando seu agravamento e a necessidade de busca aos serviços de urgência. O tabagismo ativo e passivo deve ser evitado sempre.

Em tempos de pandemia pela Covid-19, são fundamentais 4 medidas:
1- Isolamento social: sair de casa apenas se necessário.
2- Distanciamento social: ao sair, manter o distanciamento entre as pessoas de no mínimo 1,5 metros.
3- Uso da máscara: ao sair, usar a máscara caseira de forma adequada.
4- Higiene das mãos: lavar as mãos com água e sabão com frequência e de forma correta ou usar o álcool em gel a 70% para higienizar as mãos, na ausência do sabão.

DRD — Existe algum cuidado extra para crianças e idosos?

Drª Cláudia Andrade — Os cuidados acima devem ser seguidos de forma ainda mais rigorosa para crianças, idosos e pessoas com algum problema de saúde, como alteração da imunidade, problemas cardíacos, hipertensão arterial, diabetes, obesidade e tabagistas.

DRD — Agora, falando sobre automedicação. É muito comum que pessoas com rinite ou sinusite leve, que normalmente não apresentam sintomas tão expressivos, sintam-se mais incomodadas no inverno e optem por se automedicar com os famosos “sorinhos”. Isso pode ser prejudicial ou agravar a doença de alguma forma?

Drª Cláudia Andrade — Em tempos de Covid-19, estamos orientando as pessoas com sintomas gripais a procurarem se orientar com profissionais de saúde, de preferência por meio do atendimento remoto, caso seja possível. Em caso de sinais de alerta, especialmente dificuldade para respirar, cansaço, deve-se procurar consulta médica presencial.

Devido à pandemia, para casos de sintomas de resfriado leve, deve-se aumentar a hidratação oral, usar antitérmicos ou analgésicos como paracetamol ou dipirona, em caso de dor ou febre, fazer repouso e entrar em contato com profissional de saúde para notificação do caso suspeito, caso preencha os critérios de síndrome gripal e para o monitoramento do caso.

A lavagem das narinas com soro fisiológico 0,9% pode ser realizada em caso de obstrução nasal. Caso a pessoa já tenha o diagnóstico de rinite alérgica, deve ser orientada pelo seu médico a usar os medicamentos usados como antialérgicos ou corticoides intranasais.

Existem algumas formulações de medicamentos usados nas narinas que contam com vasoconstritores na sua composição. Seu uso indiscriminado por levar a piora dos sintomas do nariz, hipertensão arterial e até mesmo intoxicações graves, especialmente em crianças jovens. Quanto às sinusites, nem sempre os pacientes irão necessitar de antibiótico. Na dúvida, deve-se procurar assistência médica para o diagnóstico e tratamento corretos. Deve-se ressaltar que antitussígenos, medicamentos para fluidificar as secreções e expectorantes estão contraindicados.

DRD – Como saber se você tem ou não uma doença respiratória, e qual a hora de procurar um médico?

Drª Cláudia Andrade — Os sintomas das doenças respiratórias são vários e inespecíficos. Dentre eles, temos a obstrução nasal, secreção nas narinas, tosse, dor de garganta, chieira, falta de ar. Eles são muito inespecíficos, ou seja, várias doenças podem causá-los. Na dúvida, deve-se procurar orientação com profissionais de saúde, preferencialmente de forma remota, pois estamos na pandemia causada pelo Sars-Cov-2, o novo coronavírus.

DRD — Uma doença respiratória mais “leve”, como a rinite alérgica, pode evoluir para algo mais grave? Se sim, como evitar que isso ocorra?

Drª Cláudia Andrade — Sim, qualquer doença pode evoluir para situações mais graves. No caso da rinite alérgica, as principais complicações são as sinusites bacterianas ou agravamento dos quadros de asma. Para evitar que isso ocorra, deve-se seguir as recomendações já citadas.

DRD – Estamos vivendo uma pandemia provocada por um vírus que causa uma síndrome respiratória grave. Se a pessoa tem asma, por exemplo, como saber se os sintomas apresentados são da asma ou se há risco de estar infectado pelo Sars-Cov-2?

Drª Cláudia Andrade — Os sintomas podem se confundir e para diferenciar é importante procurar assistência médica. A asma é uma doença crônica que se manifesta por tosse, cansaço, chieira, sensação de aperto no peito. Esses sintomas podem estar isolados ou não. Geralmente, são piores na madrugada ou à noite e melhoram com uso de broncodilatadores.

A infecção pelo SARS-Cov2 é semelhante ao resfriado ou gripe comum. O quadro é agudo, pode haver febre, tosse, dor de garganta, dores no corpo, perda do olfato. Pelos sintomas acima, não há como saber se está infectado pelo novo coronavírus, pois outros vírus respiratórios podem causar os mesmos sintomas. No caso da pessoa com asma, às vezes os sintomas da asma são desencadeados por uma infecção viral, portanto, nem sempre é fácil fazermos essa distinção. Ou seja, na dúvida, deve-se procurar orientação médica.

DRD – Que cuidados extras as pessoas com doenças respiratórias devem tomar para se prevenir da Covid-19?

Drª Cláudia Andrade — Além de todas as recomendações que já abordadas na questão 3, é muito importante que as pessoas que têm asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou rinite alérgica mantenham o uso regular dos seus medicamentos de uso contínuo, de prevenção. Para manterem-se controladas das suas doenças, evitando seu agravamento e a necessidade de busca aos serviços de urgência. Não podemos esquecer do tabagismo ativo ou passivo, que deve ser evitado sempre. Tabagistas têm risco maior de casos graves causados pelo SARS-Cov2.

DRD – As doenças respiratórias são consideradas um fator de risco para Covid-19. Isso inclui doenças como rinite e sinusite, ou apenas outras doenças mais graves?

Drª Cláudia Andrade — Estamos observando com muita atenção as pesquisas e os dados epidemiológicos relacionados ao novo coronavírus. Historicamente, as pessoas com doenças respiratórias crônicas sempre fizeram parte do grupo de risco para as infecções respiratórias. No entanto, até o presente momento, aquelas que têm doença alérgica não parecem compor de forma significativa os grupos de risco. Ao contrário dos tabagistas, dos idosos, dos cardiopatas, das pessoas com imunossupressão, dos obesos. Mas como o vírus é novo, precisamos ter muita cautela e manter rigorosamente os cuidados de prevenção para todas as pessoas, contando com a colaboração e responsabilidade de todos para vencermos esse grande desafio.

Currículo

médica fala sobre doenças respiratórias
Drª Cláudia Ribeiro de Andrade

Cláudia Ribeiro de Abreu possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995), residência médica em Pediatria pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (1997), especialização em Pneumologia Pediátrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (2000), mestrado em Ciências da Saúde – Área Saúde da Criança e do Adolescente – pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003), doutorado em Ciências da Saúde (Área Saúde da Criança e do Adolescente) pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009).

Atualmente, é professora-adjunta III da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde é membro do Grupo de Pneumologia Pediátrica da Faculdade de Medicina. Atua na área de Pediatria e Pneumologia Pediátrica. Em seu Currículo Lattes, os termos mais frequentes na contextualização da Atuação Profissional e na Produção Científica são: criança, asma, rinite alérgica. Tem experiência na área de medicina, com ênfase em Pediatria, Pneumologia Pediátrica.

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