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Desespero: há quase um mês na onda roxa, comerciantes sobrevivem enquanto podem em Valadares

Com pandemia de coronavírus, pequenos empresários em Governador Valadares se veem diante do dilema entre fechar o negócio ou contrair dívidas

POR EDUARDO LIMA E KÍSSYLA PIRES – As restrições da onda roxa já duram quase 30 dias em Governador Valadares. Nas ruas do Centro, o setor varejista sobrevive enquanto pode. Empresários e pequenos comerciantes não conseguem mais arcar com as obrigações financeiras e a cada dia veem seus negócios mais comprometidos, sem previsão de solução ágil para salvá-los. Sozinhos, não conseguem arcar com todos os efeitos provocados pela pandemia. O DRD ouviu alguns empresários de diferentes segmentos da economia na cidade. Alguns empresários não tiveram outra escolha a não ser fechar as portas.

Falência bate à porta

Dona Jucireni Fael, ou Dona Baiana, está há 35 anos com quatro lojas de roupas e calçados dentro do Mercado Municipal de Valadares. Com as restrições da onda roxa, ela conta que foi obrigada a fechar uma de suas lojas e demitir duas funcionárias. Sem recursos, Jucireni teme que o mesmo aconteça com o restante de suas lojas.

A lojista Jucireni só pode atender com meia porta da loja aberta e só do lado de fora da loja (Foto: Eduardo Lima)

“Sabe quanto faturei hoje? R$60,00. Agora imagina isso a semana inteira? Tive que fechar uma loja, porque tem muita bancada lá dentro, e tá uma bagunça vender desse jeito, com meia porta aberta. Já mandei duas funcionárias embora por causa dessa pandemia”, contou.

De acordo com a lojista, a situação fica cada vez pior quando precisa pagar as despesas. Ela diz que compreende as medidas mais restritivas para diminuir os números da covid, mas ressalta que tão importante como o controle da pandemia são as medidas para ajudar os empresários neste momento. “Eu vejo as filas de bancos, casas lotéricas, ônibus e supermercados lotados de gente. É raríssimo a minha loja ficar cheia durante o ano, no máximo umas oito pessoas entram aqui; com a pandemia, nem três. Será que isso é justo com a gente? Essa onda roxa não serve para nada. Ficamos fechados e outros lugares que atendem mais gente abertos. Será que o governador não pensa que tem gente passando fome por causa disso?”, reclama.

Uma das lojas do Mercado Municipal precisou ser fechada devido à crise causada pelo coronavírus

Jucireni faz parte de um grupo de comerciantes do Mercado Municipal – camelôs, empresários dos ramos de calçados, restaurantes, bares e donos de salões de beleza – que realizaram manifestações pedindo a reabertura dos estabelecimentos considerados não essenciais na onda roxa. Segundo ela, nesta sexta-feira (16) está agendada outra manifestação em frente à Prefeitura. “Se depender de mim, estarei lá de novo. Esse povo não sabe o quanto os comerciantes estão sofrendo. Basta dar uma volta no Centro que você vai ver um monte de portas fechadas”, reclama.

Situação semelhante é a de Diego Toledo, administrador de um restaurante na rua Benjamin Constant. Ele também foi obrigado a fechar temporariamente um de seus estabelecimentos, devido às restrições da onda roxa. “A gente teve de se reestruturar e a alternativa encontrada foi deixar fechado um dos restaurantes por um tempo, e aguardar a situação se controlar. Mesmo assim, tive de demitir 18 pessoas. São famílias que tiram dali o seu sustento. Mas não tive escolha, assim como a maioria na cidade não está tendo mais condições de pagar as despesas”, explicou.

Diego Toledo conta que precisou reestruturar o restaurante

Diego diz que não concorda com a onda roxa e espera o retorno do funcionamento dos bares e restaurantes, com fiscalização “mais dura” em todos os segmentos. “Tiveram um ano para fazer um hospital de campanha e não fizeram. A gente vê que não teve preparação para a pandemia. Nós estamos há quase um mês fechados e os casos continuam aumentando do mesmo jeito. Essas restrições da onda roxa, da forma que estão sendo feitas, eu não concordo. Os serviços essenciais não estão sendo fiscalizados como deveriam ser, e a gente continua de portas fechadas. Você passa na porta de um banco, por exemplo, e não vê nenhum distanciamento daquelas pessoas na fila, nenhuma fiscalização. Bares de alguns bairros estão abertos do mesmo jeito, como se nada estivesse acontecendo, e a gente continua fechado, atendendo só delivery, que não é a mesma coisa se comparar com o atendimento presencial”, comparou.

No restaurante, as despesas aumentaram nos últimos meses e o faturamento caiu, com a redução do número de clientes. Diego diz estar indignado com os representantes políticos eleitos na cidade .”Hoje a gente fatura 35% daquilo que faturava; não cobre nem os gastos fixos, como água, luz, produtos. A gente fica com uma revolta ainda maior de ter três deputados federais eleitos na nossa região e todos desapareceram neste momento”, reclama Diego.

Sobreviventes

No segmento de salões de beleza, cabeleireiros em Valadares estão indignados por ter seus serviços considerados não essenciais. Júnior Marques é proprietário de um salão no centro de Valadares. Ao mesmo tempo em que calcula os prejuízos com a crise, ela conta que busca formas de se manter. “Como sou dono de salão e minha única fonte de renda é o meu salão, as dificuldades foram muitas. O rendimento caiu 80%. Estou atendendo o pouco que ainda restou em domicílio”, conta.

O empreendedor afirmou ser este o pior momento da crise econômica causada pela pandemia. “Tem sido o pior momento, por já estar vindo acarretando problemas desde o início. O que fico chateado é que, os pequenos, se isso continuar do jeito que está, tendem a quebrar, e os grandes, que estão abertos e lucrando do mesmo jeito, vão continuar”, lamenta.

A situação do cabeleireiro só não é pior porque conseguiu articular com o dono do ponto de aluguel para dar uma “pausa” na mensalidade. Mas não se sabe até quando os locatários vão suportar mais evitar cobranças de aluguéis. “Sinceramente, nem meio dia a mais, porque nem todos os proprietários flexibilizaram o aluguel”, ressalta.

Enquanto não pode abrir o salão de beleza, Júnior atende suas clientes em domicílio, para pagar as despesas

Júnior disse ter medo de interromper um sonho por causa da pandemia. “Os salões e estéticas são os lugares mais seguros, pois são higienizados e esterilizados a todo momento. Temos o maior cuidado em relação a isso. E, sim, somos essenciais, assim como todos os outros. O erro foi desde o início com os políticos falhando em não providenciar hospitais de campanha, com vários hospitais fechados, sendo que teve uma verba para fazer isso. Daí, agora quem está ‘pagando o pato’ somos nós, os trabalhadores autônomos, que não têm nenhuma outra renda, a não ser nosso trabalho, um sonho que estamos vendo ir pelo ralo. Daqui uns dias vamos ter notícias nos jornais de pessoas morrendo de fome. Isso é desesperador”, desabafou.

Início da onda roxa

A onda roxa foi decretada em todo o Estado no dia 17 de março. A decisão foi tomada pelo Comitê Extraordinário Covid-19 do governo estadual, grupo que se reúne todas as quartas-feiras para avaliar a situação da pandemia no Estado. 

Só estão permitidos funcionar os seguintes serviços:

  • Setor de alimentos (excluídos bares e restaurantes, que só podem via delivery);
  • Serviços de saúde (atendimento, indústrias, veterinárias etc.);
  • Bancos;
  • Transporte público (deslocamento para atividades essenciais);
  • Energia, gás, petróleo, combustíveis e derivados;
  • Manutenção de equipamentos e veículos;
  • Construção civil;
  • Indústrias (apenas da cadeia de atividades essenciais);
  • Lavanderias;
  • Serviços de TI, dados, imprensa e comunicação;
  • Serviços de interesse público (água, esgoto, funerário, correios etc.)

Ações feitas até agora para fortalecer os principais segmentos da economia local

Em entrevista recente ao DRD, o secretário de Desenvolvimento e Inovação, Hilton Manoel, diz que a pasta está trabalhando desde o início desta gestão, considerando o contexto da pandemia, na formulação e implementação de um plano de desenvolvimento local para os próximos anos.

Hilton destacou as ações de amparo a segmentos econômicos neste momento caótico em Valadares. Ele frisa que um decreto proposto pela Secretaria da Fazenda e pela Procuradoria Fiscal priorizou, entre outras medidas: suspensão de novos procedimentos destinados à cobrança de débitos tributários, suspensão de juros e multa sobre tributos e tarifas municipais e guias de recolhimento do Saae, além de suspensão no corte do fornecimento de água em imóveis com tarifa social. O Município também prorrogou o prazo de vencimento para recolhimento de ISSQN.

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