David Uip recomendou a Mandetta uso de cloroquina contra coronavírus na rede pública

por THIAGO AMÂNCIO
FOLHAPRESS

O coordenador do comitê de controle do coronavírus em São Paulo, o médico David Uip, recomendou na última semana ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a distribuição da cloroquina na rede pública do país, desde que haja receita médica e autorização do paciente. A informação foi dada pelo governador João Doria (PSDB) e pelo próprio médico nesta quarta-feira (8).

Uip afirmou que se reuniu com Mandetta na última quinta-feira (2). “Eu era o único infectologista e sugeri que ampliasse o uso de cloroquina para todos os pacientes internados em duas condições: desde que o médico receitasse e o paciente autorizasse.”

Ele afirmou que conhece há anos o medicamento, usado no tratamento da malária, que tem efeitos adversos, cardíacos, hepáticos e visuais, que não são desprezíveis. “É um medicamento que tem que ser usado com critério e com cuidado, sempre com observação do médico que prescreveu.”

O médico deixou claro que nada mudou e que “não há um trabalho científico até agora que concluiu a eficácia e eficiência desse medicamento. Nós aguardamos os resultados”.

Um dia depois da reunião de Uip com Mandetta, o ministro afirmou que o governo ampliaria o uso do medicamento. Em entrevista à imprensa no fim da tarde desta quarta, Mandetta afirmou que a decisão partiu de reunião com o Conselho Federal de Medicina, e pediu que governadores não façam política com o medicamento.

David Uip, curado após ter sido infectado pelo coronavírus, tem sofrido ataques em redes sociais por não dizer se foi ou não tratado com a cloroquina ou a hidroxicloroquina, medicamentos para malária que entrou no debate após políticos como o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump, defenderem seu uso para o combate à Covid-19 mesmo sem evidências concretas de que ele seja efetivo.

O cardiologista Roberto Kalil admitiu nesta quarta que foi tratado com o medicamento da infecção pelo novo vírus e defendeu seu uso em pacientes que estão hospitalizados.

Doria abriu entrevista à imprensa defendendo Uip, Kalil e também Mandetta. “Que país é esse onde o confronto através das redes sociais é feito para destruir a reputação de pessoas?”, afirmou. “Atacar médicos não salva a vida de ninguém.”

O presidente Bolsonaro publicou em seu Twitter na manhã de terça (7) um vídeo em que questiona se Uip usou ou não a hidroxicloroquina em seu tratamento. Nesta quarta, o médico reagiu.

“Presidente, eu respeitei seu direito de não revelar seu diagnóstico. Respeite meu direito de não revelar meu tratamento. Eu nunca revelei o tratamento dos meus pacientes. Eu nunca revelei doenças dos meus pacientes sem ser autorizado. Presidente, por favor, me respeite e respeite o meu direito de privacidade.”

Pessoas próximas ao presidente foram infectadas pelo coronavírus, incluindo mais de 20 pessoas que viajaram com Bolsonaro aos Estados Unidos, como o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o chefe da comunicação institucional do Planalto, Fabio Wajngarten. Bolsonaro afirmou que não foi infectado, mas se recusou a mostrar o teste negativo.

Circula em redes sociais bolsonaristas uma foto do que supostamente seria uma receita de cloroquina para Uip. O médico disse que vai tomar providências legais quanto a isso.

“A minha privacidade foi invadida. A privacidade da minha clínica, que lida com doentes sob sigilo absoluto, foi invadida. Tomarei as providências legais adequadas para essa invasão da minha privacidade e dos meus pacientes.”

O estado de São Paulo tem 371 mortes confirmadas em decorrência da Covid-19, doença causada pelo vírus, mais da metade das 667 mortes registradas no país todo. Há ainda outras 861 pessoas internadas em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e 815 internadas em enfermarias, segundo dados apresentados pelo governo.

O governador pediu que os paulistas não viajem em direção ao litoral nesse feriado de Páscoa, a fim de evitar aglomerações e a disseminação do vírus para outras partes do estado, porque o sistema de saúde das cidades menores não suportaria infecções em massa. As praias do estado estão com acesso fechado.

Doria anunciou ainda o começo do pagamento do Merenda em Casa, que vai pagar R$ 55 para as famílias de 732 mil alunos da rede pública do estado (21% da rede) em situação de vulnerabilidade, a princípio por dois meses, mas que será válido enquanto as aulas estiverem suspensas. O pagamento será feito por meio de um aplicativo, e o dinheiro pode ser transferido para uma conta bancária convencional ou sacado em caixas do Banco24Horas.

Doria foi questionado se convidaria o ministro Luiz Henrique Mandetta, cuja permanência no governo federal é incerta em meio a atritos com Bolsonaro, para ser seu secretário de Saúde. “Mandetta é fundamental no combate ao coronavírus e é fundamental que ele exerça essa função como ministro de Estado da Saúde, que é onde ele está.”

O tucano tem buscado antagonizar o presidente nas entrevistas diárias que dá a imprensa.

​Doria foi eleito em 2018 pegando carona na popularidade de Bolsonaro, rompeu com ele no início de 2019 e agora tornou-se antagonista do presidente por defender o isolamento da população. A medida técnica é recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), enquanto o Palácio do Planalto incentiva a volta ao trabalho de quem não pertence a grupos de risco.

Como o governador planeja se candidatar à Presidência da República em 2022, a pandemia lhe deu a janela perfeita para enterrar o “BolsoDoria” e partir para a oposição ao presidente que deverá enfrentar nas urnas.

Nesta quarta, Doria voltou a atribuir ataques ao “gabinete do ódio”, ligado ao Palácio do Planalto, e afirmou que a ação parte de uma milícia digital.

Ao final da coletiva, se dirigiu a Bolsonaro, lembrando que o presidente veio a São Paulo para se tratar do ataque a faca que sofreu em 2018 e, na ocasião, agradeceu os médicos. “Respeite a medicina, respeite os médicos, o senhor pode precisar deles outra vez”, disse Doria.

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