Projeto permitiu registro raro de vidas e sonhos de comunidade do morro do Carapina
No início do primeiro semestre letivo de 2021, antes do começo das aulas, foi realizado um evento online no qual a professora Eunice Maria Nazarethe Nonato, coordenadora do projeto Periferia Central/SOS Buracão, apresentou aos docentes participantes as dificuldades, as histórias e os sonhos daquela comunidade brasileiramente invisível, apesar de estar ao lado do centro de Governador Valadares. O Buracão, cravado no morro do Carapina, era a síntese do país que tanto se discute em salas de aula, não sem razão. Tudo que se vê e se debate em termos de desigualdade, falta de oportunidades e descaso crônico estava lá, em uma localidade que tangencia o itinerário de inúmeros docentes. Era, portanto, hora de agir.
Foi exatamente isso que a Univale fez: fomentou a ação. Ao término da transmissão, professores e cursos receberam um convite misturado com missão, aquilo que na universidade costumam chamar de desafio. E que desafio! A proposta era que todos se mobilizassem a fim de converter habilidades e competências de suas graduações e disciplinas em ações que pudessem dar resultados ao espaço conhecido como Buracão. Em seguida, o coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, professor Manoel Assad Espindola, compartilhou aquele estímulo — e muitas ideias — com o professor Bob Villela, responsável pelos estágios supervisionados no semestre. Nascia ali um projeto que enche de orgulho qualquer participante.
A partir de então, os estágios supervisionados do 5º período de Jornalismo e Publicidade e Propaganda converteram-se em esforços para dar hashtags, pixels, signos e sons ao que estava tão oprimido. Os estudantes tiveram conversas ricas e esclarecedoras com a professora Eunice, superaram as limitações impostas pela covid-19 e venceram inúmeros bloqueios criativos na busca de informações e na produção de uma variedade de materiais.
Os alunos souberam apurar e publicar relatos sinceros, tocantes e muito realistas; tiveram coragem e habilidade para estabelecer críticas ao descaso de autoridades com vídeos que se equilibram entre o deboche e a denúncia, criaram textos que exploram uma miríade de estilos e sentimentos para traduzir um cenário tão obtuso e, ao mesmo tempo, repleto de vida. Os resultados, naturalmente, foram abundantes: um blog de crônicas, uma conta no Instagram, alguns podcasts de sensibilidade ímpar e uma singela e digna revista, cujos links estão no final desta matéria
Foi assim que de um buraco vazio começaram a sair muitas histórias. É assim, preenchendo lacunas com ações e ideias, agindo nas brechas esquecidas pelas instituições responsáveis, e atuando com a harmonia transformadora entre conhecimento e cidadania, que uma universidade forma pessoas com a postura que o país tanto precisa. O Buracão, nessa perspectiva, não foi um beneficiário, mas um mestre que descortinou aos docentes e aos alunos um pouco de um Brasil que, infelizmente, é muito comum. E ensinou, na prática, que reduzir os abismos presentes na nação passa necessariamente por levar protagonismo a quem tem muito a dizer.