O corpo da rainha Elizabeth 2ª, em sua “jornada final”, como definiu Charles 3º, chegou a Londres às 18h55 desta terça (13), pelo horário local (14h55 de Brasília). A soberana morreu na quinta-feira (8), no Palácio de Balmoral, na Escócia, e seu filho mais velho foi proclamado no sábado (10) o novo rei dos britânicos.
O voo saiu do aeroporto de Edimburgo às 17h44 (13h44 em Brasília), e quem acompanhou o caixão foi a única filha de Elizabeth, a princesa Anne. A chegada a Londres se deu em uma base da RAF (Força Aérea Real) em Ruislip, no extremo oeste da capital inglesa.
O corpo passou a noite na Catedral de Saint Giles, na capital escocesa, onde ao menos 26 mil pessoas, segundo o governo, prestaram sua última homenagem presencialmente -membros da família real permaneceram em vigília.
Da base de Ruislip, o corpo da rainha segue direto para o Palácio de Buckingham, onde será recepcionado pelo rei, pela rainha consorte Camilla e outros integrantes da realeza. Ele passará a noite na residência oficial da monarquia, em cerimônias privadas. Nesta quarta (14), será levado em procissão até o Palácio de Westminster, sede do Parlamento britânico. Espera-se dezenas de milhares de pessoas nas ruas, numa versão amplificada do movimento visto nos últimos dias em frente aos castelos da monarquia.
Pela programação oficial, a procissão deve chegar a Westminster por volta das 15h, quando batidas do Big Ben, o famoso relógio do Parlamento, marcarão a passagem do cortejo. A partir das 17h de quarta, o Westminster Hall estará aberto para visitação pública até segunda de manhã, quando acontecerá o funeral e o enterro.
Talvez as pessoas mais interessadas nesses detalhes em todo o Reino Unido sejam as de um grupo que está à beira do rio Tâmisa, próximo à ponte de Lambeth, a 850 metros de Westminster. Foi lá que a polícia resolveu organizar o início da fila para ver a rainha. Às 14h desta terça-feira, eram cerca de 15 pessoas, e as primeiras duas mulheres já estão lá desde a segunda-feira (12).
A quarta pessoa da fila era Sarah Langley, funcionária ferroviária que aproveitava para passar seus dois dias de folga sob o relento. Ela havia chegado à 0h30 de terça e passou a primeira noite dormindo na grama. “Esse pequeno sacrifício é o mínimo que posso fazer por alguém que é insubstituível. Nunca mais haverá alguém como Elizabeth”, ela disse à Folha.
De camisa, com um moletom e uma japona por cima, além de um par de botas Doc Martens pretas, Sarah, 55, trazia consigo um saco plástico com sanduíches, barras de proteína e água. “Saí do trabalho ontem à noite e vim para cá. Volto ao trabalho às 6h30 de quinta. Mas às 17h de amanhã serei uma das primeiras a ver a rainha”, falou. Ela já havia passado 14 horas no local e tinha outras 27 horas à frente. Na manhã desta terça, choveu insistentemente em toda a cidade.
Com 85 anos, Michael Darvill chegava naquele instante para tomar a lanterna da fila. “Eu nunca tive a oportunidade de fazer nada como isso”, contou. “Eu tinha 10 anos quando ela se casou com Philip, em 1947. Eles eram tão lindos. E tinha uns 15 quando o rei George 6º, um grande homem, morreu, em 1952. Tudo isso eu assisti pela televisão em preto e branco da época, com uma telinha minúscula. Por isso agora eu quis estar aqui pessoalmente.”
A pequena fila atraiu muitas equipes de imprensa; algumas inclusive passaram a noite lá ao lado de Vanessa Nathakumaran e Anne (sem sobrenome conhecido), as duas primeiras pessoas da fila. Nesta terça o interesse era tão grande que a polícia organizou uma fila com cerca de dez jornalistas para que cada um falasse com elas -mais a terceira- de forma organizada e eficiente.
Segundo uma fonte do jornal Evening Standard, os custos do funeral da rainha Elizabeth 2ª vão ultrapassar os 6 bilhões de libras (R$ 36 bilhões). Esse valor inclui o fator de um feriado nacional ter sido decretado na próxima segunda-feira -só isso pode custar 2,9 bilhões de libras aos cofres públicos- e a coroação de Charles 3º, que provavelmente só ocorrerá no ano que vem.
O valor não será divulgado oficialmente. O funeral da mãe de Elizabeth custou em 2002 cerca de 5,4 milhões de libras (não bilhões, como o da rainha agora), enquanto o da princesa Diana, em 1997, ficou entre 3 milhões e 5 milhões de libras. IVAN FINOTTI/FOLHAPRESS