ESPECIAL – O desastre de Mariana ocorreu em 2015 e deixou o que os ambientalistas chamam de “sequelas ambientais”. A barragem que se rompeu é de mineradora controlada pela Vale, em parceria com Samarco e BHP Billiton. O rompimento ocasionou uma vasta e espessa enxurrada de lama, que destruiu o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana.
Ao romper-se, a lama foi carregada pelo rio Doce e seguiu avançando, provocando uma destruição nunca antes vista. As consequências, no entanto, não foram apenas do ponto de vista ambiental. O desastre de Mariana ocasionou a liberação de cerca de 60 milhões de metros cúbicos de dejetos de mineração, provocando a morte e extinção de diversas espécies de peixes.
Em entrevista ao DRD, o engenheiro agrônomo e professor de recursos hídricos da Universidade Federal do Jequinhonha e Mucuri (UFVJM), Alexandre Sylvio Costa, deu seu ponto de vista de como foram os últimos cinco anos. “Os intensos impactos causados na bacia se estenderam até o litoral, promovendo alterações nas águas marinhas do Estado do Espírito Santo, na região da foz do rio Doce, impacto este que se estendeu por centenas de quilômetros pelo mar aberto e no litoral”, disse.
O que tem sido feito?
Após cinco anos da tragédia que assolou a bacia, diversas ações de recuperação, mitigação e compensação ambiental foram e estão sendo realizadas pela Fundação Renova, criada pela empresa Samarco para atuar nesse processo com a elaboração e execução de projetos orientados pelo TTAC e pelas decisões do Comitê Interfederativo, criado pelo Governo Federal.
Desde a sua criação, nos últimos anos, a fundação Renova atuou de forma mais intensa, considerando a vertente ambiental, no processo de mitigação de danos nas áreas mais próximas do rompimento, áreas que foram mais impactadas, com intenso trabalho de recomposição florestal e mitigação nos rios Gualaxo e Carmo.
Outro trabalho que tem-se realizado é a compensação ambiental, com projetos de recuperação ambiental em áreas de proteção nas propriedades rurais, como topos de morros e proteção de nascentes, além do pagamento por serviços ambientais ao produtor rural e instalação de sistemas de tratamento de esgoto nas propriedades rurais. Todos esses projetos vêm sendo realizados na bacia do rio Doce e suas sub-bacias.
Segundo Alexandre Sylvio, apesar desses trabalhos de recuperação e mitigação ambiental, as ações básicas em relação à recuperação do rio Doce e seu leito, com a retirada dos rejeitos, ainda não tiveram início.
“O problema começa na região de Candonga (Hidrelétrica Risoleta Neves), que está desativada e com uma estimativa de aproximadamente 8 milhões de metros cúbicos de rejeitos em sua barragem, com o problema se estendendo por todo o rio Doce, principalmente nas regiões das barragens, onde grande parte do material está depositado, devido à característica do rejeito de elevada densidade”, afirmou.
Outro ponto destacado pelo agrônomo é a sobrevivência das espécies de peixes no rio Doce. “Um estudo que, segundo a Fundação Renova, foi iniciado seria em relação aos animais silvestres que vivem na região do rio Doce. Será que o consumo da água do rio Doce estaria causando algum tipo de alteração na saúde dos animais ou algum tipo de mutabilidade? E a vegetação das matas ciliares? Estariam absorvendo elementos minerais tóxicos e disponibilização na cadeia biológica?”, questionou.
“Podemos sonhar com um rio Doce mais limpo sim, mas precisamos de ações mais incisivas da Fundação Renova neste item e uma maior cobrança do Comitê Interfederativo que coordena as ações, que incluem a mitigação e a recuperação ambiental e que deve ser executada pela Fundação Renova. Caso contrário, os rejeitos continuarão a impactar na fauna e na flora do rio e das áreas de seu entorno, com danos a médio e longo prazo, além, é claro, de trazer nas próximas enchentes transtornos à população de Valadares”.
Alexandre Sylvio Costa, engenheiro agrônomo e professor de recursos hídricos da Universidade Federal do Jequinhonha e Mucuri (UFVJM).
Situação do rio Doce 2020
Passados cinco anos do rompimento da barragem em Mariana, qual foi a mais recente análise feita no rio Doce para identificar os níveis de potabilidade da água para consumo e sobrevivência dos peixes? A Fundação Renova respondeu ao DRD: “A água do rio Doce pode ser consumida após passar por tratamento convencional em sistemas municipais de abastecimento. É o que indicam os mais de três milhões de dados gerados anualmente pelo maior sistema de monitoramento de cursos d’água do Brasil, criado pela Fundação Renova em 2017 para monitorar a bacia do rio Doce, além de zona costeira e estuarina. Todas as informações geradas sobre as condições do rio são compartilhadas com os órgãos públicos que regulam e fiscalizam as águas do Brasil”, informa a Renova.
Conforme a Fudação Renova, a análise de amostras de água e sedimento de diferentes pontos do rio Doce aponta que a turbidez e a presença de metais na água registram médias semelhantes às do início de 2015 e que as condições da bacia são similares às de antes do rompimento da barragem de Fundão. A comparação é possível porque, anteriormente, a qualidade das águas era analisada pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que iniciou o monitoramento em 1997.