Pesquisadores trabalham para adaptar um método de diagnóstico, já existente, que está na fase de validação e transferência de tecnologia
Em reunião na tarde dessa quarta-feira, dia 19, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) adiou a decisão de regulamentar o uso do autoteste para o diagnóstico da covid-19 no Brasil. Trata-se do método de diagnóstico que pode ser realizado pelo paciente, sem a necessidade de um técnico especializado. O paciente coleta a própria amostra e, seguindo as instruções do fabricante, interpreta o resultado em casa, o que proporciona mais praticidade e agilidade na identificação da presença do Sars-CoV-2 no organismo.
O autoteste já é utilizado em vários países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, onde o método integra a estratégia de controle da pandemia e é vendido em farmácias ou distribuído pelos sistemas públicos de saúde. No Brasil, com o aumento dos casos de covid-19 provocado pela variante ômicron e a necessidade de mais testes de diagnóstico da doença, o autoteste poderá contribuir com o combate ao coronavírus, afirma a professora Ana Paula Fernandes, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia da UFMG e uma das coordenadoras do CTVacinas.
Ana Paula integra grupo de pesquisa formado pela UFMG, Instituto Butantã, Universidade de São Paulo (USP), Fundação Ezequiel Dias (Funed) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que está realizando os trabalhos de adaptação de um teste de diagnóstico, já desenvolvido pelos pesquisadores, para transformá-lo em um autoteste. Essa adapatação está na fase de validação e transferência. “É um processo relativamente simples, que nos possibilitará contar com uma ferramenta mais acessível e com diagnóstico mais rápido para a covid-19. O resultado sairia mais rápido, ajudando a diminuir a transmissão do vírus”, explica a professora, que coordena a área de diagnóstico de covid-19 da Rede Vírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Coleta e detecção
Ana Paula Fernandes explica que o teste utiliza secreções coletadas do nariz e da garganta. Depois da coleta, é possível detectar proteínas do coronavírus em apenas 15 minutos. “Desde o início da pandemia, vínhamos trabalhando no desenvolvimento de testes com tecnologias e insumos nacionais. Ainda não pensávamos em um autoteste porque esse tipo de diagnóstico ainda não é autorizado no Brasil. Com a perspectiva de mudança de cenário, avaliamos que é importante direcionar esforços também nessa direção para que o país conte com mais opções de diagnóstico”, defende a professora.
Como os testes feitos em laboratórios privados e farmácias custam, em média, R$ 150, a pesquisadora acredita que um autoteste desenvolvido e produzido no país vai favorecer significativamente o diagnóstico de parcela maior da população. “O autoteste será mais barato, e isso é importante para que mais pessoas tenham acesso a ele. Uma pessoa que se testa e constata que está com covid-19 pode se isolar e, assim, barrar a cadeia de transmissão do vírus”, justifica Ana Paula Fernandes.
Luana Macieira