RESENDE, RJ, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Quase um mês após a derrota na eleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) participou neste sábado (26) do seu primeiro evento público, uma cerimônia militar, mas permaneceu em silêncio.
O chefe do Executivo deixou o isolamento do Palácio da Alvorada e foi à formatura de aspirantes a oficial-general na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em Resende (RJ). Além de não discursar no encerramento do evento, como tradicionalmente fez durante seu mandato, Bolsonaro também interagiu pouco com os demais convidados.
A cerimônia foi transmitida pela TV Brasil. Em determinado momento, as imagens mostram o vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS) conversando com o mandatário, mas ele parece apático.
Estiveram ao lado do presidente na Aman os ministros generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral), Augusto Heleno (GSI) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), além do próprio comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes.
Em anos anteriores, Bolsonaro fez uso da palavra. Mas agora os discursos ficaram por conta do comandante da Aman, João Felipe Dias Alves, e de Freire Gomes.
Apesar de Bolsonaro ser a estrela do dia para a plateia, que gritava “mito”, o presidente foi mencionado para além de um cumprimento, apenas no discurso do comandante do Exército, de forma breve.
“Estou seguro que a sua dignidade, seu culto à família, seu amor pelo Brasil, e inabalável fé em Deus serão referência na pavimentação dos caminhos que os jovens à sua frente trilharão a partir de hoje”, disse o general.
Os termos utilizados pelo comandante são iguais ou referências às palavras repetidas por Bolsonaro nos últimos anos e que fizeram parte do seu mote de campanha: Deus, pátria, família e liberdade.
O presidente foi aplaudido por alguns dos familiares e convidados dos aspirantes a oficiais ao entrar no pavilhão da Aman. Alguns também tiraram foto dele no palco, local em que ficou por toda a cerimônia.
Bolsonaro frequenta eventos na Aman desde que era deputado federal. Em 2014, foi num desses eventos que sinalizou pela primeira vez a intenção de disputar a Presidência, em conversa com cadetes filmada e divulgada em suas redes sociais.
No último dia 30, Bolsonaro perdeu no segundo turno para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se tornando o primeiro chefe do Executivo, desde a redemocratização, a não conquistar sua reeleição.
Desde então, ele tem se isolado no Palácio da Alvorada. Compareceu apenas quatro vezes no Palácio do Planalto, sendo que duas foram nesta semana.
O chefe do Executivo também teve uma infecção bacteriana nas pernas, erisipela. O que, segundo aliados, impedia o presidente de deixar sua residência.
Em 16 de novembro, Mourão afirmou que o presidente não esteve presente no evento de entrega das cartas credenciais de embaixadores estrangeiros que irão atuar no Brasil, porque está “se curando” de um problema na perna.
“Questão de saúde. Está com ferida na perna, uma erisipela, não pode vestir calça, como ele vai vir para cá de bermuda?”, disse.
Bolsonaro tem recebido ministros e aliados mais próximos no Alvorada -seu ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa, Braga Netto, tem sido presença constante no palácio.
Além dele, os comandantes das Forças Armadas também foram repetidas vezes ao encontro do presidente, nas últimas semanas, normalmente, fora da agenda.
Na quinta-feira (24), eles compareceram ao Alvorada, um dia depois de o chefe do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Alexandre de Moraes, rejeitar a ação do partido do mandatário que contestava o resultado da eleição.
O encontro ocorre no momento em que bolsonaristas cobram das Forças Armadas uma intervenção para impedir a posse do presidente eleito, Lula.
Apoiadores do chefe do Executivo têm realizado atos antidemocráticos em frente a quartéis e em rodovias. Tem ocorrido também uma escalada de violência, nos bloqueios de rodovias, que inclui ações lideradas por homens encapuzados e armados, uso de bombas caseiras, saques e depredação.
Bolsonaro foi criticado durante todo o seu mandato por politizar as Forças Armadas e tentar envolvê-las em crises institucionais. Trocou três vezes o cargo de ministro da Defesa e os comandantes das três Forças.
No último ano, envolveu militares na sua tentativa de questionar o sistema eleitoral. Uma nota conjunta das três Forças, divulgada no último dia 11, estava repleta de recados indiretos ao Judiciário.
“São condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade”, diz o texto assinado pelo almirante Almir Garnier Santos (Marinha), pelo general Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e pelo tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior