GOVERNADOR VALADARES – A Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou, na tarde desta sexta-feira (19), uma audiência pública na Câmara Municipal de Governador Valadares para discutir os efeitos da política migratória do presidente norte-americano Donald Trump sobre os brasileiros que vivem nos Estados Unidos.
O encontro foi solicitado pelo deputado estadual Betão (PT), presidente da comissão, e contou com a presença do deputado federal Leonardo Monteiro (PT), além da participação remota do representante do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e de uma organização de apoio aos migrantes, o Grupo Mulher Brasileira. A audiência teve como objetivo propor políticas públicas de apoio jurídico, social e psicológico aos deportados e suas famílias, além de avaliar os impactos econômicos e sociais da deportação em uma região marcada historicamente pela emigração em busca do chamado “sonho americano”.
Betão ressaltou que a audiência integra uma mobilização internacional e servirá como preparação para uma conferência no México, na próxima semana. “A migração não é um crime. Assim como as empresas multinacionais se deslocam de um país para outro, os trabalhadores também têm essa necessidade. Valadares é uma cidade emblemática nesse contexto e, por isso, decidimos realizar aqui a audiência. Vamos colher relatos de deportados e de especialistas. Será um debate muito rico”, destacou.
O parlamentar também lembrou que a meta da gestão Trump é chegar a 3 mil prisões de imigrantes por dia. Segundo dados do governo federal, entre fevereiro e maio deste ano, o Brasil repatriou 783 cidadãos em situação de vulnerabilidade, e atualmente cerca de 400 brasileiros estão detidos nos Estados Unidos.
Defesa de uma política nacional de acolhimento
O deputado federal Leonardo Monteiro reforçou a necessidade de transformar iniciativas pontuais em uma política permanente de Estado. “Já existe uma articulação do governo federal, via Ministério dos Direitos Humanos, com outros ministérios para atender essas pessoas. Mas o que queremos é uma política nacional de acolhimento, independente de quem esteja na presidência. Não é admissível que deportados retornem algemados por mais de 15 horas, sem condições dignas de tratamento”, afirmou.
Para ele, os impactos das deportações são graves para Governador Valadares e região: “Essas pessoas voltam abaladas física e psicologicamente. Além da perda econômica, a comunidade sofre com consequências sociais profundas. O Estado precisa oferecer acompanhamento e condições de reinserção”.
A audiência também contou com o relato de um repatriado. O valadarense William Santos contou ter ficado 61 dias preso antes de ser deportado. “Não conheci meu filho, que nasceu enquanto eu estava preso. Foram dias de muita humilhação, comida ruim, restrição de água e gastos altíssimos para conseguir falar com a família. E ainda voltei algemado por 28 horas. É desumano”, relatou.



Especialistas e organizações denunciam abusos
Diretamente de Boston, Heloísa Galvão, do Grupo Mulher Brasileira, descreveu o clima de medo vivido pelos imigrantes: “Estamos sendo caçados nas ruas por homens mascarados e armados, que se recusam a se identificar. Muitas pessoas estão presas dentro de casa com medo até de ir ao supermercado. É um pavor”.
A professora Sueli Siqueira, especialista em estudos migratórios da Univale, destacou que a criminalização da imigração é infundada: “O índice de criminalidade dos imigrantes brasileiros é baixíssimo. O discurso de ódio propagado por Trump gera medo, deportações forçadas e saúde mental abalada. Mais do que um acolhimento imediato, precisamos de políticas públicas estruturadas que garantam reinserção social e dignidade no retorno”.
Já o diplomata Bruno de Abreu, do MRE, foi enfático ao desaconselhar a migração irregular: “Se eu puder fazer um alerta: não vá. Busquem alternativas legais, e quem já está em situação irregular deve procurar regularizar ou retornar ao Brasil”.









