GUILHERME PIU (UOL/FOLHAPRESS) – Primeiro ele causa uma paixão avassaladora; depois a relação esfria, tem altos e baixos, até uma crise que só aumenta e causa o fim do relacionamento: essa história resume bem a carreira do técnico Jorge Sampaoli, que por onde passa gera todas essas sensações nos torcedores e dirigentes num curto espaço de tempo.
O cenário atual que o treinador vive no Atlético-MG nada mais é do que um círculo vicioso, algo que já aconteceu de forma muito parecida enquanto o argentino dirigiu clubes como o Sevilla, da Espanha, e, por aqui, o Santos. Novelas públicas prévias à sua saída, muitos atritos e indisposição com dirigentes marcam o fim dos trabalhos do comandante.
Na mira do Olympique de Marselha, da França, Sampaoli tem futuro indefinido no Atlético, apesar de ter contrato até o final do ano. Ele passa por um dos seus piores momentos à frente do clube.
Sem vitórias há três rodadas no Campeonato Brasileiro, o treinador viu as chances de título do time alvinegro, depois do empate em 1 a 1 com o Bahia, serem completamente enterradas, mesmo após exigências importantes feitas pelo treinador e mais de R$ 200 milhões de investimentos com contratações de jogadores.
A irregularidade do time, cujo futebol vem em declínio desde setembro – mês de pico de desempenho técnico -, sempre foi rotineiramente justificada com respostas evasivas, sobre faltar contundência ofensiva ou o time ser jovem e inexperiente, passando por problemas coletivos.
Do argentino são raras as manifestações de autocríticas, algo relevante para a diretoria do Atlético, uma vez que o próprio treinador pediu – se não exigiu – a contratação dos mesmos atletas.
Nos bastidores do Atlético-MG, os dirigentes, incluindo os que saíram recentemente – após troca de presidentes – coincidem na leitura de que Sampaoli é um profissional arbitrário, “cheio de si”, que tem dificuldade para aceitar contestações e não se cansa de fazer pedidos, alguns deles fora da realidade do mercado nacional.
Essa linha de raciocínio certamente não causa surpresas nos dirigentes do Santos que lidaram com o argentino em 2019.
Antes de sair do clube paulista, mesmo ciente de que o Santos passava por uma fase de considerável aperto financeiro, Sampaoli exigiu R$ 100 milhões em contratações, equiparação de salário com propostas que havia recebido e teve atritos públicos com o então presidente José Carlos Peres.
Sua saída foi ruidosa, mesmo após o vice-campeonato brasileiro conquistado com um elenco considerado modesto ao início da temporada.
Perguntado na última semana se cumprirá seu contrato com o Atlético-MG, Sampaoli não deu, mais uma vez, garantias de que chegaria ao fim de seu vínculo com clube, válido até o fim de 2021. “Não sei. O futebol muda o tempo todo. É muito instável, especialmente neste país. O treinador dura muito pouco, não se consolida muito o trabalho e as ideias. Só me resta pensar no próximo jogo, tratar de ganhar e chegar o mais longe na tabela de classificação”, respondeu.
“O resto é indecifrável, porque, se você analisar historicamente, o que se passa com todos os treinadores aqui no Brasil é a instabilidade. Eu não sou diferente disso. Se não ganho, sou o pior. Se ganho, sou o melhor. Seguramente, meu trabalho também é avaliado pelos resultados. Só penso na volta ao trabalho na segunda, corrigir os erros e tratar de ganhar o próximo jogo”, completou o argentino.
Antes mesmo de ganhar notoriedade mundial, Sampaoli já foi protagonista de histórias semelhantes. Da Universidad de Chile, onde atingiu renome no continente, saiu para comandar a seleção chilena, com conquistas importantes como a Copa América de 2015 e a classificação à Copa de 2014, no Brasil, após campanha de recuperação nas Eliminatórias.
Sua despedida da “Roja”, porém, foi parar na Justiça. Sampaoli encerrou seu vínculo com a federação chilena em 2016. Do Chile, partiu para uma experiência na Espanha, no Sevilla, onde também arrumou confusão para sair.
Sampaoli virou alvo da seleção argentina e seu fim de ciclo no clube espanhol foi outra novela litigiosa, com críticas por parte da torcida local em 2017. “Meu país me chamou e sinto que preciso ir”, disse em entrevista coletiva após um jogo do Campeonato Espanhol à época.
Pela Argentina, sua passagem foi uma decepção, e o contrato que iria até 2022 durou pouco mais de um ano, de junho de 2017 a julho de 2018 – dispensado após a Copa do Mundo da Rússia. Em 2019, acertou com o Santos, onde também viveu ano conturbado.