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Após duas doses, como ir a teatros, museus e reunir familiares e amigos?

O Brasil alcançou, na última quinta (28), 70% da população adulta vacinada com duas doses contra a covid, o que traz uma sensação maior de segurança para retomar o convívio social.

Diante da perspectiva de arrefecimento da pandemia, porém, surgem dúvidas sobre o que deve ou não ser feito, e também sobre o uso das máscaras, ainda mais agora, em que governadores e prefeitos já ensaiam retirar completamente as medidas sanitárias.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o momento permite certas ocasiões com os devidos cuidados, como encontros pequenos com familiares e amigos vacinados. Desde que o ambiente esteja bem ventilado e for mantido o distanciamento.

Eventos de massa, como jogos com torcida, shows e eventos que causem aglomeração, ainda não são seguros, mesmo em locais abertos, de acordo com os entrevistados.

Piqueniques e passeios em parques, praças e praias Áreas abertas promovem a circulação do ar, e diminuem a quantidade de partículas do coronavírus que podem ser inaladas. Por isso, se as pessoas estiverem mantendo o distanciamento, os especialistas afirmam que é possível fazer piqueniques, ou estar em uma praia, ou parque, sem máscara.

Para a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo, a confusão sobre se pode ou não ficar sem máscara em áreas abertas faz com que muitos desobedeçam à medida.

“Se você está com a sua família em um parque e está a uma certa distância de outras pessoas, o risco é baixo. Agora, se você for se levantar para ir encontrar essas outras pessoas, é só colocar a máscara novamente”, afirma Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Reuniões com amigos e familiares em casa

A mesma regra de manter o distanciamento e, neste caso, o ambiente ventilado, permite receber amigos e familiares para eventos em casa com segurança.

“Isso é possível porque a grande parte dos adultos no país já está vacinada com duas doses”, diz a microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natália Pasternak.

Para eventos maiores, como festas de aniversário e casamentos, Dalcolmo, da Fiocruz, recomenda a testagem dos convidados. “Invariavelmente, vão pegar casos positivos, porque nós sabemos que, mesmo vacinados, podem se infectar e transmitir, mas se as pessoas têm esse desejo de se reunir, é um risco assumido”, diz.

É importante, nesses eventos, manter a máscara no rosto – de preferência PFF2, por ter maior poder de filtração de micropartículas – e só retirar se for comer ou beber. “A área onde a comida será servida tem que estar arejada, com as mesas do lado de fora, para evitar que as pessoas fiquem sem máscara em um ambiente fechado”, completa Pasternak.

Cinemas, teatros e shows em salas fechadas

Salas de cinemas e teatros podem funcionar com a capacidade total desde o último dia 16 em todo o estado de São Paulo. “Minha recomendação é não retirar a máscara em momento algum dentro da sala. Evitar comer, beber, espirrar ou tossir, porque isso implica em retirar a máscara, mesmo pessoas vacinadas”, diz Dalcolmo.

Bares, restaurantes e baladas

Assim como para as reuniões em casa, as recomendações para os bares e restaurantes são as mesmas: manter o distanciamento e retirar a máscara apenas para comer.

O problema é que muitos endereços não têm áreas ao ar livre, e as pessoas podem ficar aglomeradas, explica o infectologista Carlos Fortaleza, da Unesp (Universidade Estadual Paulista). “Para avaliar a transmissão do coronavírus pelo ar existem três eixos: se está em um ambiente com muita ou pouca gente; se você está calado ou falando muito; e se o espaço é aberto ou fechado. E na maioria dos bares e baladas, o conjunto desses três eixos é negativo: muitas pessoas, falando e falando alto e em espaço fechado”, diz ele, que recomenda evitar esses ambientes por enquanto.

Uma maneira de minimizar os riscos nesse caso, segundo a infectologista Raquel Stucchi, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é permanecer de máscara e evitar ficar falando muito próximo ou muito alto.

As baladas são, de longe, o ambiente que oferece maior risco. “Quanto mais fechado o ambiente, maior a possibilidade de transmissão. E a transmissão pode ser por alguém ali no meio da balada assintomático e transmitindo? A resposta é sim. Mesmo se a pessoa tiver recebido as duas doses da vacina contra covid? A resposta é sim”, afirma Dalcolmo.

Academias de ginástica e outras atividades esportivas

Durante a pandemia, muitas pessoas tiveram a saúde física e mental afetadas por ter parado a prática de exercícios físicos. “Se a academia é bem ventilada e estão todos de máscara, se há a exigência de comprovante de vacinação na porta, é seguro voltar”, diz Pasternak.

É melhor dar preferência a salas com as janelas abertas e para o uso de ventiladores. Além disso, a prática de limpeza dos aparelhos, apesar de não ser uma medida eficaz contra a transmissão do vírus, é bom para a higiene, diz o epidemiologista Paulo Lotufo, da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Trabalho e aulas presenciais

Em geral, escritórios e salas de aula são ambientes fechados, com pouca circulação do ar e com aparelhos de ar-condicionado, mas mesmo nesses espaços, é possível reduzir os riscos adotando, por exemplo, filtros do tipo HEPA ou medidores de CO2.

A exigência das máscaras nas salas de aula e trabalho deve ser mantida, assim como o distanciamento físico entre as pessoas.

Shows, jogos de futebol e grandes eventos ao ar livre

Mesmo ao ar livre, os especialistas reforçam que eventos que causem aglomeração, nesse momento, ainda representam um risco elevado.

Os especialistas sugerem, porém, medidas que têm sido aplicadas nos Estados Unidos e Europa, como a exigência do passaporte vacinal e teste de antígeno (que detecta o vírus no organismo, mas é mais rápido e pode ser feito fora do laboratório, diferente do RT-PCR) na porta.

“Seja na Europa, seja aqui, qualquer jogo que permita torcida, [os organizadores] podem até exigir máscara, mas a gente sabe como é: as pessoas retiram a proteção, gritam, ficam aglomeradas. Não é o momento de liberar”, afirma Fortaleza.

O infectologista Renato Kfouri, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), reforça: não é por ser ao ar livre que é seguro. “Uma rave ao ar livre com 50 pessoas vacinadas, todas de máscara, possui um risco menor que uma balada fechada com mil pessoas aglomeradas. Agora, isso não quer dizer que está liberado.” ANA BOTTALLO/FOLHAPRESS

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