Sem previsão de retorno presencial, alunos se esforçam para manter rotina de estudos

Mesmo para quem tem acesso às tecnologias usadas no ensino, manter o foco e o ritmo de aprendizado é o principal desafio

As aulas presenciais estão suspensas em Governador Valadares desde março. De lá pra cá, o tempo de um semestre letivo já passou, e várias adaptações foram ocorrendo no meio do caminho para tentar dar continuidade às atividades educativas, ainda que à distância. Na rede pública, onde estudam mais de 70% dos alunos brasileiros, o processo de adaptação tem demorado um pouco mais.

“Sobre o ensino a distância, na minha opinião, os alunos não estão levando tão a sério. Os professores estão até se dedicando, mas a tecnologia do EAD é algo muito novo pra todo mundo. Por isso, eu não tô gostando, mas apoio mesmo assim, porque temos que aprender”. A fala é de Mariana Pimentel Silva, de 13 anos, que está no 8º ano do ensino fundamental. Ela é aluna da Escola Estadual Pedro Ribeiro Cavalcante Filho, que fica no bairro Santa Rita, em Governador Valadares.

“Quando voltar, eu acho que vai ser muito diferente”

Assim como vários outros alunos da rede estadual, Mariana tem assistido a aulas on-line e feito atividades a distância. De acordo com a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, mais de 97% dos alunos da rede estadual de ensino tiveram acesso, seja virtualmente ou de forma impressa, aos PETs, Planos de Ensino Tutorados, que são a principal ferramenta do sistema remoto de ensino.

O acesso aos materiais, no entanto, não significa necessariamente que o aprendizado esteja sendo efetivo — é o que indica a fala de Mariana. “Às vezes a gente prioriza só entregar atividades mesmo”, destaca a estudante.

Apesar das dificuldades com os novos métodos de ensino, a menina se esforça, já que não vê um fim próximo para o cenário atual. “Eu procuro me organizar, separo a parte da manhã para fazer atividades, e à tarde eu assisto aulas não presenciais. Eu acho que a aula não volta este ano, pois a situação ainda é ruim. Mas quando voltar, eu acho que vai ser muito diferente, com rodízio de alunos e cuidado máximo”.

Mariana Pimentel Silva, de 13 anos, que está no 8º ano do ensino fundamental

“Está sendo um desafio para todos”

A irmã de Mariana, Melissa Pimentel Silva, de 16 anos, só começou a ter aulas remotas no mês de junho. Ela é estudante do segundo ano do ensino médio no Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), campus Governador Valadares, que retomou as atividades letivas no dia 1º de junho. “Na minha opinião, esse período de ensino a distância está sendo um desafio tanto para nós, alunos, como para os professores”, afirma Melissa.

Assim como a irmã, ela também tem organizado uma rotina de estudos para tentar manter o ritmo. “Logicamente, sempre existem matérias com mais facilidade de aprendizagem do que outras. Mas, em média, eu separo quatro horas do meu dia para me dedicar aos estudos, ver videoaulas e resolver exercícios. Mas é inevitável que em certos momentos a gente acabe priorizando o fato de entregar o dever dentro do prazo estipulado do que aprender a matéria em si”, destaca a estudante.

Qualidade no ensino

Melissa, que está no ensino médio, se preocupa com a qualidade do aprendizado. “Por mais que estejam ocorrendo atendimentos on-line, é complicado manter o mesmo foco que se tinha em sala de aula, pois o ambiente interfere muito. E no final acho que a saída é ver videoaulas no YouTube e resumos, tentando compreender a matéria sozinha, e o professor é só um auxílio pra dúvidas em atividades mais específicas. Mas acho que ainda falta seriedade da maioria dos alunos, principalmente os pertencentes à escola pública”.

“A gente precisa ter em mente que a nossa aprendizagem vale mais que uma nota. Então, não adianta ter o gabarito na mão, que facilmente encontro na internet, e não possuir conhecimento nenhum.”

Melissa Pimentel da Silva
Melissa Pimentel da Silva, 16 anos, aluna do 2º ano do ensino médio

Apesar dos desafios, Melissa acredita que o período de aulas remotas pode deixar um saldo positivo para os alunos. “Quando as aulas voltarem, acho que saberemos lidar melhor com o fato de estudarmos sozinhos, e os aplicativos que estamos usando agora talvez sejam levados adiante, e os deveres de casa passem a ter entregas on-line”, ressalta.

Informações da SEE/MG e do IFMG/GV

Depois de entrevistar Mariana e Melissa, o DRD entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação e com o Instituto Federal de Minas Gerais, campus Governador Valadares. A nota enviada pela SEE já foi publicada e pode ser conferida aqui. Abaixo, seguem na íntegra as informações passadas pelo Diretor de Desenvolvimento Educacional do IFMG-GV, professor Tonimar Senra.

Nota do IFMG

“O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) vem realizando, há algum tempo, reuniões para discutir o retorno às atividades escolares em 2020 dos diversos cursos ofertados nos 18 campi que compõem a Instituição.

É consenso que, neste primeiro momento, todas as atividades escolares deverão ser realizadas através de atividades remotas, as quais contarão com auxílio, mas não exclusivamente, das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s).

Esta modalidade de ensino a ser adotada no IFMG, neste momento, está sendo denominada de Ensino Remoto Emergencial. É importante destacarmos este ponto, pois o IFMG não irá fazer EaD, embora algumas plataformas e ferramentas que serão utilizadas sejam iguais.

Campus GV

No caso do IFMG – Campus Governador Valadares, todos os cursos ofertados, a saber: técnicos integrados, técnico subsequente, graduações e pós-graduações, tiveram as atividades letivas retomadas no dia 1º de junho de 2020. Sendo que todos estão sendo trabalhados de modo remoto, seguindo as diretrizes apresentadas na Instrução Normativa Nº 05 de 2020 do IFMG.

Por isso, todas as disciplinas que apresentam conteúdos que permitem o trabalho de modo não presencial foram e estão sendo adaptadas para esse novo formato do Ensino Remoto Emergencial proposto pelo IFMG.

A principal adaptação sofrida pelas disciplinas foi o fato de elas estarem organizadas de modo a ter uma carga horária semanal de atividades online e offline. A primeira refere-se a atividades síncronas, a serem desenvolvidas pelos professores e suas turmas.

Já a segunda é composta de atividades assíncronas, indicadas pelos professores, e refere-se a leituras de materiais e conteúdos relativos ao conteúdo das disciplinas, ou resolução de exercícios, ou desenvolvimento de alguma pesquisa e/ou trabalho.

Com relação a oferta das disciplinas, é importante salientar que só estão sendo ofertadas aquelas que são possíveis de ser trabalhadas de modo remoto. Por isso, aquelas que dependem de alguma estrutura física ou equipamentos específicos, tiveram a sua oferta suspensa no momento, e serão ofertadas tão logo tenhamos condição de receber novamente presencialmente os alunos no campus.

Legislação

Outro ponto importante a ser destacado é que a partir das novas legislações vigentes, o Campus GV não tem mais a obrigação de cumprir os 200 dias letivos, devendo unicamente cumprir a oferta da carga horária semestral ou anual prevista para cada curso. Desse modo, as aulas regulares para os cursos anuais (Cursos Técnicos Integrados) possuem previsão de ser finalizadas no dia 30/11, com período de exames finais ocorrendo do dia 01/12 a 17/12. Já para os cursos semestrais, temos a previsão de finalizar o semestre 2020.1 no dia 21/08 e o semestre 2020.2 tem previsão de início em 14/09 com término em 14/01/2021.”

Por Arthur Sales e Camila Fernandes

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