Queridos irmãos e irmãs, eis um dos grandes convites que Deus nos faz ao longo de nossa caminhada, para que a cada dia não percamos de vista o amor com que fomos amados, e o caminho que temos que percorrer, em meio às realidades e situações da vida, que nos desafiam a viver e percorrer o verdadeiro sentido da alegria evangélica, que não é momentânea, mas contínua.
A alegria da volta à pátria, a alegria da saúde readquirida, a alegria pela liberdade reconquistada, através da qual é reintegrado à vida civil e religiosa do povo: eis o fruto da invenção de Deus que salva. Os profetas anunciaram essas ações e manifestações de Deus como novo êxodo. A volta do exílio é vista como um ato de poder e do amor exclusivo de Deus pelo seu povo, e por cada ser humano, embora depois, na realidade, tenha favorecido apenas um pequeno resto de deportados, e não correspondido totalmente às suas expectativas. Mas é importante ter em nosso coração que o anúncio permanece sempre válido, porque voltado para um tempo em que terá seu pleno acabamento.
Queridos irmãos e irmãs, Cristo vem como aquele que guia, em sua volta para Deus, a humanidade perdida, desanimada e extenuada. Mas essa volta se explicitará no decorrer das gerações e da história de cada um; a libertação exige tempo e falida. A alegria evangélica é, antes, a de quem venceu uma das etapas, o que mantém viva sua esperança de atingir a meta final.
Por isso, queridos irmãos e irmãs, é muito atual a exortação de São Tiago à paciência e à perseverança. Dirige-se a seus “irmãos” os pobres, pedindo-lhes a paciência à espera da vinda do Senhor: “Ficai firmes até a vinda do Senhor. Vede o agricultor: ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou da primavera. Também vos, ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima.” (Tg 5, 7-8)
Olhando para o texto bíblico, o apóstolo Tiago nos chama e nos convida à paciência. Não cita a revolta. Pois a paciência não é resignação; é fruto do amor, é vontade de descobrir o outro e ajudá-lo de todos os modos a libertar-se do que aliena, inclusive dos bens materiais. Isso exige tempo. A paciência que São Tiago pede de seus irmãos e de cada um, os pobres, consiste em medir os ricos com a medida do tempo que o amor emprega para amar. Que ao menos o amor tenha tempo para amar, antes que a autodestruição dos ricos e poderosos tenha terminado sua tarefa. É a paciência de quem sabe que o reino de Deus se constrói lentamente, embora os profetas o prevejam com clareza e o anunciem próximo. E quando, como aconteceu com João Batista, há um momento de desânimo, de obscuridade e dúvida: “És tu o que há de vir ou devemos esperar outro?” Ao coração da palavra de Deus e dos sinais que acompanham sua presença eficaz basta para restituir a confiança e a certeza de Deus presente.
Queridos irmãos e irmãs, o processo de libertação das escravidões e condicionamentos interiores e exteriores do homem ameaça nos fazer perder de vista a esperança última. De tal modo, é urgente o dever de revolucionar as estruturas desumanizantes, de conscientizar os homens e as mulheres e de lhes retribuir a dignidade e a autonomia de pessoas, filhos e filhas de Deus. Por outro lado, com muita frequência, a indolência e o egoísmo dos cristãos obscurecem e debilitam o anúncio da libertação de Jesus, cujo sinais estão, hoje, na dedicação aos pobres, aos marginalizados, às minorias; na defesa dos direitos da consciência, no partilhar realmente e até o fim a sorte dos que não têm esperança. Não existe evangelização que não leve a uma libertação. O alegre anúncio do Cristo libertador só é digno de fé se os seus mensageiros (cada um de nós) o vivenciarem e serem testemunhas da alegria.
Na caminhada da vida, Deus quer a felicidade dos homens e mulheres, seu bem êxito. Os cristãos devem saber que a boa nova da salvação é uma mensagem de alegria e libertação. Os cristãos são chamados a dispor de muitos expostos para comunicar a alegria extraordinariamente e que exprime a certeza de que, apesar das dificuldades e aparentes contradições, o futuro da humanidade está sendo construído, certeza essa baseada na vitória de Cristo.
Assim sendo, as alegrias mais espontâneas no homem são as provenientes das seguranças da vida cotidiana, recebidas como bênção de Deus: as alegrias da vindima e da colheita, as do trabalho bem feito ou do merecido repouso, de uma refeição fraterna, a de uma família unida, a do amor, de um nascimento; tanto as alegrias ruidosas das festas como as alegrias íntimas do coração. Mas existe uma alegria ainda maior e mais profunda: a daqueles que se fazem pobres diante de Deus e tudo esperam dele e da fidelidade à sua lei. Nada pode, então, diminuir essa alegria, nem mesmo a provação. A alegria de Deus é força. A alegria do Cristão, em sua condição terrestre, é a alegria própria do tempo de construção na caminhada presente.
A celebração eucarística, em torno das duas mesas, a da palavra e a do pão, constitui, e é para cada um de nós, um dos terrenos privilegiados em que se deve comunicar e experimentar, de certo modo, a verdadeira alegria do evangelho, que nos impulsiona para a vida.
Fraterno abraço
Pe. Gilberto Faustino Brás; Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Tumiritinga