BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um advogado conhecido pela ligação com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e que já foi preso com base na delação de Joesley Batista, da JBS, tornou-se um dos principais cotados para integrar o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) na vaga da Câmara dos Deputados.
Integrantes do CNJ receberam a informação de que as lideranças da Casa pretendem colocar em votação ainda neste ano o nome de Willer Tomaz de Souza. O posto no órgão deve ficar vago só em setembro de 2023, mas a articulação visa já chancelar o nome de Willer.
Após aprovação na Câmara dos Deputados, o indicado ainda tem que ser sabatinado e aprovado pelo Senado. Pessoas que têm acompanhado a articulação do Legislativo ouvidos pela Folha afirmam que já é dado como certo que Willer será o indicado pela Casa.
O próprio advogado conta com a possível indicação e tem se preparado para o processo de aprovação do seu nome.
O mandato no conselho é de dois anos, com possibilidade de recondução por igual período. A Câmara tem direito a uma indicação de “cidadão de notável saber jurídico e reputação ilibada” para preencher uma das vagas no CNJ.
Cabe aos partidos indicarem nomes, que são colocados em votação secreta na Casa. Após a aprovação pelo plenário, a indicação é encaminhada à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, que realiza a sabatina. Se aprovado na comissão, o caso é enviado para a análise do plenário do Senado.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem dito a aliados que a vaga só será aberta em setembro de 2023 e que não há nenhuma decisão a respeito do posto.
Porém, integrantes do Judiciário com conhecimento das articulações dizem ter recebido indicativos de que a escolha será pelo advogado.
Willer é próximo do presidente da Câmara e de parlamentares dos mais diversos espectros políticos. Por isso, não deve encontrar entraves para ser aprovado na Casa. Sua nomeação seria defendida por integrantes do próprio centrão, composto por siglas como PP, PL e Republicanos.
Além disso, embora seja próximo de parentes e aliados de primeira hora do presidente da República, como o próprio senador Flávio Bolsonaro, Willer também tem ligações com integrantes da oposição.
O advogado tem relações estreitas com o senador Weverton Rocha (PDT-MA), assim como é sócio de Eugênio Aragão, que foi advogado da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito presidente.
Presidido pela ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Rosa Weber, o CNJ é composto por 15 conselheiros e tem como atribuição atuar no controle e transparência do Judiciário, além de julgar processos disciplinares e reclamações contra membros da Justiça de todo o país.
A indicação de Willer tem apoio de parte do CNJ. Outra ala, formada principalmente por juízes de carreira, se opõe à ideia e acha que ele é um nome questionável para o conselho.
Procurado pela Folha, Willer Tomaz não se manifestou.
Atualmente, o indicado para o CNJ pela Câmara dos Deputados é o advogado Mário Henrique Goulart, que disputa a recondução por mais dois anos.
Entre outras pessoas, Willer advogou para o próprio Arthur Lira em tribunais superiores. Ele é conhecido por se gabar das suas influências políticas e entre ministros de altas cortes do país.
Costuma dar festas em Brasília que tem como convidados integrantes das cúpulas dos três Poderes.
Nos bastidores, o advogado foi um dos grandes defensores da fracassada tentativa de indicação do procurador-geral da República, Augusto Aras, para a segunda vaga aberta durante o governo Bolsonaro para o STF.
O presidente, que tinha prometido escolher uma pessoa “terrivelmente evangélica”, indicou o ministro André Mendonça para a posição.
No ano passado, a Folha revelou que o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), usou a filial de sua empresa de venda de motos no Piauí para alugar uma mansão no Lago Sul em Brasília comprada meses antes por Willer.
À época, o advogado tinha sido blindado pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid em uma atuação feita pelo próprio Ciro Nogueira –que é senador e se licenciou do cargo para se tornar ministro. A comissão pretendia quebrar o sigilo do advogado quando ganharam força investigações sobre suspeitas de corrupção na negociação de vacinas.
O nome dele acabou retirado do requerimento de quebra de sigilo pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
À época, ele disse à Folha que o negócio com Ciro Nogueira era regular.
“Eu alugo casas a ministros do STJ [Superior Tribunal de Justiça]. Meu escritório faturou R$ 100 milhões em 2020”, disse o advogado. Ele afirmou que sua empresa, a WT, tem mais de 50 imóveis alugados.
Willer foi preso pela Polícia Federal em 2017, na operação relacionada à JBS. A suspeita da PGR (Procuradoria-Geral da República) era a de que ele teria atuado como intermediário em vazamento de informações do Ministério Público Federal. A denúncia foi rejeitada pela Justiça.
“Fui denunciado. Os delatores se retrataram. A denúncia foi rejeitada. Foi um erro do Judiciário e recebo indenizações”, afirmou.
Neste ano, o site Metrópoles revelou que Flávio Bolsonaro foi arrolado como testemunha numa briga judicial contra o jogador da seleção brasileira Richarlison pela posse de uma mansão de R$ 10 milhões em Angra dos Reis (RJ) que foi transferida a Willer.