A tarde de sábado, 19, vai ficar marcada na vida da doméstica Romilda Quirino Nunes Martins. Seu drama começou quando seu bebê de 11 meses e 13 dias, Henri José Martins Ribeiro, engoliu uma bateria de controle remoto de climatizador, semelhante a uma moeda. Segundo Romilda, o controle teria caído no chão e a bateria não foi encontrada. Pouco tempo depois, a irmã de Romilda viu o bebê colocando a bateria na boca. Ela correu para tentar evitar o acidente, mas foi tarde. Henri acabou engolindo o objeto. Romilda, mesmo com o susto, não pensou duas vezes em levar o bebê para o Hospital Municipal, onde deu entrada na tarde de sábado. A mãe estava confiante de que tudo daria certo, mas o drama dela estava apenas começando. Os médicos teriam constatado que o bebê deveria ser transferido com urgência para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte.
A situação começou a piorar quando a mãe de Henri descobriu que não tinha vaga no hospital, ambulância e nem transporte aéreo para levar o bebê, e cada segundo era decisivo para salvar a vida do filho. “A transferência só aconteceu cerca de 27 horas depois que demos entrada com o Henri no hospital. Eu e meus familiares ficamos desesperados por saber que aquela bateria poderia causar a morte do Henri a qualquer momento e ninguém do hospital dava informação, nem sobre a transferência e muito menos do estado de saúde do meu filho. Foi desesperador”, conta a mãe.
Romilda conta que a transferência só aconteceu depois que a irmã dela, desesperada, ameaçou chamar a polícia e um médico amigo da família teria pedido à direção do hospital para agilizar o processo de transferência do bebê. “Infelizmente as pessoas perderam o amor pelo próximo. Sei que meu filho foi vítima de um acidente doméstico, mas acho que as pessoas que estão ali no hospital deveriam ser mais solidárias. Já estamos sofrendo com o ocorrido, e quando buscamos ajuda em um hospital público, que é direito de todos, nos deparamos com um descaso total”.
A tia de Henri, Roberta Quirino Martins, que viu o bebê engolindo a bateria, lamenta a forma como foram tratadas no Hospital. “Cheguei lá e nem o nome do médico responsável era informado. Quando fui perguntar se meu sobrinho já estava cadastrado no SUS, me disseram que eu não devia me preocupar com isso, que todos que estavam internados eram caso de urgência e que meu sobrinho não era melhor que os outros”.
Com o alívio de ter conseguido a transferência para um hospital em Belo Horizonte, Romilda saiu de Valadares na noite de domingo, 20. Logo que o bebê deu entrada no hospital, a bateria foi removida com sucesso; porém, o pior ainda estava por vir. “Os médicos da UTI tentam me tranquilizar o tempo todo, me dando esperança, mas, por causa da demora em remover a bateria, o meu filho teve o estômago e o esôfago perfurados. Ele está se alimentando por sonda, tem muita febre e com garganta danificada, tendo de respirar com a ajuda de aparelhos. Ainda é cedo para os médicos darem um diagnóstico preciso, mas me disseram que pode até ficar com sequelas. Estou desesperada, porque ele deve ter que ficar na UTI uns 15 dias ainda”.
Em meio ao desespero, a doméstica alerta os pais para que tenham bastante atenção com os filhos. “Não desejo o que estou passando a ninguém; aconselho todos a terem cuidado com seus bebês. Tudo pode acontecer em um segundo e isso pode mudar a vida da família e da criança para sempre. Cuidado com brinquedos que tenham baterias, celulares, calculadoras, controle remoto e brinquedos que não são apropriados para a idade dos bebês”.
Riscos de ingerir uma bateria
Médicos do Hospital Great Ormond Street, em Londres, na Inglaterra, lançaram um alerta pedindo aos pais para que mantenham baterias circulares e pequenas longe de seus filhos, devido aos graves riscos para a saúde. Engolir esse tipo de bateria pode causar lesões graves e permanentes e até mesmo levar à morte em pouco tempo.
De acordo com os especialistas, o aviso foi necessário depois de notarem um aumento no número de crianças que chegam ao hospital após ter engolido uma bateria. Atualmente, os médicos atendem cerca de uma criança por mês com esse problema. Há dois anos a média era de uma criança por ano. “Um dia desses eu estava de plantão e precisei remover baterias engolidas por duas crianças”, contou Joe Curry, cirurgião pediátrico no Great Ormond Street.
Engolir baterias traz consequências devastadoras. Isso porque, se elas ficarem presas na mucosa do esôfago, podem causar uma possível reação química que pode perfurar o tecido do canal que liga a boca ao estômago. “Se a bateria ficar presa no esôfago e, assumindo que ela está “viva” quando é engolida, você pode começar a ver os danos ao revestimento do esôfago em cerca de 15 minutos. Temos visto ruptura do esôfago dentro de apenas quatro horas”, disse Curry.
O resultado dessas lesões ou rupturas pode trazer consequências permanentes e devastadoras para a vida, como dificuldades para se alimentar e a necessidade de parar por inúmeras cirurgias ao longo da vida – algumas crianças têm que passar por mais de 50 operações e procedimentos depois do incidente – e até mesmo levar à morte.
Esse tipo de bateria é comum em acessórios como relógios, calculadoras e aparelhos auditivos, que estão cada vez mais presentes na casa das pessoas, o que, por sua vez, aumenta a disponibilidade das baterias. Por isso, quem tem crianças em casa, principalmente as pequenas, que são ávidas por explorar objetos e tendem a colocá-los na boca, o ideal é manter esse tipo de bateria em locais trancados e de difícil acesso à crianças, até mesmo às mais velhas.
Os médicos alertam ainda para a importância de os pais se manterem vigilantes a sintomas como vômitos, asfixia, infecções no peito e dificuldades em engolir. Caso haja a possibilidade de a criança ter engolido uma bateria, ela deve ser imediatamente levada ao hospital. (Fonte Revista Veja)
por Angélica Lauriano | angelica.lauriano@drd.com.br
Nota da Prefeitura
Através de nota enviada no final da tarde de ontem, o Departamento de Comunicação da Prefeitura, que é o responsável pela comunicação do Hospital Municipal, informou que toda a assistência foi dada à criança e a seus familiares. Confira a nota:
“A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que o paciente Henri José Martins Ribeiro, de 11 meses, deu entrada no Hospital Municipal (HM) na noite do último sábado (19). Diante do quadro clínico, a criança foi rapidamente inserida no sistema do SUS Fácil para solicitar a transferência para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. Na tarde de domingo (20) a vaga foi liberada e a remoção foi feita via terrestre por uma ambulância UTI. Durante todo o trajeto a criança foi acompanhada por um médico e um técnico em enfermagem. Toda a equipe do Hospital se empenhou em dar toda a assistência necessária, tanto à criança quanto à família, e conseguir em tempo hábil a liberação da vaga para que fosse oferecido o melhor atendimento ao paciente”.