Clima mais frio e chuvoso tem chamado atenção de quem está acostumado com o calor valadarense
Por Arthur Sales e Camila Fernandes
Alguns anos atrás, o calor de Governador Valadares chegou a virar piada nas redes sociais, depois que um morador da cidade gravou um vídeo fritando um ovo no asfalto. As altas temperaturas do verão não são nenhuma novidade para os valadarenses. Incomum, entretanto, é ter que tirar os casacos do armário — algo que tem acontecido com frequência neste mês de agosto. Já na metade do inverno de 2020, as temperaturas abaixo da média têm chamado atenção de quem não está acostumado com o clima frio.
Para o fotógrafo Vítor Coleta, de 25 anos, a temperatura na cidade tem sido bem estranha desde o mês de julho. Entretanto ele disse gostar mais deste clima frio que tem feito, do que o calor que é frequente em Valadares: “Realmente está mais frio. [No] ano passado já fez bastante frio nesta época, mas este ano aumentou. Eu, particularmente, estou gostando do clima assim, até porque, o calor de Valadares é insuportável. Mas dá para notar que as pessoas na rua estão usando mais agasalhos ou blusas de frio.”
Já a servidora pública Josiane Brandão, de 51 anos, acredita que as mudanças climáticas no mundo podem estar causando este “desequilíbrio” na temperatura da cidade a cada ano. Ela ainda falou que acredita que a tendência para os próximos anos é esfriar ainda mais.
“Continuamos agasalhados desde julho, mas estou sentindo que este mês [agosto] está um pouco mais frio. De dia faz aquele calorzinho e de noite o frio aperta. Mas, com certeza, este ano faz mais frio que anos anteriores. Inclusive, acredito que a tendência é que faça mais frio com o passar dos anos, talvez pelas alterações climáticas que acontecem no mundo. Eu estou gostando muito do clima assim, porque o verão valadarense a gente já não consegue suportar.”
Josiane Brandão, servidora pública, 51 anos
O que se pode notar é que, tanto para Josiane quanto para Vítor, o clima em Valadares está mais agradável. Mesmo com as noites cada vez mais frias, os valadarenses demonstram uma preferência na temperatura assim, visto que, na maior parte do ano, o forte calor prevalece, ao ponto de incomodar algumas pessoas.
Depois do mês de julho mais quente que o normal, temperaturas caíram em agosto
Um dos motivos pelos quais o clima frio em agosto foi notado pelos valadarenses é a diferença em relação ao começo do inverno. Isso porque, no mês de julho, a média das temperaturas máximas e mínimas ficou acima das previsões.
“A média da temperatura máxima nos meses de junho e julho ficou ligeiramente acima da média esperada. As médias históricas nos meses de junho e de julho são de 27,9oC e 27,8 oC, já as médias mensais dos respectivos meses em 2020 foram de 28,2oC e 27,9oC. Já no mês de agosto observa-se que a média da temperatura máxima registrada [26,8oC] está bem abaixo da média histórica do mês [28,6oC]”, explica Daniela Martins Cunha, professora e pesquisadora do Instituto Federal de Minas Gerais em Governador Valadares (IFMG/GV).
Temperatura Máxima nos meses de julho e agosto de 2020.
Elaborado por Daniela Martins Cunha-IFMG/GV com dados extraídos do Inmet, 2020.
De acordo com Daniela, as mesmas análises podem ser realizadas em relação aos gráficos de temperatura mínima de junho, julho e agosto de 2020. “O mês de julho foi o único no qual a média da temperatura mínima registrada no mês [15,5oC] ficou um pouco acima da esperada historicamente [15,2oC]. Já nos meses de junho e agosto [até o dia 12] foram registradas as seguintes médias mensais das temperaturas mínimas: 15,2oC e 14,8oC, valores inferiores ao esperado historicamente, 15,8oC e 16,4oC, respectivamente”.
Elaborado por Daniela Martins Cunha-IFMG/GV com dados extraídos do Inmet, 2020.
A pesquisadora explica que, pela análise dos dados, o mês de julho foi um pouco mais quente que o esperado, enquanto que os meses de junho e agosto, um pouco mais frios, especialmente o último. De acordo com ela, as temperaturas mais baixas registradas nesses meses resultaram, principalmente, da atuação de dois sistemas atmosféricos: o avanço de frentes frias sobre a região e a presença na retaguarda dessas frentes de massas de ar polar, as quais contribuem para a diminuição tanto da temperatura máxima como da temperatura mínima.
Além disso, também há a presença da Alta Pressão Subtropical (ASAS) no litoral Atlântico, próximo à região Sudeste, a qual direcionou a umidade oceânica para a região e, paralelo a isso, contribuiu para o aumento da nebulosidade e, consequentemente, a ocorrência de temperaturas mais amenas.
Aumento nas chuvas em julho e agosto
A professora do IFMG também explica que esses mesmos sistemas atmosféricos estão relacionados e são os principais responsáveis pelos volumes de chuva ocorridos durante esses meses. “Em geral, esses são os três meses mais secos do ano, com os menores volumes de média histórica de chuvas. Assim, dizer que choveu acima da média, como o ocorrido em julho, não significa dizer que choveu muito, pois a média histórica é a mais baixa, apenas 8mm de chuva”, ressalta.
Elaborado por Daniela Martins Cunha-IFMG/GV com dados extraídos do Inmet, 2020.
Clima já deve começar a esquentar nos próximos dias
De acordo com Daniela Martins Cunha, professora e pesquisadora do Instituto Federal de Minas Gerais em Governador Valadares (IFMG/GV), o frio incomum não deve durar muito. “O inverno ainda terminará em 22 de setembro, mas a tendência climatológica é a de que as temperaturas, tanto máximas como mínimas, comecem a ficar mais elevadas no decorrer dos próximos dias”, explica.
