Basta caminhar pelas ruas Israel Pinheiro, Afonso Pena ou Marechal Deodoro para ver a enorme quantidade de placas de aluguel
A principal atividade econômica de Governador Valadares, o comércio, entrou em colapso desde o primeiro caso da Covid-19, em março. Mesmo diante dos decretos de flexibilização, está longe de ser o que era antes, ou pelo menos perto disso. Quem tem ponto comercial na região central da cidade sofre para manter o pagamento em dia. Inquilinos buscam negociar individualmente os contratos de aluguel, pelo menos provisoriamente.
Os lucros do setor imobiliário vêm principalmente dos aluguéis, que, embora sejam definidos em contratos, podem ser reajustados ao longo do tempo. Com o fechamento dos estabelecimentos, devido à pandemia, os locatários não veem outra alternativa a não ser entregar o ponto. Basta caminhar pelas ruas Israel Pinheiro, Bárbara Heliodora ou Marechal Deodoro – algumas das principais vias do Centro – para ver a enorme quantidade de placas de aluguel.
Proprietários de imobiliárias estão tendo dificuldades de encontrar inquilinos ou manter os atuais. Segundo recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), no Brasil, mais de 522 mil empresas foram fechadas apenas na primeira quinzena de junho, em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
Em Minas Gerais não é diferente. São aproximadamente 144 empresas extintas por dia. Somente em junho foram encerrados 3.440 negócios no estado, o que gera duas situações de extrema gravidade e consequências: primeiro, aumenta o número de desempregados; segundo, leva ao fechamento de imóveis comerciais alugados.
Conforme o especialista em direito imobiliário Castor Amaral Filho, Valadares sente ainda mais os efeitos da pandemia, uma vez que sua economia é sustentada em boa parte pelo comércio varejista.
“A crise no mercado imobiliário, comercial e residencial, com o fechamento das empresas, leva os empresários, vendo suas vendas diminuírem, a devolver os imóveis alugados aos seus proprietários, os quais, por sua vez, perdem a sua renda, diminuindo sua qualidade de vida. Uma caminhada rápida pelo centro comercial da cidade nos faz constatar a existência de várias lojas fechadas, seja por mudança de endereço (para um imóvel mais barato, ainda que em um ponto menos favorável), seja por fechamento da empresa em definitivo”, disse Amaral.
Para o especialista, uma vez fechado o negócio, os empregados são demitidos. E como muitos deles residem em imóveis também alugados, outra consequência é o atraso no pagamento dos aluguéis residenciais e encargos da locação. “Na minha visão, o novo coronavírus veio contaminar não apenas os seres humanos, mas a própria economia, levando à morte de empresas até então saudáveis e geradoras de renda e empregos”, comentou.
Bom senso
Desde o início da pandemia, especialistas já aconselhavam que o melhor a fazer no momento seria o locatário negociar com o locador uma revisão do valor do aluguel, para garantir a sobrevivência do negócio. Ou seja, a prática do bom senso, de ambos os lados.
A mesma opinião têm os donos de imóveis, para quem a negociação é melhor do que o encerramento do contrato neste momento de instabilidade, que pode gerar vacância do imóvel.
O empresário no segmento imobiliário em Valadares Carlos Amaral já vem adotando taxa de descontos para não perder o locador. “Estamos negociando com inquilinos mês a mês. Muitos estão pagando o que já vinham pagando com desconto de 30%. Em casos piores, dependendo da situação do dono, o desconto chega a ser de 50%. Isso varia de segmento para segmento. Temos casos de pessoas que não conseguiram manter e tiveram que entregar o ponto”, afirmou.
Para quem não tem condições de manter o aluguel do ponto na área comercial, a alternativa é buscar pontos mais baratos, porém, distantes do centro de GV. E conforme a pandemia se arrasta, os outros setores também são afetados. Empresas que podem funcionar estilo home office, por exemplo, podem diminuir o número de salas alugadas, para cortar custos durante o mês.
“Você pode olhar, por exemplo, o caso de quem tem ponto comercial de aluguel de vestidos de festas. Na pandemia não tem mais festas. Então, ninguém vai gastar com aluguel de roupas. Como essa pessoa vai manter o aluguel do imóvel?”, indaga Amaral.
Apesar de não enxergar com otimismo a situação no setor, Amaral garante que investimento em imóveis ainda é rentável e seguro. “Não temos motivos para ser otimistas. Mas o setor teve uma movimentação positiva nos últimos dias. O mercado de imóveis ainda é um investimento seguro. Comprar um imóvel, lote, imóvel comercial, seja onde for, é melhor do que aplicar dinheiro em poupança, por exemplo. O imóvel com o tempo se valoriza”, concluiu.