Uma paixão que já dura uma vida. Aos 72 anos de idade, completados ontem, 12, o médico pediatra Nicola Perim comemora esbanjando sua coleção de discos de vinil em seu apartamento, no Centro de Valadares. Um verdadeiro museu do rock, que inclui centenas de discos de vinil, a maioria deles do Elvis Presley, dezenas de baús com recortes, entrevistas e gravações raras do “Rei do Rock and Roll”.
Roqueiro à moda antiga, o médico mantém em seu seu valioso acervo não apenas discos. Cédulas do império real, moedas, carrinhos, fotos, vitrolas, guitarras e bicicletas ficam espalhados por todo o seu apartamento. O difícil foi convencer a esposa de colocar todos os discos na sala de visitas. Quase todas as pérolas foram adquiridas fora do Brasil, como a discografia especial da Amy Winehouse, algumas raridades do início de carreira do Bob Dylan e uma guitarra autografada por Willie Nelson, um dos maiores nomes da música country.
Nicola conta que começou a colecionar discos ainda jovem, nos anos “dourados” de Governador Valadares. “Nem o nome colecionador existia na época. Comecei na década de 50, quando a juventude de Valadares ia aos Estados Unidos e voltava de lá ouvindo Elvis Presley e Little Richard. Fiz parte do primeiro clube juvenil de Valadares. Era o clube dos 13. Foi dali que começou o rock na cidade, com Paiol 120. Eram bons tempos”, conta.
Filho de Fausto Perim e pai de quatro filhos, Nicola relembra a influência que teve na infância. “No início do rock, meu pai tinha uma radiola. A gente deitava no chão e ficava ouvindo um programa de rádio do Rio de Janeiro chamado ‘Hoje é dia de Rock’. Depois veio a época de ouro de Valadares. As boates faziam parte de uma época boa, sem bagunça e drogas. Dava para contar nos dedos quem gostava de rock em Valadares. Depois foram surgindo as boates, e a chegada do Paiol 120 mudou o gosto musical na cidade”, lembra.
Cada parede da sala de estar do pediatra é reservada a uma história do rock: Inglaterra, Estados Unidos e Irlanda. Uma enciclopédia do rock. A parede inglesa é totalmente tomada pelos Beatles, com fotos e shows épicos dos garotos de Liverpool nos Estados Unidos, quando houve a invasão britânica, em 1964, abrindo espaço para os Rolling Stones, The Who, The Kinks, The Dave Clark Five e The Hollies e, posteriormente, Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple. Na parede irlandesa estão faixas e placas de pubs irlandeses, compradas em suas viagens à Europa. Na parede norte-americana não poderia faltar o astro principal. Considerado pelo médico o maior ídolo do rock’n roll mundial, Elvis Presley tem um corredor inteiro contando sua história, desde a infância, em Memphis, Tennessee, onde participava do coro da igreja evangélica, até os palcos de Las Vegas, chegando ao auge de sua carreira com os clássicos “Kiss Me Quick”, “Bossa Nova Baby”, “It’s Now or Never” e “Bridge Over Troubled Water”, e com o rebolado que provocava reações histéricas nas plateias adolescentes na época.
Além de LPs, recortes e revistas de rock, Nicola também possui em seu acervo discos e CDs de artistas nacionais. “A maioria dos discos foi adquirida. Fui atrás de discos no mundo inteiro. De cada lugar que visitei trouxe algo de valor para colocar na minha sala. As coisas começaram a crescer aqui através dos amigos que também gostam de rock. O crescimento da coleção foi acontecendo naturalmente. Sou bem eclético nas minhas escolhas; tenho na minha coleção discos nacionais de rock e MPB”, conta.
Depois de ir a shows de Bod Dylan e Paul McCartney, a próxima realização do médico é ir a um show de Bruce Springsteen. “Para mim, três nomes fazem parte da poesia do rock: Bod Dylan, Bruce Springsteen e Leonard Cohen. Meu sonho ainda é ir ao show do Bruce. Mas é muito difícil ele vir ao Brasil”.
Perguntado sobre o destino de sua coleção, Nicola Perim ficou em silêncio e depois disse não se sentir preocupado com o futuro do acervo. Seu apartamento estará sempre à disposição dos amantes do rock’n roll. “Isso aqui é história de vida. O Elvis foi o pai de tudo. Chegou devagarzinho e tomou conta de toda a sala. Continuo a pesquisar por música, porque, por mais que saibamos, sempre haverá muito mais pra saber. Por isso, preciso da ajuda de amigos, para poder organizar minhas coleções e compartilhar mais histórias para aqueles que não me conhecem.”
por Eduardo Lima | eduardolima.drd@gmail.com