Especialista diz que assoreamento no rio Doce pode ter sido causado por lama da Samarco

Após as intensas chuvas que atingiram Minas Gerais durante o mês de janeiro, vários municípios por onde passam o rio Doce foram castigados. Em algumas localidades, o nível da água subiu mais de 4 metros. Em Governador Valadares, o pico crítico do nível do rio, segundo a régua do SAAE, chegou a 3,93 metros e atingiu vários bairros. Moradores ribeirinhos que ficaram desabrigados com a enchente questionaram a medição, já que na enchente ocorrida em 2012, por exemplo, o rio chegou a 4,15 metros e causou menos prejuízos. Diante disso, uma nova hipótese veio à tona nos últimos dias.

Depois de o rompimento da Barragem de Fundão, no dia 5 de novembro de 2015, em Mariana (MG), ter despejado quase 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração em todo leito do rio Doce, o acúmulo desse material tornou o manancial que banha a cidade mais vulnerável ao risco de enchentes, deixando-o mais raso. A hipótese foi levantada pelo engenheiro agrônomo e  professor de recursos hídricos da Universidade Federal dos Vales dos Rios Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Alexandre Sílvio, que mora em Governador Valadares há 10 anos. De acordo com o professor, essa condição pode ter facilitado o transbordamento do curso d’água, com chuvas menos intensas do que antes. “O material que se rompeu lá em Mariana é um material de alta densidade.

Isso significa que ela não se arrasta facilmente no curso do rio. Nós verificamos em 2016 duas análises feitas no rio Doce e com os peixes. Lá, já identificava uma prévia de assoreamento entre 30 a 40 centímetros de lama. Claro que isso já deve ter mudado ao longo desses anos. O que acontece é que a calha mais funda no rio fica mais no centro. É bem provável que esse material ainda esteja lá no fundo, reduzido o seu leito. Mas isso é apenas uma hipótese. Não temos nenhuma prova ainda sobre isso. É preciso fazer análises técnicas no fundo do rio”, disse Alexandre.

Para o engenheiro, nem mesmo o histórico de assoreamento no rio Doce é motivo para o transbordamento tão rápido para os bairros ribeirinhos. “O rio Doce já era naturalmente assoreado devido à degradação na região. Mas só que esse processo acontece lentamente. O que houve em Mariana foi o despejo de quase 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos, que não vão embora assim facilmente. Uma boa parte desse material permanece no leito do rio. Eu moro aqui há quase 10 anos e nunca vi o rio chegar nesse nível. Alguma coisa tá errada aí. O que precisa nesse momento é análise para descobrir o motivo”, disse.

O que diz a Fundação Renova

Em nota, a Fundação Renova, que é a entidade responsável pela mobilização para a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, disse que não há evidências de que o rompimento da barragem de Fundão tenha causado impactos na elevação do nível do rio Doce. “A Fundação Renova informa que não há evidências de que o rompimento da barragem de Fundão tenha causado elevação dos níveis de água dos rios. O aumento de turbidez em decorrência da elevação de partículas ocorre sazonalmente no período chuvoso e, até o momento, não é possível afirmar se está associado ou não ao rejeito. Hoje (5),  o nível do rio Doce baixou em relação à semana passada e os valores de turbidez estão dentro dos parâmetros normais para o período”, defendeu.

Conforme a Fundação Renova, a retenção de rejeitos de minério continuam nas usinas. “A Usina Hidrelétrica Risoleta Neves reteve mais de 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos (um quarto do que vazou de Fundão), impedindo que seguissem para a calha do rio Doce. Um milhão de metros cúbicos do material que estava depositado em um trecho de 400 metros em Candonga foram retirados. A limpeza das três turbinas da usina, chamadas Unidades Geradoras de Energia (UGE), está concluída. Esse trabalho envolveu a atuação de mergulhadores que ajudaram a identificar e a retirar manualmente os detritos que comprometiam o funcionamento dos equipamentos”, diz.

Prejuízos ainda são sentidos pela população

Mais de dez bairros ribeirinhos em Governador Valadares foram impactados pela enchente. A cidade decretou situação de emergência, e cerca de 50 mil pessoas foram atingidas, sendo que 15 mil ficaram desalojadas e 292 desabrigadas. O prefeito André Merlo (PSDB) disse na quinta-feira (30) que vai processar a Samarco.

Poeira preocupa moradores ribeirinhos

A água da enchente do rio Doce em Governador Valadares virou poeira e vem preocupando moradores nos bairros ribeirinhos. Os moradores cobram da Prefeitura mais agilidade na limpeza das ruas porque alegam estar passando mal por conta da inalação da poeira. O DRD foi às ruas para ouvir a opinião dos moradores.

“Eu acho que essa poeira é muito prejudicial. Valadares já sofreu com outras enchentes em outros anos, mas essa foi a pior, justamente por causa dos minérios. Essa poeira é até mais difícil de limpar”.
Lia Custodia – Faxineira

“A enchente anterior não deixou essa quantidade de lama, o aumento do rio é periódico, acontece com muita frequência, mas a quantidade de lama e o conteúdo da lama não são normais. Eu costumava correr em volta da ilha tranquilamente e agora preciso usar máscara” .
Igor Paiva – Engenheiro.

A verdade é que a gente não sabe do que é essa poeira, se é só lama ou se tem algum resíduo a mais. Está atrapalhando muito a respiração, não é uma poeira normal, parece tóxica”.
Andressa Alves – Auxiliar Administrativo

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