BELO HORIZONTE – Em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na última terça-feira (18), usuários da BR-381 levaram uma série de reivindicações sobre a cobrança e a instalação de praças de pedágio no trecho entre Caeté e Governador Valadares. A reunião, convocada pela Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas, debateu a atual situação da rodovia, considerada uma das mais perigosas do país, e tratou de demandas urgentes de segurança, infraestrutura e justiça tarifária.
Entre os pedidos apresentados estão: a redução dos valores cobrados entre Caeté e Governador Valadares; início da cobrança de pedágio somente após melhorias no trecho entre Caeté e Belo Horizonte; isenção para segmentos que trafegam diariamente pela estrada; e construção de novas passarelas. A BR-381 Norte foi concedida em 2024 à empresa Nova 381, que instalou cinco praças de pedágio ao longo do trecho.
Apesar de convidados, representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e da concessionária não compareceram à audiência. Participaram do encontro o coordenador regional da ANTT em Minas Gerais, Marcelo dos Santos, além de prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e moradores das cidades cortadas pela rodovia.
“Rodovia da morte” segue em condições precárias
O deputado Delegado Christiano Xavier (PSD), responsável pelo requerimento da audiência, abriu a reunião apresentando um vídeo com acidentes graves registrados ao longo da BR-381, conhecida como “rodovia da morte”. Somente em 2025, foram 25 mortes e 221 feridos no trecho. O parlamentar explicou que a estrada é dividida em dois segmentos: o Sul, entre Belo Horizonte e São Paulo, duplicado e privatizado em 2008; e o Norte, entre a Capital e o Espírito Santo, marcado por relevo acidentado e geologia desfavorável.
Segundo ele, a falta de interesse histórico de investidores no trecho Norte se deve justamente ao alto custo de obras e desapropriações. A concessão só avançou após acordos firmados no Tribunal Regional Federal da 6ª Região, que trataram da realocação de moradores. Hoje, com cinco praças em operação, o valor total para quem percorre o trajeto entre BH e Governador Valadares chega a R$ 68,20.
Christiano Xavier também criticou o orçamento federal destinado às obras de duplicação do trecho entre Belo Horizonte e Caeté, ainda sob responsabilidade do DNIT. Foram reservados apenas R$ 96 milhões — cerca de 10% dos R$ 915 milhões previstos. As obras foram divididas nos lotes 8A (Caeté-Ravena) e 8B (Ravena-BH), com licitações já concluídas.
Municípios pedem redução da tarifa e mais passarelas
Representantes municipais relataram dificuldades enfrentadas pela população com a nova tarifa. O prefeito de Nova União, Waldir dos Santos, considerou abusivo o valor de R$ 15,50 cobrado em um trajeto de apenas 20 km entre sua cidade e Caeté. Produtores rurais, especialmente bananais, são os mais prejudicados, segundo ele. “Se não conseguirem isenção, que pelo menos reduzam os valores”, solicitou.
De Bom Jesus do Amparo, o vice-prefeito Gilvan Santos pediu a construção de mais duas passarelas além das previstas no contrato. As comunidades de Serrinha, Campolar, Filipe e Gauchão seriam beneficiadas. A ANTT informou que o contrato permite novos investimentos e que a demanda será analisada. Em Caeté, o representante da Defesa Civil e Mobilidade Urbana, Fernando José da Silva, reforçou a urgência de uma passarela no trevo da cidade e pediu estudos para melhorar o tráfego desviado da BR-381, que sobrecarrega o município.
Isenções para entidades e usuários frequentes
Outra pauta recorrente foi a solicitação de isenções de pedágio para instituições filantrópicas e pacientes que precisam viajar com frequência até Belo Horizonte para tratamento de saúde. A advogada Alda Castro, de Timóteo, sugeriu que entidades que transportam pacientes tenham isenção. Já Cibele Machado, de Itabira, alertou que um paciente oncológico que precisa ir à Capital de segunda a sexta pode gastar até R$ 1.240 por mês apenas com pedágio. Ela também cobrou melhorias em serviços de apoio, como atendimento ao usuário e telefonia celular.
O vereador Maguinho, de Bom Jesus do Amparo, destacou o impacto sobre transportadoras: “Se uma carreta faz cinco viagens por dia, o valor mensal ultrapassa R$ 10 mil”. Zelo, vice-prefeito de Antônio Dias, reforçou que a cobrança é injusta sem melhorias completas nos trechos: “Não somos contra o pedágio, mas a melhoria precisa vir primeiro”.
ANTT diz que tarifa reflete investimentos
O representante da ANTT explicou que o valor cobrado pela Nova 381 está diretamente ligado ao volume de investimentos que a concessionária precisa realizar ao longo dos 30 anos de contrato. No trecho Sul, já duplicado no momento da concessão, foi possível aplicar um desconto de 80% nas tarifas. No trecho Norte, por outro lado, a empresa assumiu todas as obras de ampliação e manutenção, elevando o custo da cobrança.
Marcelo Santos afirmou que a tarifa mínima ficou entre R$ 12 e R$ 15 e que isenções atualmente se aplicam apenas a carros de passeio. Ele reconheceu que, em algumas regiões, os próprios produtores são os responsáveis pelo transporte de mercadorias, o que faz com que os custos pesem diretamente sobre eles. O gestor também confirmou a instalação de mais 50 radares na rodovia, além dos 18 já existentes. Segundo ele, os equipamentos devem entrar em operação em até 90 dias, devidamente aferidos e sinalizados.







