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‘O transplante salvou a minha vida’: entenda a importância da doação de órgãos 

— FOTO: Freepik

GOVERNADOR VALADARES – Na próxima sexta-feira (27), é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, data que busca promover a conscientização da sociedade sobre a importância deste ato nobre. Além disso, a campanha visa desmistificar o tabu em torno do tema, motivando as pessoas a conversarem com seus familiares e amigos sobre a causa.

Desafios

O transplante se trata de um procedimento cirúrgico que substitui um órgão ou tecido disfuncional de um paciente por um saudável, recebido de um doador vivo ou falecido. Mas, receber essa nova chance de vida não é tão fácil. A taxa média de espera por um órgão no Brasil é de 18 meses, tempo que ainda varia consideravelmente a depender do tipo de transplante, das condições do paciente e do volume de doadores.

Com o maior programa público de transplante do mundo, o Brasil é o segundo país que mais realiza o procedimento, sendo que o Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável pelo financiamento de cerca de 95% deles. Ou seja, os pacientes recebem suporte integral e gratuito, incluindo exames, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante, por meio da rede pública.

O SUS possui a maior organização de transplantes do mundo. — FOTO: Divulgação/Maurício Bazílio/SES

Ainda assim, é preciso abrir a mente das pessoas para que considerem a doação. Segundo dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), em média, 3 mil brasileiros morrem por ano à espera de transplante de órgãos, em maior parte, devido à recusa familiar: 4 a cada 10 famílias negaram a doação após morte encefálica de um ente querido, de acordo com pesquisa do Ministério da Saúde. 

Segundo o médico nefrologista Dr. Célio Ferreira Magalhães, — que gerenciou as atividades de transplantes na região de Valadares por 17 anos na Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos — dentre os desafios enfrentados ainda há o desconhecimento das famílias em relação à morte encefálica, a falta de manifestação de desejo do potencial doador, a demora na liberação do corpo, questões religiosas e o medo da comercialização. 

O nefrologista coordenou a CNCDO Leste por 17 anos, e hoje dá suporte aos pacientes da hemodiálise e os prepara para o processo de transplante. — FOTO: Arquivo pessoal

Um gesto que salva vidas

Renascida há 12 anos, a psicopedagoga e psicoterapeuta Ana Cristina Franco (39) relata como o transplante de rins e pâncreas lhe proporcionou uma nova chance de viver. Hoje, ela luta para dar visibilidade à causa, destacando como esse gesto de solidariedade pode transformar vidas. 

Ana Cristina passou pelo processo de transplante de rins e pâncreas em 2012. — FOTO: Arquivo pessoal

Aos 10 anos, Ana foi diagnosticada com diabetes tipo 1, uma condição que nem sempre é genética, mas pode ser decorrente de uma ambiência complexa e emoções interrompidas. Devido a questões financeiras e emocionais, ela não pôde arcar com o tratamento adequado, o que ocasionou o agravamento da síndrome a ponto de comprometer sua função renal e sua retina.

Em 2005, aos 20 anos, ela se mudou para Governador Valadares, onde obteve o diagnóstico de severa retinopatia diabética, que resultou na perda da visão total de um olho e parcial do outro. Algum tempo depois, ela descobriu sua falência renal. A partir disso, Ana começou uma fase intensa de tratamentos, que durou mais de 5 anos, sendo parte deles dedicada à hemodiálise, procedimento acompanhado pelo Dr. Célio Ferreira, seu médico de confiança desde então.

Porém, esse tratamento tão invasivo também drenava sua qualidade de vida, já que exigia restrições e ajustes significativos em sua rotina. Por isso, Ana foi em busca de uma nova chance de viver: o transplante de órgãos. “Durante a primeira semana de hemodiálise me informei sobre os trâmites para entrar na fila do transplante, que no meu caso seria duplo (rim e pâncreas). Escolhi o Hospital das Clínicas de BH e dei início ao processo. Após 1 ano e 3 meses inscrita, recebi a ligação […] e, na última prova de compatibilidade genética, fui avisada de que seria para mim”, relembra.

Foram 13 horas de cirurgia, 5 dias na UTI e 1 mês hospitalizada. Após receber alta, Ana ainda ficou mais um mês hospedada na capital para consultas e realização de exames. Mas, cada segundo valeu a pena. “O transplante salvou a minha vida, me trouxe liberdade de ir e vir ao me ‘desprender’ da máquina de hemodiálise, ajudando a prevenir futuras complicações, me proporcionando mais maturidade, capacitação, coragem e qualidade de vida”, conta.

Graças ao transplante, Ana vive uma nova vida, com liberdade para ir e vir, longe das “amarras” da máquina de hemodiálise. — FOTO: Arquivo pessoal

Segundo o nefrologista Dr. Célio, quando a pessoa recebe um novo órgão, ela também recebe uma nova chance de vida. “O transplante traz um impacto bastante positivo em todos os sentidos, tanto do lado emocional, quanto do espiritual, quanto do orgânico. A pessoa tem melhor qualidade de vida porque fica curada daquela doença que a estava levando para o leito de morte. É como se fosse nascer de novo”, conta.

Como superar os desafios

Após ter o seu propósito de vida renovado, Ana se dedica a expandir o olhar das pessoas para que percebam o quanto um simples gesto pode ser transformador. “Não faz sentido enterrar órgãos saudáveis, parte da matéria, se eles podem salvar inúmeras vidas e levá-las a terem mais liberdade e saúde para desfrutarem seus dias ao lado daqueles que amam”, diz.

Como psicoterapeuta e psicopedagoga, ela acredita que alguns pontos podem ser considerados na capacitação dos profissionais de saúde para que se comuniquem de forma sensível e empática com os familiares no momento de informar sobre a possibilidade de doação. “Oferecer treinamento sobre o processo, incluir profissionais de saúde mental na equipe para fornecer suporte adicional aos familiares, realizar simulações, promover uma abordagem interdisciplinar, tudo isso pode fazer a diferença na hora de esclarecer dúvidas e informar às famílias sobre a importância da doação”, explica.

O momento após a morte de um paciente é delicado, por isso os profissionais de saúde devem estar aptos a dar suporte para a família e informar sobre a possibilidade de doação. — FOTO: Reprodução/Internet

Também grande defensor da causa, Dr. Célio acredita que essa conscientização deveria começar desde cedo, dentro do ambiente escolar. “Eu acho que poderia ser mais discutido nas salas de aula para que os alunos levem esse assunto para as suas residências. Porque falar de doação não é falar de morte. Falar de doação é falar sobre salvar vidas. É uma forma de você continuar vivo no corpo de uma outra pessoa. É um ato de amor”.

Campanhas de conscientização

Para o médico nefrologista, as campanhas em prol da causa realizadas em espaços públicos fazem toda a diferença, pois contribuem para captar a atenção de ainda mais pessoas. Segundo o especialista, durante a sua passagem pela Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, entre os anos 2001 e 2016, eram realizadas anualmente ações pelas ruas de Valadares, porém, infelizmente, elas não são mais vistas com tanta frequência.

“Saíamos pelas ruas, realmente agitando, e as pessoas saíam na porta das lojas para ver que campanha era aquela. E nós explicávamos sobre a doação de órgãos, apresentando cartazes e panfletando sobre as doações. Mas, agora, infelizmente essas campanhas pararam”, relembra Dr. Célio.

Dr. Célio discursando em uma das campanha de conscientização realizadas enquanto esteve na coordenação do CNCDO Leste. — FOTO: Arquivo pessoal

Essa reflexão traz à tona a importância dos órgãos públicos investirem mais em ações públicas, indo além das redes sociais, a fim de gerar impacto direto na sociedade, já que esse ato oferece a possibilidade das pessoas terem uma interação presencial com pacientes que necessitam de transplante ou que já tenham recebido doação, além de especialistas e apoiadores da causa.

Como ser um doador?

Se possível, registre sua decisão em documentos oficiais, como a Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (Aedo), lançada neste ano pelo Ministério da Saúde. Basta acessar a plataforma, realizar o cadastro e formalizar a intenção de ser doador. Após o registro, um cartório entrará em contato para oficializar o pedido.

No entanto, no Brasil, a legislação atual ainda determina que a decisão final sobre a doação de órgãos pertence à família do falecido. Dessa forma, converse com seus amigos e familiares, deixando claro o seu desejo e contribuindo ainda mais para a conscientização da causa. 

Por fim, siga a mensagem de Ana e seja a esperança das longas filas de espera: “ao ser uma voz ativa e positiva sobre a doação de órgãos, você contribui para quebrar tabus e estigmas. Sua decisão pode inspirar outros e criar um impacto significativo”.

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