Após um dia árduo de trabalho ou estudos, o momento de deitar a cabeça no travesseiro e recarregar as energias se torna o mais esperado. O que muita gente não espera é, em plena hora do descanso, iniciar uma nova batalha contra a temida falta de sono.
Essa é a realidade de 72% da população do Brasil, conforme uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgada pelo Ministério da Saúde, no mês passado. O médico neurologista e especialista do Instituto do Sono de Governador Valadares, Dr. Jefferson Carlos de Faria Soares, explica que entre os fatores que podem desencadear a insônia estão: estresse, ansiedade, mudanças de horário para dormir e acordar, estilo de vida pouco saudável, condições clínicas, ambiente inadequado ao sono e uso de medicamentos.
“Preocupações com trabalho, relacionamentos ou problemas pessoais também podem contribuir para a insônia. Dormir em horários irregulares, como acordar tarde ou ficar acordado até tarde, pode desregular o ritmo circadiano do corpo e levar à insônia. Hábitos pouco saudáveis, como o consumo excessivo de cafeína, álcool ou drogas, podem prejudicar a qualidade do sono. Algumas condições médicas, como dor crônica, asma, apneia do sono ou síndrome das pernas inquietas, também podem dificultar o sono. Além de medicamentos como antidepressivos, estimulantes e medicamentos para pressão arterial”, menciona.
Motivos e consequências da insônia
O neurologista reforça, portanto, a importância da consulta médica para um diagnóstico preciso e solução do caso. Uma vez que o profissional investiga, cientificamente, a raiz do problema.
“Do ponto de vista científico, o sono é regulado por um complexo sistema no cérebro que envolve várias substâncias químicas e hormônios. O hormônio do sono, melatonina, é secretado pela glândula pineal do cérebro e ajuda a regular o ciclo sono-vigília do corpo. Outros neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, também desempenham um papel importante na regulação do sono. Quando uma pessoa tem problemas para dormir geralmente é porque algo está interferindo nesse sistema de regulação do sono”, detalha.
Além disso, o médico adverte sobre os prejuízos causados pela insônia, caso o problema não seja devidamente tratado. “Quando uma pessoa não dorme o suficiente isso pode afetar a quantidade e a qualidade do sono REM (Rapid Eye Movement), que é o estágio do sono mais restaurador. A privação do sono REM pode levar a problemas como fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade e até mesmo problemas de saúde em longo prazo. É importante ressaltar que a falta de sono adequado pode levar a uma série de problemas de saúde, como aumento do risco de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e problemas cognitivos”, pontua o especialista.
Outros problemas resultantes da insônia, de acordo com Soares, são as dificuldades de memória, cognição e de convívio social. Obstáculos que, segundo o médico, podem afetar as atividades profissionais e também os relacionamentos do paciente.
Quanto ao alto índice de brasileiros que, conforme a pesquisa da Fiocruz, estão sofrendo com a insônia, o neurologista apresenta alguns motivos. Segundo Jefferson Soares, o excesso de conexão com o mundo digital e a rotina exaustiva têm sido agravantes. “O uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como smartphones, tablets e computadores, pode prejudicar o sono devido à luz azul que emitem, que pode afetar a produção de melatonina e, assim, dificultar o sono. A adoção de um estilo de vida mais agitado, com rotinas de trabalho intensas e menos tempo para atividades de lazer e relaxamento, pode levar a um sono insuficiente”, esclarece.
Ainda segundo o Dr. Jefferson Soares, a insônia é mais comum em adultos e idosos, mas pode acometer pessoas de todas as idades. “Algumas pesquisas sugerem que mulheres, idosos e pessoas com transtornos de ansiedade ou depressão têm maior probabilidade de desenvolver insônia. Além disso, pessoas que trabalham em turnos noturnos ou que viajam frequentemente também podem estar em maior risco de desenvolver problemas de sono”, ressalta.
Como medidas de prevenção, o médico listou alguns hábitos indispensáveis para dormir bem. “Estabelecer um horário regular para dormir e acordar; evitar cafeína, álcool e tabaco algumas horas antes de dormir; evitar exercícios intensos algumas horas antes de dormir; criar um ambiente propício para o sono, com temperatura adequada, pouca luz e pouco barulho; relaxar antes de dormir, com atividades como meditação, leitura ou banho quente”, diz.
No entanto se a insônia persistir, o neurologista aconselha que a pessoa busque ajuda médica especializada e não recorra à automedicação. “Automedicar-se com remédios para dormir pode ser arriscado. Muitos desses medicamentos têm efeitos colaterais e podem causar dependência. Além disso, a automedicação pode mascarar um problema de saúde subjacente que precisa ser tratado adequadamente. Por isso é importante buscar aconselhamento médico antes de tomar qualquer medicamento para dormir”, conclui o médico.