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Perda da inocência, trauma e culpa

Profissionais da Psicologia advertem que não educar crianças e adolescentes no campo da sexualidade e afetividade pode expô-los a problemas futuros

O tempo de falar sobre sexualidade chega para todos, sem exceção, de um jeito bom ou ruim. Afinal, essa palavra engloba uma série de elementos importantes para a vida de uma pessoa. Isso inclui a forma como ela se vê, como enxerga a outra pessoa, como demonstra confiança e afeto. Além dos tipos de tratamento que aceita receber, os riscos aos quais está exposta, as consequências, como se proteger de tais riscos etc.

A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgou, em dezembro de 2019, um levantamento feito com mais de 6 mil adolescentes, entre 12 e 15 anos. Um fator curioso desse estudo é que os dados apontam maior índice de iniciação sexual precoce entre estudantes cujos pais não se interessam ou não dão tanta importância ao assunto. Conforme a pesquisa, alguns pais se mostram permissivos e tolerantes demais com as práticas não saudáveis dos filhos.

Problemas emocionais e de autoestima

Em contrapartida, de acordo com a pesquisa, ao mesmo tempo em que desfrutam de certa “liberdade”, esses mesmos adolescentes relataram problemas emocionais e de autoestima, como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. A problemática existente nesse tema é: de quem é a culpa?

Para a psicóloga Joice Maciel, que atende especificamente o público de 1 a 16 anos, ignorar o assunto está longe de ser uma solução para os responsáveis durante a formação da personalidade dos filhos. “Muitas vezes, os pais tentam manter a inocência de seu filho (a), poupando-o de certos assuntos e conhecimentos que, às vezes, acontecem antes do esperado pelos pais e a criança ou adolescente não sabe lidar. Quando os pais se veem diante da situação, também ficam sem saber como agir. Tenho casos de adolescentes frustradas devido a falta de conhecimento com as transformações que vêm ocorrendo em seu corpo. Inclusive sofrendo bullying e assédio devido a ‘já formação’ do corpo”, destacou.

A psicóloga reforça que, para além de uma questão física ou biológica, é preciso saber abordar a sexualidade de modo que a criança e o adolescente compreendam que são dignos de respeito, afeto e segurança.

Família é fundamental


“É muito importante que a família, desde cedo, esteja envolvida com o objetivo de ajudar a criança a integrar, de modo harmônico, os sentimentos e afetos que são despertados por diferentes estímulos. De modo que consigam responder a esses sentimentos com condutas benéficas para ela mesma e para os que a rodeiam. Já sobre a sexualidade em si, é importante cada família ensinar o que cabe dentro da sua conduta. Mas, primordialmente, ensinar o respeito próprio para com seu corpo e com o do outro, pois nossa sociedade atual é a mais bem informada a respeito da sexualidade. E, apesar disso, há um aumento na incidência de gravidezes precoces, diagnósticos de doenças sexualmente transmissíveis. Além de experiências infelizes no campo do matrimônio e da própria sexualidade”, alerta Joice Maciel.

Outro comportamento que preocupa a especialista é a cultura de cobrar mais das meninas do que dos meninos. Joice Maciel reforça que ambos os gêneros precisam aprender, no tempo apropriado, a se relacionar e se proteger nos âmbitos físico, mental e emocional. Até para que um lado não prejudique o outro no futuro.

I“As meninas são muito mais cobradas e orientadas que os meninos, talvez pelo fato de menstruarem, e, com isso, a mudança corporal e hormonal ser visível. Os meninos são os que menos são orientados e instruídos, principalmente, em relação a doenças e proteção. Ambos têm que ser orientados sexualmente e afetivamente igualmente”, destacou.

É nisso que também acredita a psicóloga Mariana Duarte. Aliás, quanto ao momento apropriado para se falar no tema, a profissional recomenda que seja o quanto antes, desde que se respeite também a fase de desenvolvimento em que a criança ou adolescente se encontra.

Abordagem deve começar desde cedo

“É importante que a abordagem do tema seja desde cedo e de maneira natural. Na primeira infância (0 a 6 anos), o principal a ser tratado são as características e os cuidados que devemos ter com o nosso corpo. É muito importante que a criança saiba diferenciar em quais lugares ela pode ficar à vontade e em segurança. Constituindo a noção de pudor e privacidade. Entendendo onde, quando e com quem pode ter certos hábitos. Ensinar as crianças onde podem ou não ser tocadas por terceiros. O ideal é poder sempre informar, com naturalidade e objetividade, o que é relevante para a faixa etária em questão. Antes de tudo, ouça, entenda quais são as dúvidas do seu filho (a). Então busque formas de conseguir explicá-lo sobre o que ele precisa, naquele momento, saber”, explicou.

Portanto se o ideal é preservar a inocência, Mariana afirma ser melhor os pais darem a atenção necessária ao tema. Ou seja, isso diminui o risco da criança ou do adolescente buscar outros meios. “Por esse assunto não ser abordado em família de maneira natural, as crianças e adolescentes tendem a buscar por informações de formas prejudiciais como, por exemplo, sites pornográficos. Ou aprendem sobre sexualidade por meio de tentativa e erro”, acrescentou.

Início precoce da vida sexual

Especialistas enfatizam que a negação por parte da família unida à vida sexual precoce podem se tornar uma combinação fatal. Ou seja, a inocência e falta de conhecimento sobre um assunto que é fundamental pode levar a pessoa a cometer um erro e conviver com o sentimento de culpa, o que resulta em sintomas traumáticos.

“Esse início precoce pode vir a prejudicar a saúde sexual e reprodutiva de jovens. Uma vez que os jovens têm na primeira relação sexual uma gama de fatores que os predispõem ao exercício inadvertido da sexualidade, tais como: uso inadequado de métodos contraceptivos, ausência de orientação sobre sexualidade, gravidez indesejada, entre outros. É marcadamente sabido que um início sexual precoce acarreta não só mais parceiros ao longo da vida, mas também riscos maiores de doenças sexuais, comportamento antissocial e depressão”, diz a psicóloga Joice Maciel.

“Não falar sobre sexualidade com os filhos é perder a oportunidade de ensiná-lo corretamente e abrir a possibilidade dele absorver conteúdos inadequados, com intuito de obter informações ou até de matar a curiosidade. Não ensinar a eles é perder a oportunidade de transmitir os valores da sua família. Uma vez que a criança ou o adolescente não tem conhecimento sobre o assunto, o risco de se expor a situações abusivas, doenças e gravidez é maior. A adolescência é uma fase em que diversas mudanças acontecem. Os adolescentes tendem a ter mais conflitos envolvendo todas essas mudanças. Nesse momento, ensinar sobre autonomia, autocuidado, prevenção, consentimento e sexualidade é de suma importância”, conclui a psicóloga Mariana Duarte.

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