Na publicação produzida pelo STF, o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, cita dados de pesquisas que mostram discriminação de gênero na mídia e na área jurídica.
Para combater a pouca visibilidade da contribuição feminina no cenário acadêmico jurídico, o Supremo Tribunal Federal (STF) lançou a obra “Produção de Mulheres em Direito Constitucional”, dentro da coletânea “Bibliografia, Legislação e Jurisprudência Temática”. Na apresentação da publicação, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, cita dados de pesquisas que refletem esse quadro.
Um estudo conduzido pelos juristas Daniela Urtado, Bruno Lorenzetto, Pedro Kenicke e Diego Kubis Jesus mostra os nomes dos constitucionalistas mais citados pelo Supremo no controle concentrado de constitucionalidade. Os dados foram obtidos após análise de 1.147 julgados de 1º/1/2013 a 31/12/2020. Observou-se que, dos 114 nomes de constitucionalistas, apenas 13 são mulheres, o que corresponde a 11,4%.
Segundo o ministro Luiz Fux, esse fenômeno ocorre também em outras áreas. Uma pesquisa realizada pelas acadêmicas Lisa Jardine e Annie Watkins, do Queen Mary College (Londres), apontou que 80% dos homens questionados responderam que o último romance que haviam lido era de um escritor homem. Entre as mulheres, a probabilidade de ter lido um livro de um autor ou de uma autora era a mesma.
Quando perguntados sobre qual romance de uma autora eles haviam lido mais recentemente, a maioria dos homens achou difícil lembrar ou não soube responder, ao passo que as mulheres indicaram vários títulos. Finalmente, quando perguntados sobre o romance “mais importante” de uma autora escrito nos últimos dois anos, muitos homens confessaram não ter ideia.
Opinião na mídia
Sobre o viés de gênero e a forma de construção da autoridade de mulheres como especialistas, relatório da Global Media Monitoring Project, maior estudo sobre a representação feminina na mídia, indica que as opiniões de mulheres são menos ouvidas em tópicos que estão em pauta na imprensa e que, até mesmo em histórias que afetam mulheres profundamente, como violência de gênero, a voz masculina era mais consultada.
O relatório, também citado na publicação do STF, revela que, quando mulheres apareciam nas notícias, ou elas eram “estrelas” ou pessoas comuns, mas não especialistas em determinado assunto, profissionais de ramo específico ou figuras de autoridade.
“Esta publicação é uma forma de combater a injustiça desse cenário, fomentar uma alteração cultural no paradigma acadêmico no âmbito constitucional e alertar e corrigir esse viés de gênero”, afirmou o presidente do STF, no Plenário, no último dia 30, quando anunciou o lançamento da publicação.
A obra contém 100 indicações bibliográficas de autoras, legislação brasileira de garantia do direito das mulheres, além de disponibilizar conteúdo jurisprudencial sobre as principais questões decididas pelas ministras do STF e de Tribunais de outros países.
RP/EH