Pós-covid: médico valadarense ressalta que sequelas deixadas pela doença devem ser levadas a sério

Um estudo que acompanhou 1.733 pessoas por seis meses após a infecção por covid-19 em Wuhan, na China, mostrou que a maioria (76%) relatou pelo menos um sintoma nesse período posterior à fase aguda.

A pandemia trouxe não apenas o desafio de saber lidar com casos graves de internação, mas agora também tem que saber lidar com a chamada condição pós-covid, que tem exigido esforços de profissionais de saúde para atenderem a demanda crescente no Brasil.

O otorrinolaringologista Emerson Monteiro explica que voltar ao normal depois de ficar entubado pode levar de um a três meses. “Há uma perda da capacidade física, vinculada ao pulmão mais comprometido. Aquelas pessoas que têm a doença em um estado mais grave, vão ter um comprometimento maior. Muitos pacientes que ficaram na UTI vão ter uma recuperação demorada, precisando de fisioterapia para voltarem a até mesmo a andar”.

Emerson Monteiro esclarece que o processo de recuperação tem que ser progressivo e aos poucos, sem muita pressa. “Não tem como determinar uma regra para todos os pacientes, porque cada um desenvolve uma sequela diferente. Quanto mais grave e mais tempo permanecem na UTI ou entubado, maiores vão ser os problemas”.

O médico conta que mais tem atendido no consultório são pessoas com perda de olfato e paladar – estes sintomas podem persistir por mais tempo. A preocupação é que muitas pessoas não procuram um tratamento adequado para tirar o processo infeccioso que está ali no nervo e melhorar o olfato. Outra preocupação é com o aumento nos casos de AVC e infarto pós-covid.

Há mais de um ano de pandemia, muitas pessoas deixaram de fazer o acompanhamento de outras doenças que não estão sendo tratadas. Segundo ele, as pessoas estão deixando de fazer os acompanhamentos médicos, exames periódicos e cirurgias eletivas (que não estão sendo feitas principalmente pelo SUS).

“Estes adiamentos trazem consequências muitas vezes irreversíveis. Essas doenças quando não controladas estão complicando. Estamos vendo pacientes mais graves, complicações que víamos uma ou duas vezes por ano, agora estamos vendo a cada duas semanas. Estão fazendo pelo SUS, por exemplo, uma cirurgia de câncer, mas para você saber que você está com câncer, você precisa de uma biópsia. Se os exames não são liberados pelo SUS, como vamos saber se é câncer ou não? Os diagnósticos estão sendo postergados; os casos quando chegam pra gente estão muito mais graves do que normalmente estariam”, alerta o médico.  

Relato de superação

Alcione Silva, de 51 anos, em entrevista ao Diário do Rio Doce, contou a sua história de superação e afirma ter nascido novamente.   

“Comecei a me sentir mal, achei que poderia ser um resfriado. Fui ao hospital onde tenho plano de saúde, fizeram uma tomografia e constataram que eu estava com 10% do pulmão comprometido. Naquele momento pensei que iria ser submetida a um teste para saber se estava com covid, mas não, me mandaram para casa.

Os dias foram passando e eu só piorando. Comecei a sentir muita dificuldade para respirar, foi aí que minha filha, desesperada, solicitou o exame, que foi feito em casa. O resultado não foi outro a não ser covid. Então me encaminharam para o hospital e fizeram uma ressonância, e viram a gravidade do problema: meu pulmão estava 90% comprometido.

O desespero começou a tomar conta de mim e da minha família, porque sabíamos que eu seria entubada e as chances de sobreviver eram mínimas. Foram 23 dias na UTI Covid entre internação e entubação. Tive momentos de lucidez e pânico ao ver tanta gente saindo em um saco preto e eu sempre pensava que amanhã poderia ser eu.   

Mas os dias foram passando e eu fui melhorando, até sair da UTI e ir para o quarto. Aí pensei que estava bem, voltaria para casa e ficar bem com meus filhos, mas não foi isso que aconteceu. Mal sabia que eu iria travar uma nova batalha: a da recuperação.

As sequelas deixadas no meu corpo pela covid foram a perda da fala e dos movimentos das pernas. Estou aprendendo a falar e a andar novamente. Vou ter que passar por sessões de fisioterapia e ainda não sei quanto tempo isso tudo vai durar. A única coisa que posso afirmar diante de tudo que passei e presenciei, é: eu nasci de novo!”

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