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Estudo aborda dificuldade de acesso a tratamentos médicos no exterior e a doenças mentais no retorno

É praticamente impossível encontrar um valadarense que não tenha algum familiar ou amigo que migrou para o exterior. A migração faz parte da história da cidade e já foi objeto de diversos estudos que visam compreender suas causas e consequências. Dentre os pesquisadores que se propõem a olhar mais de perto para o fenômeno migratório, destaca-se a professora Sueli Siqueira, autora de diversos trabalhos que avaliam diferentes aspectos do tema. 

Um deles, desenvolvido desde março de 2016, busca compreender as relações entre migração e saúde, e conta com a participação de outros professores da Univale e de alunos dos cursos de Medicina e Psicologia. Com o título “Território, migração e saúde: a circulação das doenças entre origem e destino. (Leste de Minas Gerais e EUA)”, a pesquisa faz observações importantes tanto sobre a saúde física quanto sobre o desenvolvimento de transtornos psicológicos. 

Migração e circulação de doenças

A migração dos moradores da microrregião de Governador Valadares para os Estados Unidos teve início na década de 1960. Desde então, o fluxo se intensificou e se expandiu para toda a região na segunda metade dos anos de 1980. No decorrer desses 50 anos de emigração dos habitantes da região, inicialmente para os Estados Unidos e atualmente para vários outros pontos como Europa e Austrália, houve significativas transformações no território no que diz respeito ao espaço social, econômico e cultural. 

Quando as pessoas circulam entre um país e outro, carregam com elas não só o desejo de conquistar uma vida melhor, mas também tudo aquilo que constitui sua história, inclusive em relação à saúde. Governador Valadares é, por exemplo, uma área endêmica de hanseníase, doença infecciosa que afeta principalmente a pele, os olhos, o nariz e os nervos periféricos. 

“Muitas pessoas migram em estágio inicial da doença, ou abandonam o tratamento antes do fim para ir embora para outro país”, conta a pesquisadora. Com isso, a doença, que é transmitida por gotículas no ar, também circula. Apesar de ser de baixo contágio, a hanseníase pode ser transmitida, especialmente quando o paciente doente não está em tratamento.

É interessante ressaltar que os casos focados pela professora Sueli Siqueira são de migração laboral — ou seja, em busca de trabalho. Isso significa que quase sempre há o desejo de ir e voltar, e que as doenças podem, assim como o migrante, fazer o caminho inverso, de fora para dentro do Brasil. 

Acesso à saúde fora do Brasil

Outra questão importante no que diz respeito ao tema saúde e migração é o acesso aos serviços de saúde para quem vive fora do país. No Brasil, contamos com as vantagens do Sistema Único de Saúde (SUS), mas fora daqui a realidade não é a mesma. A pesquisadora explica que, além dos custos, que muitas vezes são altíssimos, ainda existe a barreira linguística.   

“Em Portugal essa situação é amenizada porque existem tratados de cooperação. Então, o brasileiro consegue ter acesso ao sistema de saúde lá, mas isso tem um custo, não é gratuito, não existe SUS. Agora, em outros países, como os Estados Unidos, a Inglaterra, a Espanha e a Itália, fica ainda mais complicado, porque além do custo alto ainda há o problema do idioma”, explica a professora Sueli Siqueira. 

Nos EUA, país que é conhecido por receber uma enorme quantidade de imigrantes ilegais, a situação se agrava ainda mais com o medo da deportação. “Eu conheci um caso de uma pessoa que quebrou o braço duas vezes, vivendo nos EUA, e que não foi ao médico por medo de ser deportado. Nas duas vezes ele ‘entalou’ o braço sozinho. Funcionou, porque era algo simples, mas não ficou completamente curado. E se fosse algo mais grave, essa recusa em procurar ajuda poderia ter tido consequências terríveis”, conta. 

A volta para o Brasil e as doenças psicológicas

Para além de acidentes e doenças infectocontagiosas, outro aspecto que se mostrou relevante nos dados levantados pela pesquisa diz respeito aos transtornos psicológicos. Infelizmente eles têm se mostrado comuns nos migrantes retornados, e muitas vezes são a própria causa do retorno.

Migrar para outro país significa deixar para trás uma zona de segurança, para embarcar em uma vida completamente nova. Esse processo de adaptação, somado às dificuldades que são enfrentadas pelos imigrantes, principalmente os não documentados, pode causar grandes traumas. Além disso, há a frustração de não atingir os objetivos originais, a distância da família, a dificuldade de integração, e uma rotina de trabalho exaustiva, que muitas vezes vai além dos limites físicos e psicológicos.

Por essas e outras questões, compreender as relações entre migração e saúde é fundamental. Afinal, a migração é um fenômeno contínuo, e suas consequências fazem parte da formação histórica, econômica e social de Governador Valadares.

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