A Fundação Ezequiel Dias (Funed), que integra o Governo de Minas, recebeu a formalização do Ministério da Saúde (MS) para ser o Laboratório de Referência Nacional para febre maculosa e outras riquetsioses. Na prática, a Fundação será a responsável por dar suporte às análises realizadas em todo o país, orientar acerca da vigilância epidemiológica e ambiental, além de capacitar profissionais para implantar esses diagnósticos. Há mais de uma década, a Funed, como Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-MG), atua como referência regional na Rede Laboratorial de Febre Maculosa e outras Riquetsioses.
Para se tornar Referência Nacional, a Funed teve que cumprir alguns critérios para habilitação estabelecidos pela Rede, como ser instituição pública; atender aos requisitos de Gestão da Qualidade – conforme o escopo do laboratório e tendo como referência as normas vigentes da ABNT, tais como NBR ISO IEC 17025 ou NBR NM ISO 15189, ou outras que venham a substituí-la; atender aos requisitos de Boas Práticas de Biossegurança, conforme legislação e outras normas vigentes; comprovar disponibilidade de metodologias adequadas ao diagnóstico do agravo, em consonância com a evolução científica e tecnológica; além de possuir equipe técnica com formação profissional e experiência compatível com a área de conhecimento para a qual pretende se habilitar.
Nos últimos meses, a Funed já vinha realizando análises e oferecendo treinamentos e capacitações para 18 estados brasileiros, além de dar suporte ao Ministério na área. A efetivação da atuação foi consolidada por meio de um ofício do órgão, recebido no dia 9 de novembro. “A Funed já atendia aos requisitos e realizava atividades compatíveis com Laboratório de Referência Nacional em atendimento às demandas do SUS de grande parte do país. Portanto, a instituição já está apta, sem a necessidade de adaptação estrutural ou treinamentos”, explica Ana Íris Duré, Referência Técnica do Laboratório de Riquetsioses e Hantavirose da Fundação.
Demanda
As principais demandas por análises nesta área são de Minas Gerais, seguida por Rio de Janeiro, Espírito Santo, Ceará, Tocantins e Goiás, sendo que cerca de 97% dos pedidos são para o diagnóstico da Febre Maculosa, 2,5% de Bartonelose e 0,5% de Febre Q. Em todo o ano de 2019 até o mês de novembro de 2020, a Fundação já processou 3.350 amostras por meio de exame sorológico e biologia molecular. Como Referência Nacional, o atendimento da Funed deve aumentar em 20%. “A Fundação já atendia outros 17 estados brasileiros além de Minas Gerais, outros três migraram nos últimos meses (Rio de Janeiro, Mato Grosso e Rio Grande do Sul) e a instituição está apta a receber material de todos os estados. Como a maior parte do país já era atendida pelo laboratório, a expectativa é de que o aumento seja pequeno”, afirma Ana Íris.
A nova posição deve aumentar o número de capacitações e treinamentos oferecidos aos demais laboratórios em análises diferenciais para outras riquetsioses e também deve ampliar o número de notificações e relatórios feitos pela Instituição. Para Ana Íris, a atuação da Funed como Referência Nacional é resultado do reconhecimento do trabalho e esforço das equipes do Serviço de Virologia e Riquetsioses e do Serviço de Vigilância de Doenças Transmitidas por Vetores, envolvidas na vigilância laboratorial deste grupo de agravos. “Esse reconhecimento beneficia diretamente a população, pois possibilita o aumento do repasse de recursos financeiros para aquisição de equipamentos mais robustos, implantação de novas metodologias e diagnósticos complementares para melhor atendimento às demandas do SUS”, afirma.
Segundo Glauco Carvalho, diretor do Instituto Octávio Magalhães (IOM), diretoria responsável pelo trabalho na Funed, a atuação na Rede está em consonância com o projeto da Fundação de fortalecer as iniciativas promovidas pelo Ministério. “O objetivo é intensificar a vigilância ambiental e epidemiológica, bem como aprimorar o conhecimento sobre as áreas consideradas silenciosas para a febre maculosa e para outras doenças transmitidas e/ou veiculadas por carrapatos no Brasil”, explica Glauco.
Relevância
De acordo com o Ministério da Saúde, a febre maculosa e outras riquetsioses – qualquer doença infecciosa causada por bactérias da família Rickettsiaceae e que são transmitidas por carrapatos, ácaros ou piolhos – têm sido registradas em áreas urbanas e rurais no Brasil. A maioria dos casos é oriunda dos estados das Regiões Sul e Sudeste. O diagnóstico clínico da febre maculosa é complexo e a sua sintomatologia se confunde com outros agravos. Assim, em casos de suspeita, o médico deverá iniciar o tratamento com antibióticos em regime de urgência até a conclusão do diagnóstico laboratorial, por isso é fundamental ter uma Rede Laboratorial fortalecida e descentralizada para o mapeamento epidemiológico da doença.