Nesta última semana vivemos um desastre muito doloroso: a catástrofe da Vale em Brumadinho foi algo repentino que mexeu com as nossas estruturas emocionais. Conversando com alguns amigos e pacientes, percebi uma fala comum a todos, a de sensação de mal estar e agonia constante após ter recebido as notícias deste desastre.
Pensando nessa relação de mal estar coletivo em momentos de catástrofe e o bombardeio de informações e imagens através das mídias, lembrei-me do impacto desse bombardeio no inconsciente coletivo.
O inconsciente coletivo é um conceito trabalhado pelo psiquiatra Carl Jung. Para ele, em nossa mente existem “arquétipos” que são considerados como dimensões básicas da humanidade: o amor, o medo, a integridade, o ego, a angústia, entre outros. São dimensões essenciais construídas ao longo de toda a história de relação do homem com que está à sua volta. Todos nós sentimos essas sensações da mesma forma, é algo inato que herdamos dos nossos pais, e estes, por sua vez, também herdaram dos seus pais. Mas, como acessamos essas sensações do inconsciente coletivo? Segundo Jung, podemos chegar até elas através de sonhos ou por sensações poucos descritivas ou elaboradas por nós.
Neste momento em que nos sentimos frágeis e comovidos ao perceber a dimensão deste evento há um grande gasto da nossa energia psíquica através do inconsciente para elaboração da desordem emocional provocada em nossa saúde mental.
Em momentos de catástrofes é comum muitas pessoas sonhando com outras formas de catástrofes ou com a perda de entes queridos. Os sonhos se tornam verdadeiros pesadelos. Não podemos deixar de considerar que isso tudo é um sinal de alerta do inconsciente coletivo nos mostrando o perigo que sempre rodeou o homem durante a sua história.
Ao nos deparar com essa tragédia, somos expostos à suscetibilidade e falibilidade da vida, o quanto ela é finita e, principalmente, essa finitude pode acontecer do modo mais imprevisível possível, ou seja, viver é nos expor a todas as sensações e sentimentos possíveis, inclusive ao perigo e à dor. Compreender essa suscetibilidade nos mostra que somos maduros, contudo, viver em estado de alerta constante, esperando que algo de ruim sempre aconteça (é como nos sentimos em momentos de crise), já é algo que nos deixa extremamente ansiosos, nervosos e, por fim, adoecidos.
E o que fica para nós? Além dos corações dilacerados das famílias que perderam seus entes queridos e que nenhuma indenização nunca irá conseguir substituir a presença, o olhar e o afeto que foi tirado de modo súbito dessas famílias, essa tragédia nos traz um aprendizado muito especial, de que devemos ao máximo aproveitar a presença de nossos amigos e familiares, dizer o quanto são importantes para nós.
Não espere que o inesperado bata à sua porta para que você possa demonstrar o afeto. Por mais que exista no próximo algo que não gostamos, devemos dar o foco em ajudar a superar as suas fragilidades e viver intensamente a alegria de estar ao lado deles; deixar isso para depois pode ser tarde demais.
Finalizando, os profissionais da psicologia social recomendam que, ao se referir aos desastres acontecidos aqui em Minas Gerais, seja dito: desastre da SAMARCO, não de Mariana. Desastre da VALE, não de Brumadinho. O motivo é de não estigmatizar as cidades e destacar em nossas consciências as empresas causadoras: é o desastre da Samarco e o desastre da Vale.
Espero que a leitura deste artigo tenha lhe ajudado. Aproveite e mostre a um amigo que necessita de uma leitura mais apropriada ao problema que esteja passando. Caso queira contribuir com críticas ou sugestões a esta coluna de comportamento escrita por Leonardo Sandro Vieira, é só contactar pelo 33-98818-6858 ou 3203-8784 ou pelo e-mail: leosavieira@gmail.com.