5º Seminário Integrado do Rio Doce abre o debate para atingidos do rompimento da barragem de Mariana

O seminário reúne, além de pessoas que foram atingidas pela tragédia, instituições de ensino, grupos de pesquisa e órgãos representativos de Valadares e região

GOVERNADOR VALADARES – Ontem (23) foi o segundo dia de debates do 5º Seminário Integrado do Rio Doce, organizado pela Universidade Vale do Rio Doce (Univale). O evento é transmitido ao vivo pelo canal da Univale no Youtube. O foco é debater questões relativas às consequências do rompimento da Barragem da Vale/Samarco/BHP, em Bento Rodrigues, no dia 5 de novembro de 2015.

O seminário reúne, além de pessoas que foram atingidas pela tragédia, instituições de ensino, grupos de pesquisa e órgãos representativos de Valadares e região.

O tema de ontem foi: “5 anos: A voz dos atingidos. Pescadores, agricultores e moradores ribeirinhos participaram da transmissão.

Moradores ribeirinhos sofrem até hoje com as consequências do rompimento da barragem de Mariana (Foto do Rio Doce)

A live foi apresentada pelo Professor e pesquisador do Curso de Direito da Univale, Pesquisador no Observatório Interdisciplinar do Território (OBIT/GIT), Diego Jean Gregório. “O cenário de incertezas nesses últimos anos se mantem, as violações e os impactos com o rompimento da barragem de Mariana se perpetuam com o tempo. Para nós é uma alegria muito grande dar prioridade ao povo, que por muitas vezes são silenciados. E nós, enquanto Universidade tem como missão institucional transformar a realidade onde a gente está inserido”, ressaltou.

Depoimentos dos atingidos

O pescador de Tumiritinga José Pavuna Neto foram um dos participantes, e criticou as tomadas de decisões da Samarco. “Sou um ribeirinho, agricultor, morador da roça, e viemos compartilhar essa desgraça com que convivemos há cinco anos. Me sinto na obrigação de falar as coisas que ocorreram e ocorrem até hoje. A Samarco nada fez. Nós, infelizmente, não temos mais certeza do que está acontecendo. Perdemos muitas coisas. A gente tem medo dessa água até hoje, não tomamos dessa água por mais que falam que ela é boa para consumo. Não sabemos em quem mais acreditar”, relatou.

A valadarense Lana Maria Soares Almeida fez o seguinte depoimento: “Está perto de completar cinco anos desse crime ambiental. E e como se nada tivesse acontecendo. A Fundação Renova fala em reparações, e até hoje a gente não vê nada de concreto. O que me deixa indignada foi o que aconteceu com os pescadores, que sobreviviam disso. Sou filha de pescador e meu pai nunca teve outra atividade que não fosse a pesca. Isso tudo se acabou, pois foi tirado de nós o Rio Doce”.

Pescadores relataram o drama do fim da pesca no Rio Doce depois do rompimento da barragem

Sr. João, morador de Conselheiro Pena, relembrou com tristeza tudo que houve no dia 5 de novembro de 2015. “Sou pescador, aquele dia foi terrível. Eu lembro do terror. Aqui em Conselheiro Pena a água da lama deixou o rio meio turvo e os pescadores ficaram sem renda. Recebi indenização, mas ainda são insuficientes, meu filho fez a entrevista e não recebeu nada ainda. Não podemos pescar ainda no rio. As nascentes estão mortas. Antigamente a gente bebia a água diretamente do rio e hoje ninguém tem mais coragem. Foi uma tragédia nas nossas vidas. Não consigo vender peixe como antes”, conta.

Continuação da Programação

O 5º Seminário Integrado do Rio Doce continua no dia 3 de novembro, às 19h30, com o promotor de Justiça Ms. Leonardo Castro Maia e os professores Dr. José Rubens Morato Leite, da Universidade Federal de Santa Catarina, e Dr. Ângelo Denadai, da Universidade Federal de Juiz de Fora, que vão debater a qualidade da água do Rio Doce, com base no relatório da Lactec (Laboratório de Análises).

No dia 4 de novembro, a partir das 18h30, os pesquisadores inscritos no evento que possuem estudos socioambientais em andamento terão a oportunidade de apresentar seus trabalhos, com a moderação da profa. Dra. Eunice Nodari. No mesmo dia, às 20h30, acontecerá o debate “Incerteza dos Desastres Minerários: da lama à pandemia”, com participação do prof. Dr. Haruf Salmen Espíndola, da Univale, profa. Dra. Marcia Grisotti, da Universidade Federal de Santa Catarina, e dos professores Dr. Ricardo Rozzi e Dra. Irene Klaver.

O penúltimo dia do evento, 5 de novembro, será a única data com uma atividade presencial. O Fórum Permanente em Defesa da Bacia do Rio Doce e a Comissão de Atingidos do Território de Valadares promoverão uma celebração ecumênica, que será realizada na Praça da Bíblia, em frente à Agência Central dos Correios de Governador Valadares, às 10 horas.

O encerramento do evento acontecerá no dia 6 de novembro, quando os pesquisadores participantes farão uma videoconferência na qual será elaborada a III Carta de Governador Valadares.

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